As manchetes, claro, giram em torno do número principal: 38% avaliam mal o presidente Jair Bolsonaro, reprovando o conjunto de sua “obra”, e tornando-o historicamente o proprietário do pior índice de avaliação na vigência do primeiro mandato, desde a redemocratização do país. Um aspecto, porém, o difere dos demais. O motivo que o joga ladeira abaixo. Direcionando a lupa para os itens que medem as opiniões sobre o seu comportamento, vê-se que o seu desempenho despenca, apontando para um aspecto que todos já sabiam, mas 57 milhões fizeram questão de ignorar. O seu despreparo para o cargo.
Subiu de 25% para 32% os que o consideram inadequado para a função. Do mesmo modo, dos 22% entusiastas com o seu comportamento, 7% já recolheram as bandeirolas da torcida e 44% dizem não confiar em nada do que o presidente fala. Apenas uma parcela ínfima: 19%, lhe dão crédito e, 88% dos 2.878 entrevistados em 175 cidades, não acharam graça nenhuma em sua escatologia explícita. Há sempre aquela turma de 2% que não têm opinião formada sobre nada. Apenas toca a vida, como se governo fosse algo para ser comentado apenas por repórteres de TV engravatados e não influísse decisivamente em suas vidas.
O ponto a se observar, no entanto, é que Bolsonaro, tal como fez com os números do INPE, que acabaram por torrar a sua popularidade na crise das queimadas amazônicas, prevista pela Instituição que ele teimou em desmentir, o quesito responsável pelos números em queda e com viés de mais queda, só pode ser alterado por ele mesmo. E, mais uma vez, num espetáculo de fuga da realidade, arrogância e prepotência, Bolsonaro, na impossibilidade de sopapear os responsáveis pela publicação dos números, distribui murros contra os números que ele próprio produziu.
Nesta hora, o seu maior sonho era ter em torno de si a bancada de entrevistadores do Glenn Greenwald, do programa da TV Cultura, o “Roda-Viva”, a lhe afagar o ego e defender a sua imagem. (Ainda que no dia seguinte, como de costume, ele pusesse tudo a perder, com alguma frase de efeito dita na jaulinha reservada aos repórteres de plantão no Planalto). Bolsonaro deveria começar a pensar em contratar aquele conjunto de “jornalistas” para compor a sua assessoria. Ele não precisaria cair em si, e mudar suas atitudes. Com eles sua vida – e seu clipping – seriam “só festa”.
DENISES ASSIS” ( BLOG 247″ ( BRASIL)