Não é uma decisão exclusiva da redação publicar-se uma matéria com a que foi ao ar ontem no Jornal Nacional.
42 anos de jornalismo permitem dizer que qualquer editor experiente vai puxar todas as pontas soltas e checar: é improvável dar crédito a uma declaração de que o “seu Jair” autorizou o ingresso de Élcio Queiroz, cúmplice do suposto assassino de Marielle Franco e de Anderson Gomes, sabendo que há – como a reportagem registrou, a presença de Jair Bolsonaro em Brasília.
Na entrevista que deu à Jovem Pan, o advogado de Bolsonaro disse que foi informado pelo repórter da rede Globo que havia dois depoimentos do porteiro do condomínio dizendo isso.
Mais grave: a planilha que registra a entrada de Élcio no condomínio não foi apreendida na portaria, mas no celular da mulher do acusado do assassinato, como regista O Globo, hoje:
O interesse pelos registros de entrada e saída surgiu porque em outubro, após a perícia dos celulares apreendidos com Lessa, foi encontrada uma imagem da planilha enviada a ele por sua mulher, Elaine Lessa, em 22 de janeiro deste ano. O envio ocorreu quando ambos ainda estavam em liberdade.
Elaine enviou o conteúdo a Lessa dois dias antes do depoimento dele à Polícia. Junto com a imagem que mostrava o pedido de Élcio para acessar o condomínio, Elaine escreveu: “Liga para o Élcio” e Lessa respondeu: “Ok”.
Portanto, a planilha era um problema, seja porque alegava um acesso à casa de Bolsonaro, seja porque informava um encontro entre os dois, Élcio e Ronnie Lessa.
Não há, ao que se possa ver, nenhum interesse do porteiro em fraudar a verdade. Nem é crível que ele não soubesse que suas ligações para as casas dos condôminos fossem gravadas.
O que o levaria a mentir, em dois depoimentos, sabendo que havia áudios, certamente apreendidos pela polícia, que o desmentiriam?
FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)