Há indícios de que o procurador Deltan Dallagnol possa ter sido corrompido pela empresária Patricia Tendrich Pires Coelho, para levantar as investigações de que poderia ter sido alvo na Lava Jato e aliviar sua situação. Há indícios veementes do cometimento de crime, que só poderão ser elucidados com a abertura de um inquérito isento.
Não se trata mais de um caso para a corregedoria, mas de uma suspeita de cometimento de crime.
Para casos complexos, o MPF trabalha com uma técnica batizada de “teoria do fato”. Consiste em levantar uma hipótese para determinados fatos e, depois, ir colocando nela as informações que vão sendo levantadas. A teoria pode se confirmar ou ir se alterando, à luz das novas informações.
Teoria do fato do caso Patricia
Sabendo que poderia entrar na alça de mira da Lava Jato, Patrícia Coelho procurou Deltan Dallagnol e ofereceu dinheiro para que ele pudesse informá-la sobre as investigações em andamento e, eventualmente, atuar em sua defesa. Dallagnol aceitou.
Há um conjunto forte de evidências apontando nessa direção.
Evidência 1 – os envolvimentos de Patrícia
Segundo sua versão, Deltan Dallagnol conheceu a empresária Patrícia Tendrich Pires Coelho em uma “viagem”. Ela imediatamente se apresentou como defensora da luta anticorrupção e ofereceu R$ 1 milhão para o Instituto MUDE.
A empresária está ligada a dois esquemas de corrupção investigados pelo Ministério Público Federal.
- Os contratos da Petrobras.
Uma de suas empresas arrendava navios para a Petrobras.
- 2-A MP dos Portos
Ela é o elo de ligação entre duas empresas diretamente envolvidas com o escândalo da MP dos Portos – a Libra e a Brasil Santos, de Daniel Dantas.
A Lava Jato começou em fins de 2014. O contato de Deltan com a empresária foi em agosto de 2016.
A MP dos Portos foi votada em maio de 2013. Na própria votação surgiram denúncias de corrupção. A denúncia contra Michel Temer foi aceita em setembro de 2017. O que significa que, quando ocorreu o tal encontro fortuito, as investigações já estavam em adnamento.
Evidência 2 – o “encontro fortuito”
Em geral, chega-se à verdade buscando o inverso da mentira. Em outras palavras, toda mentira procura esconder uma verdade. A primeira informação de Dallagnol sobre Patricia é que a conheceu em uma “viagem”, em um encontro fortuito.
Segundo a reportagem de Apublica, no dia 29 de junho de 2016, em um grupo de WhastApp do Instituto MUDE, Dallagnol diz que conheceu Patricia em uma viagem, sem dar mais detalhes. E atribui o encontro a Deus. “Caramba. Essa viagem de ontem foi de Deus. Além dela, estava um deputado federal que se comprometeu a apoiar rs”.
Mesmo que tivesse sido um encontro fortuito, já se conhecia o chamado modus operandi de empresários como Eike Baptista e Daniel Dantas, de forçar encontros fortuitos. Como coordenador da Lava Jato no Paraná, Dallagnol não pode ser taxado de inexperiente.
Evidência 3 – foi alertado sobre a ficha de Patrícia
Em benefício da dúvida, se poderia acreditar na boa fé de Dallagnol, sendo enganado por uma espertalhona. Ocorre que ele foi avisado de sua ficha. Dois meses depois do encontro, quando se discutia a formalização do Instituto MUDE – essencial para receber a contribuição – consultor Hadler Martins, da Price Waterhouse, informou diretamente Dallagnol sobre a ficha da moça.
“Talvez vocês já tenham feito isso mas sobre nossa investidora anjo, dei uma boa pesquisada sobre seu histórico e realmente ela parece ser uma grande empresária multimilionária e com grande trânsito com grandes empresários nacionais. Hoje ela é sócia de empresa de frotas de navios (Aasgard) e de mineração e portos (Mlog). Algumas coisas que me chamaram atenção: – sua empresa fornece navios para a Petrobras; – ela é ex-banco Opportunity (famoso Daniel Dantas) – ela foi ou é muito próxima do Eike Batista e também do André Esteves (BTG)”.
Ou seja, não poderia levantar mais o álibi da ignorância.
No dia 11 de setembro, o alerta foi reiterado por Hadler. A reação de Dallagnol foi de minimizar novamente as informações: “Boa Hadler. Mais cedo ou mais tarde descobriremos isso”.
Evidência 4 – Dallagnol levantou a informações solicitadas
Em seguida Dallagnol procura o colega Roberson Pozzobon pedindo informações sobre a moça. Seu álibi, junto a Pozzobon, era justamente a versão de que o encontro com ela fora fortuito. Por aí se entende a ênfase de Dallagnol de levantar a história do encontro casual.
Evidência 5 – Patricia foi poupada
Em julho de 2019 a Lava Jato denunciou todos os sócios da Asgaard, o ex-senador pelo PMDB Ney Suassuna e Georgios Kotronakis – filho do ex-cônsul honorário da Grécia no Rio de Janeiro, Konstantinos Kotronakis.
Menos Patrícia, a empresária que se encontrou fortuitamente em uma viagem com Dallagnol.
As evidências levantadas colocam sob suspeição não apenas Dallagnol, mas toda a estrutura da Lava Jato.
O procurador responsável pelo inquérito foi Athayde Ribeiro Costa.Neto
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)