O que os diálogos obtidos pelo The Intercept e divulgados na edição deste domingo da Folha comprovam, pode ser descrito, de forma resumida, da seguinte maneira: era a contragosto que Lula iria assumir a Casa Civil do governo Dilma Rousseff, não para obter o foro privilegiado – o contrário do que se induziu a opinião publica a crer e que fundamentou a decisão de Gilmar Mendes de impedir sua posse. E que, além disso, a “distração” de Sérgio Moro, ao levantar o sigilo do processo e tornar pública a gravação da ex-presidenta – pela qual “desculpou-se” com o STF – foi meticulosamente preparada por ele e pelos procuradores para obter efeitos políticos, com o aval de Rodrigo Janot, através de seu chefe de Gabinete, Eduardo Pelella.
Embora fosse do conhecimento da PF, do MP e de Moro que, em diversas conversas, Lula relutava “em aceitar o convite de Dilma para ser ministro e só o aceitou após sofrer pressões de aliados”, apenas o diálogo em que Dilma dizia que estava mandando o termo de posse assinado – o ex-presidente tinha de ir a São Paulo, ver a mulher, Marisa, adoentada à época, e combinara tomar posse apenas alguns dias depois – foi anexado ao processo e, quase que imediatamente, anexado ao processo que seria, a seguir, liberado para a imprensa.
Ou seja, o país tomou conhecimento de um “grampo selecionado”, com o qual se convenceu a muitos – e até um ministro do Supremo – que havia uma trama para dar proteção jurídica a Lula, o que todas as autoridades envolvidas no “grampo” sabiam que não existia. A trama, portanto, mais que ilegal e antiética, era uma armadilha para atirar a opinião pública contra Lula e “justificar” a absurda “condução coercitiva” realizada poucos dias antes, arrastando o ex-presidente, de camburão e tudo, para depor no Aeroporto de Congonhas, antes mesmo de ele ter sido, sequer, intimado a prestar declarações sobre as acusações que sofria.
O que as gravações revelam, se é que ainda havia alguma dúvida nisso, é que o processo contra Lula foi conduzido descaradamente como uma conspiração entre Polícia Federal, Ministério Público e o então juiz Sérgio Moro.
Os procuradores comentam abertamente que a manipulação poderia trazer problemas para o juiz, mas que “filigranas jurídicas” não iam importar perto do “contexto político” e chegaram a falar sobre maneiras de reagir, caso se fizessem objeções aos atos de Moro, desde uma “renúncia coletiva” até um pedido de prisão do ex-presidente, como formas de criar comoção popular.
Era uma quadrilha em ação. E ainda é.
FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)