O jornal Le Monde desta quinta-feira (12) traz uma entrevista exclusiva com o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, concedida na sala de imprensa da sede da Polícia Federal de Curitiba. Dizendo se sentir bem, moralmente e fisicamente, Lula ratifica sua inocência e se diz otimista sobre sua saída da prisão. Também falou sobre a soberania do Brasil sobre a Amazônia, mas defendeu o presidente francês, Emmanuel Macron, dos insultos de Jair Bolsonaro e membros do governo brasileiro.
“Sempre tive excelentes relações com todos os presidentes franceses, de esquerda como de direita, com Chirac, Sarkozy e Hollande. Sou solidário a Emmanuel Macron, depois dos insultos contra sua esposa. Foi uma grosseria injustificável, e isso não tem nada a ver com o povo brasileiro”, afirma o ex-presidente, em entrevista ao novo correspondente do Le Monde no Brasil, Bruno Meyerfeld.
Entretanto, Lula discorda da questão evocada por Macron sobre internacionalizar a floresta amazônica. “A Amazônia é propriedade do Brasil. Ela faz parte do patrimônio brasileiro. É o Brasil quem tem que cuidar dela. Isso não quer dizer que é preciso ser ignorante, que a ajuda internacional não é importante. Mas a Amazônia não pode ser um santuário da humanidade. Lembro que 20 milhões de pessoas vivem lá, precisam comer e trabalhar. Devemos também cuidar deles, levando em consideração a preservação do meio ambiente”, diz.
Para Lula, é preciso que os brasileiros reajam e se mobilizem pela defesa da natureza. O líder petista lembra ao Le Monde que durante seu governo foram criados fundos, financiados pela Alemanha e a Noruega, para proteger a floresta, além de 144 zonas naturais protegidas, permitindo diminuir o desmatamento ilegal. “Não podemos esperar nada de Bolsonaro e seus ministros sobre essa questão”, avalia.
“Governo de destruição”
Ao ser questionado sobre Bolsonaro, Lula adota um tom cáustico, afirmando que o atual presidente brasileiro destrói a educação, os direitos dos trabalhadores e a indústria brasileira. “É um governo de destruição, sem nenhuma visão de futuro, sem programa, que não é qualificado para o poder. É por isso que Bolsonaro diz tantas besteiras, que ele insultou a esposa de Macron e Michelle Bachelet, que ele briga com Maduro. É a loucura total. E, ainda por cima, se submete totalmente a Trump. Nunca vi disso!”
O líder petista também minimiza a vitória de Bolsonaro nas últimas eleições, avaliando que discursos reacionários sempre atraíram eleitores. “Bolsonaro é, antes de tudo, o resultado de uma rejeição da política. Nesses momentos da história, nos quais a política é tão odiada, as pessoas se apegam ao primeiro monstro que encontram. É lamentável, mas aconteceu”, diz.
Apesar da forte rejeição de parte dos brasileiros, Lula não acredita que o PT deva fazer uma autocrítica. Para o ex-presidente, apesar do intenso antipetismo, a sigla consegue chegar em primeiro ou segundo lugar a cada eleição há vinte anos. “Fernando Haddad obteve 47 milhões de votos. É muito! Sim, perdemos uma eleição, é verdade. Mas perder é normal na democracia. Não podemos ganhar sempre. No Brasil, há muitos antipetistas, mas também muita gente que acredita no partido, e outros ainda que precisam ser convencidos”, afirma.
Ao comentar sua esperança de sair da prisão, Lula não poupa críticas a Sérgio Moro, quem acusa de se articular com procuradores e mentir à Suprema Corte. Mas o ex-presidente está convicto de que um dia deixará o cárcere e “que um dia as pessoas serão responsabilizadas sobre o que aconteceu neste país”.
Lula também afirma ao Le Monde não temer por sua vida, caso seja libertado. “O Brasil é um país de paz, com um povo que ama a vida. (…) Quero sair da prisão e falar com o povo. Sou um homem sem espírito de vingança, sem ódio. O ódio queima o estômago, dá dor de cabeça, dores nos pés! E eu estou bem, justamente, porque estou do lado da verdade. E, no final, é sempre ela que ganha”, conclui.
PUBLICADO PELO “SITE RADIO FRANCE INTERNATIONALE” ( FRANÇA)