GRIPE AVIÁRIA: OS RISCOS PARA O BRASIL

CHARGE DE FRAGA ” ZERO HORA / RS)

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O caso de gripe aviária no Rio Grande do Sul, no município de Ontenegro, na região da Grande Porto Alegre, que já levou a China, o maior comprador de carnes de aves do Brasil a suspender as compras de carnes de frango brasileiras por 60 dias (medida repetida pela União Europeia), é grave. E pode ser gravíssimo, caso o surto de gripe não ficar restrito a regiões afetadas no estado gaúcho e se espalhar por Santa Catarina e Paraná.

O Brasil lidera as exportações mundiais de frango (US$ 9,928 bilhões) e de carne bovina (US$ 12,8 bilhões no ano passado, dos quais 60% para a China).Com um plantel em torno de 1,5 bilhão de aves (atrás dos Estados Unidos) somos o maior exportador de carne de frango (5,3 milhões de toneladas). A China é também o nosso maior comprador (562 mil toneladas no ano passado).

Mas, se a dependência da China é grande na carne bovina (porque houve forte crescimento nos últimos 10 anos, depois que a gripe suína africana abateu mais de 40% do rebanho suíno chinês, num país de 1,400 bilhão de habitantes que escolhiam a carne de porco como a principal fonte de proteína animal), no caso do frango, o mercado é mais diversificado.

Os Emirados Árabes Unidos foram o segundo maior comprador em 2024, com 455,1 mil t., seguido do Japão (443,2 mil t.), Arábia Saudita (370,8 mil t.), África do Sul (325,4 mil t.) e Filipinas (234,8 mil t.). Mas todos os mercados mundiais de proteínas animais estão sujeitos a inspeções sanitárias rigorosas.

O RS tem o 4º plantel de aves do Brasil e é o 3º exportador. A liderança é do Paraná, com cerca de 38,5% do total, seguido por Santa Catarina (12,9%) e Goiás. O estado gaúcho praticamente empata com o Estado de São Paulo em volume, mas SP se destaca em galinha poedeiras para abastecer sua enorme população. Por ser palco de migrações de aves para os banhados do litoral e no entorno da Lagoa dos Patos, o estado gaúcho é o mais exposto a gripes aviárias, como a que ocorreu em 2023. Por isso, o rigor do Ministério da Agricultura. O lado bom da crise é que a carne de frango vai baixar de preços e deverá puxar para baixo os valores da carne bovina.

No ano passado um surto de gripe aviária nos EUA abateu mais de 40% do plantel de galinhas poedeiras e provocou uma escalada nos preços dos ovos que contaminou o Brasil. Grandes grupos nacionais passaram a desviar parte da produção para lá desde o fim do ano passado. O grupo JBS, maior produtor e exportador de carne bovina e de frango do mundo comprou a Ovos Mantiqueira-MG em setembro do ano passado e o Grupo Faria, maior produtor nacional de ovos (em SP e GO) comprou a espanhola Huevos no fim do ano passado e a americana Globbal Eggs este ano.

Marfrig e BRF ameaçam JBS

A consolidação dos grandes grupos empresariais no mercado de proteína animal, liderado pela brasileira JBS, que opera forte nos Estados Unidos e nos principais mercados do planeta, ganhou um novo capítulo hoje com a proposta de fusão entre a Marfrig, grande produtora/exportadora de carnes boniva e suína com a BRF, a maior exportadora brasileira de carnes de frango e de comida processada.

No futuro, a fusão, que valorizou em 20% as ações da Marfrig na B3, contra apenas 2% para os papéis da BRF, pode consolidar a expansão da venda de proteínas pelo Brasil no mundo. A BRF tem tradição de presença no Oriente Médio, na África e na Ásia.

A produção de frango, suínos e mais recentemente a carne bovina terminada em centros de confinamento, nada mais é do que a transformação de proteínas vegetais (milho, soja e outros grãos, como farelo de trigo, arroz e caroço de algodão) em proteína animal, é a evolução da agricultura integrada, que agrega mais valor aos produtos finais, por envolver a agroindústria. Por isso mesmo são fundamentais o rigor no controle das zoonoses e a assepsia completa nos locais de abate e de retalho das carnes para embalagem na exportação.

Itaú reduz em 1 ponto meta da Selic

Cenários são para serem mudados. Mas vejam como o pessimismo do Itaú em relação a algumas previsões macroeconômicas para o Brasil, mudou. Em 16 de fevereiro previa que o dólar ia fechar 2025 em R$ 5,90, o IPCA atingiria 5,8% e o Banco Central, para tentar conter as expectativas inflacionárias elevaria a taxa Selic (que estava em 14,25% desde 29 de janeiro) para 15,75% até o final do 1º semestre (a última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central é em 18 de junho). Para o PIB, o Itaú previa 2,2% este ano e 1,5% em 2026, quando a inflação cairia para 4,5%, com o dólar em R$ 5,90 e a Selic em 13,75%.

Nem bem se passaram quatro meses, o Itaú reavaliou hoje (16 de maio) o cenário: O IPCA, que tinha sido reduzido para 5,5% em abril, foi mantido, assim como as projeções do PIB (2,2% este ano e 1,5% no ano que vem. Mas o dólar agora é estimado em R$ 5,75 no final deste e do próximo ano, quando o IPCA cairia para 4,40% em 2026 (dentro do teto da inflação 3,00%+1,50% de tolerância=4,50%). A grande diferença é que a Selic fica parada em 14,75% até o primeiro trimestre de 2026, fechando o ano em 12,75%.

O que se espera do 1º trimestre

Com os dados de serviços de março (+0,3% na Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE) e do aumento de 0,8% nas vendas do comércio no mesmo mês (segundo a PMC do IBGE), Bradesco e Itaú estão prevendo, com o empurrão da safra agrícola, um crescimento de 1,8% para o PIB do 1º trimestre. O IBGE divulga os dados dia 30 de maio e o Banco Central apresenta na segunda-feira, 19 de maio, os números do IBC-Br, que vem a ser a prévia do PIB do BC.

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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