As pretensões político-eleitorais e megalômanas de Deltan Dallagnol transbordam nos diálogos revelados na 19ª publicação do The Intercept , nas quais o coordenador da Lava Jato diz que teria eleição garantida ao Senado pelo Paraná, mandato do qual diz ter desistido porque arriscaria com isso a imagem da Operação e também por razões menos nobres: ” ganha menos, tem menos férias, fica tomando pedrada na vitrine num jogo de mentiras”, como disse à também procuradora Luciana Asper Valdir:
—A verdade é que quero em minha vida, em primeiro lugar, servir a Deus, e a Bíblia coloca que a vida do cristão é como o vento, que não sabe para onde vai. Se um dia decidir tentar, é porque entendi que é o melhor modo de servir a Deus e aos homens e por puro espírito público, porque vontade não tenho, Lu.
Falta de vontade não transparece, porém, eu outros diálogos em que se jacta de ser o virtual vencedor da disputa:
“Tenho apenas 37 anos. A terceira tentação de Jesus no deserto foi um atalho para o reinado. Apesar de em 2022 ter renovação de só 1 vaga e de ser Álvaro Dias, se for para ser, será. Posso traçar plano focado em fazer mudanças e que pode acabar tendo como efeito manter essa porta aberta”, escreveu, em 29 de janeiro de 2018, numa longa mensagem enviada para ele mesmo” descreve o Intercept.
A menção a Álvaro Dias, um áulico da Lava Jato, é porque, provavelmente, o senador tentará a renovação do mandato que se encerra em 22.
E não era apenas um projeto pessoal , mas corporativo:
[Procurador Wladimir] Aras – 13:09:38 – Vc se elege fácil e impede um dos nossos inimigos no Senado: Requiao ou Gleisecaem
Dallagnol – 13:29:56 – Não resolve o problema. Ajuda se o MPF lançar um candidato por Estado. Seria totalmente diferente e daria trabalho, mas pode ser uma das estratégias para uma saída.
Dallagnol – 13:30:22 – No PR não precisaria ser eu rs, mas eu apoiaria fortemente essa rede de candidatos
Dallagnol – 13:30:44 – Ou pensamos alguma saída maluca, ou estamos ferrados
Aras – 13:45:12 – Vc e Moro
Aras – 13:45:14 – Ou Carlos [Fernando dos Santos Lima, outro dos chefes da Lava Jato]
Há vários outros diálogos, que mostram como o desdobramento eleitoral da Lava Jato era tratado naturalmente pelos procuradores, embora, tal como a magistratura, está impedida de ação politico eleitoral, tanto que para que um de seus integrantes candidatar-se tem de, obrigatoriamente, demitir-se do cargo.
Algo que, aliás tentaram mudar.
FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)