
CHARGE DE CAMPAIGNING ( ITÁLIA)
Bilionário promoveu diversas e rápidas mudanças, que além de colocar medo nos próprios colegas de partido, deixaram o mercado e oposição anestesiados
O programa Observatório da Geopolítica estreou, na última segunda-feira (6), na grade diária da programação da TVGGN com uma análise sobre os primeiros 100 dias de governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Para debater o desempenho do bilionário na Casa Branca, o apresentador e doutor em Ciência Política Pedro Costa Junior recebeu Tatiana Teixeira, pesquisadora do INCT-INEU e editora-chefe do OPEU, e Tadeu Valadares, embaixador aposentado e ex-diretor do Departamento de Direitos Humanos e Temas Sociais.
Para Tatiana, os 100 primeiros dias do novo governo Trump pareceram mais de 200 anos, tendo em vista a velocidade e a quantidade de mudanças promovidas pelo chefe de Estado que tomou posse em 20 de janeiro.
“O caos é uma ferramenta política disruptiva. Essa é uma dinâmica de gestão”, apontou a pesquisadora. “É uma dinâmica de gestão que tem o objetivo de atordoar, de desnortear, de disseminar o medo. E isso seja entre a população, seja nas instituições, seja entre os atores políticos. E aí eu incluo os correligionários de Trump”, afirma Tatiana.
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Isso porque vários políticos republicanos admitiram, em entrevistas, que temem sofrer perseguições, não apenas do público em geral, mas também do Congresso, de governadores e do Departamento de Justiça, que tem sido bastante ativo neste governo.
“A gente viu o 6 de janeiro, com o Trump incitando a violência do eleitorado dele. Então, a gente começa com um governo sem transparência, que intimida as agências, as burocracias”, ressalta a especialista, que aponta o uso da máquina por Trump para vingança pessoal, misturando questões particulares com o interesse público.
Para conter este tipo de política, que na visão de Tatiana deve se manter por mais algum tempo, é preciso que outros atores consigam criar um dique de contenção para conter ou impedir os abusos do governo norte-americano.
No entanto, assim como os republicanos, os democratas também têm medo de agir e parecem anestesiados, na avaliação da pesquisadora.
“Imprensa e universidades também demoraram a reagir, porque logo que Trump assumiu, o dia da posse, isso ficou muito visível. Trump foi abraçado, naturalizado, absorvido pela imprensa, pelas universidades, como se todo esse processo tivesse sido, embora tenha sido democraticamente eleito”, acrescenta ela.
Até o setor financeiro demorou a se posicionar contra medidas extremas de Trump, a exemplo do aumento de impostos aplicados a diversos parceiros comerciais. “Aí veio o tarifaço, que foi avançando numa escalada bizarra. As bolsas despencaram, a economia americana teve o seu pior desempenho trimestral desde 2022, ainda na pandemia. Então sim, a economia em uma situação ainda difícil, se recuperando, a confiança do consumidor caiu, o americano parou de comprar, lembrando que o consumo é o principal motor da economia nos Estados Unidos.”
Diante de tais medidas, Tatiana aponta a fragilidade da gestão do bilionário, que atingiu desaprovação recorde, ainda que Trump tente negar as evidências, alegando que a desaprovação seria uma notícia falsa.
Crise
Já para Tadeu Valadares, os EUA estão em uma crise monumental, que ele também descreve como uma ‘clara decadência relativa’. “Essa crise, que é uma crise de decadência relativa, tem o seu início lá atrás, no início do século. Mas ela é turbinada pela grande recessão de 2007, 2008, e pela pandemia de 2019. Para mim, essas duas faces juntas, articuladas, tensionadas, sinalizam a exaustão do que certos analistas chamam de o capitalismo improdutivo.”
“É a exaustão de um esquema que foi montado nos Estados Unidos e que é o de que as forças, digamos, da financeirização. Elas são hegemônicas, mas elas são hegemônicas em associação com outras forças, por exemplo”, acrescenta Valadares.
Confira a entrevista na íntegra em:
ANA GABRIELA SALES ” JORNAL GGN” ( BRASIL)