Partido Republicano, Aliança Liberal, Arena, PMDB, PSDB, PT. O poder sempre teve o condão de inchar os partidos adotados pelos presidentes da República. O PSL de Jair Bolsonaro veio para desafiar a história. Vá entender
Nunca antes na história deste País, diria o ex-presidente Lula, se fizesse uma análise dos fatos políticos desses últimos dias. Até hoje não se vira, no regime republicano, o partido do governo nacional diminuir de tamanho quando chega ao poder, muito menos esfacelar-se, como está ocorrendo com o PSL neste momento.
A história política e eleitoral apresenta narrativas contrárias aos fatos presentes. Sempre que pequenos partidos chegaram ao governo, receberam adesões maciças e se converteram rapidamente em grandes agremiações, com diretórios e seguidores em todo o País. Este é o exemplo histórico, agora posto à prova.
Partido Republicano
O primeiro deles a crescer turbinado pelo poder foi o minúsculo Partido Republicano dos tempos do Segundo Império. Era integrado por intelectuais idealistas como Teófilo Otoni, Ruy Barbosa, Júlio de Castilhos e levas de paulistas e mineiros ligados ao setor cafeeiro.
O partido anti-monarquista patinava desacreditado, ensanduichado entre os macistes daquela época, partidos Conservador e Liberal (este doutrinariamente republicano, mas acomodado na alternância de poder dos gabinetes da monarquia), quando estes dois foram destronados com a mudança do regime e da elite dirigente. Bastou entrar no poder com Floriano Peixoto e, logo em seguida, com as oligarquias paulistas e mineira, para se converter num gigante.
Júlio de Castilhos, do Partido Republicano
Nos tempos de D. Pedro II, os dois partidos que se revezavam no poder desde o gabinete de conciliação de Euzébio de Queiroz, em 1840, na esteira da pacificação do Golpe da Maioridade (golpe parlamentar), de uma hora para outra sumiram. O novo regime de 1889 rapidamente cooptou a elite pensante e dirigente, compondo o acordão do café com leite, simbolizando São Paulo e Minas Gerais.
Um parêntesis: a força econômica de Minas, simbolizada no leite, na verdade vinha da cultura do café, que dividia com os paulistas. Mas como os cariocas bebiam leite produzido na Zona da Mata mineira, ficou assim. E também, café com leite é bem sonoro e brasileiro.
Aliança Liberal
Os republicanos da República Velha caíram em 1930, soterrados pelo clamor das classes médias emergentes, compostas com outras forças minoritárias na Aliança Liberal de Getúlio Vargas, na verdade articulada pelo então presidente (governador) Antônio Carlos de Andrada, de Minas Gerais, traído por seu parceiro paulista, Washington Luís, abrindo a porta para seus adversários. Forças heterogêneas chegaram com Vargas ao governo e ali ficaram encantadas pelas piruetas na corda bamba pelo maior equilibrista da história do Brasil.
Getúlio teve uma corrida de obstáculos de 15 anos, sempre driblando as formações partidárias. Passou pela revolução de São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, em 1932; sobreviveu às ameaças políticas da Constituinte de 1934; e aos levantes armados da esquerda, a Intentona Comunista, e da direita, com o Putsch Integralista; instalou a ditadura castilhista do Estado Novo em 1937; e deu uma guinada liberal na II Guerra Mundial aliando-se aos norte-americanos.
PSD e PTB
Ao final, saiu do governo num golpe ameno dos militares e deixou dois partidos, PSD e PTB, que, sempre aliados, foram hegemônicos e duraram até 1966 quando foram extintos pelo AI-2 de Castello Branco.
Em todo esse processo vale lembrar que o PSD era o maior partido parlamentar do País e, no final, em 1964, o PTB inflou-se e já detinha a maior bancada federal, quando teve seus membros decepados pelas cassações de mandatos da Redentora. Então, com novo governo, veio a Arena, o partido do poder.
UDN
Getúlio Vargas, da Aliança Liberal e do PTB
Nesses tempos, junto com resíduos do PSD (UlYsses e Tancredo, dentre outros), o PTB foi o núcleo formador do minoritário MDB. Neste período, a derrotada e minoritária UDN, sempre perdedora nas urnas, formou o que viria a ser “o maior partido do Ocidente”, nas palavras de seu presidente, o ex-governador de Minas Gerais, Francelino Pereira.
Arena
Em 1970 a Arena venceu as eleições fazendo mais de dois terços do Congresso Nacional, aproveitando-se de uma estratégia suicida do MDB, que decidiu boicotar as eleições. O mesmo, em sentido contrário, ocorreu 16 anos depois, quando o MDB, então no poder, com José Sarney, fez a maioria absoluta da Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988 ao eleger todos os governos dos estados, menos Sergipe, nas águas do Plano Cruzado do ministro Dilson Funaro.
MDB
O MDB chegou ao governo num golpe de mestre (não golpe de estado, fique claro) da dupla UlYsses Guimarães/Tancredo Neves. Foi nesta onda que o MDB cresceu assustadoramente. Entretanto, Tancredo morreu e UlYsses não conseguiu assegurar a hegemonia, diante do fracasso do Plano Cruzado, hoje chamado de estelionato eleitoral.
PSDB e PT
José Sarney (Arena) e Tancredo Neves (MDB)
O presidente seguinte, Fernando Collor, não teve tempo de abrir a porta de seu partido, pois fracassou na largada, no dia da posse, com seu confisco da poupança. Na sequência, com as forças tradicionais, PMDB e PDS (sucessor da Arena) na lona, subiram os irmãos gêmeos paulistas, PSDB da ala acadêmica da esquerda, e PT, compondo sindicalistas, ex-guerrilheiros e a força poderosa da Igreja Católica do Cardeal Evaristo Arns. Ficaram mais de 20 anos no poder, derrotados pelas forças incompreensíveis da atual direita brasileira, capitaneadas pelo capitão Jair Bolsonaro.
Todos, a totalidade deles, cresceram ou incharam, conforme a análise, assim que seu líder botou os pés na rampa do Palácio do Planalto. PSDB foi o maior. Depois, o PT assumiu o pódio.
PSL
Tudo normal, como fora com seus antecessores, tanto da ditadura como na democracia. Entretanto, nem um ano depois da posse de seu candidato, o PSL começa a se esfacelar. É inacreditável.
Pode-se atribuir a debandada às muitas razões internas, às idiossincrasias da família presidencial, o que for. Mas a chamada classe política pular fora do governo, isto é novidade.
Talvez possa se explicar pela indiferença com que Bolsonaro trata as direções partidárias, a influência quase zero no seu Governo. É a única explicação dentro da história política do País.
Se não for assim, aí está um desafio para os cientistas políticos. Em vez de ficar se espantando com as atitudes raras do presidente da República, nossos acadêmicos bem poderiam abrir seus compêndios e encontrar uma resposta para esse desafio da História. Nunca antes…
JOSÉ ANTONIO SEVERO ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)