O FIM DO PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO

CHARGE DE LORENZO

Cada embate que o governo se recusa a encarar significa mais perda de poder. Se encarasse, resultaria em chantagem de impeachment

Publicado em 25 de abril de 2025, 7:10

O Estadão tem razão em um editorial recente: “O presidencialismo de coalizão morreu”. De fato, tornou-se o modelo político totalmente disfuncional. Gradativamente o Executivo foi se tornando refém do Centrão até que, com o impeachment, assumiu Michel Temer, uma das lideranças do baixo clero.

Completou-se o quadro com o governo militar de Jair Bolsonaro, praticamente entregando o controle do orçamento ao Centrão, para impedir outra manobra de impeachment.

Seguiu-se um desmonte terrível do Estado brasileiro, interrompido pela derrota de Jair Bolsonaro em 2022, e pela ascensão de um novo governo Lula.

Apesar da manipulação recorrente da mídia, Lula sempre foi um governo de composição. No começo de carreira era um sindicalista, que no máximo sonhava com um modelo semelhante ao da Alemanha da social-democracia, com os trabalhadores participando da gestão das grandes empresas e políticas compensatórias que ajudariam a aliviar a enorme pressão do modelo sobre as populações vulneráveis. Lula ajudou a humanizar e a civilizar um pouco o capitalismo brasileiro, valendo-se dos instrumentos criados por Fernando Henrique Cardoso, de distribuir parte do poder de Estado ao Congresso para poder exercer o poder da Presidência nas políticas centrais.

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Deu certo no primeiro e no segundo governo, ajudado por uma explosão nos preços das commodities. Começou a falhar no governo Dilma, quando se reduziram as expectativas de crescimento e entrou em quadra a enorme conspiração que descrevo no livro “A Conspiração Lava Jato”.

A volta de Lula deu-se em um quadro do Congresso controlando grande parte do orçamento, grupos políticos em chantagem clara para conquistar espaço, e o loteamento de Ministérios e estatais, sem assegurar condições políticas para o governo.

O resultado é um processo gradativo de desgaste. Cada embate que o governo se recusa a encarar significa mais perda de poder e de influência. Se encarasse, provavelmente a chantagem resultaria em um novo processo de impeachment. O clássico se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Assim, mesmo que Lula se candidate em 2026 e consiga a reeleição, cada dia de vida nunca é mais, é sempre menos. Ou seja, seriam mais quatro anos de retrocesso, de anomia, de captura do orçamento pelos deputados, provavelmente fortalecidos pelo aumento da bancada do Centrão no Senado. Em algum momento do futuro a corda da frágil democracia brasileira arrebentará.

Como o nó górdio será rompido? No limite, sempre aparece o Sr. Crise determinando os novos rumos. Mas quem estará cavalgando as bestas do Apocalipse? Um político eleito e prometendo combate ao Congresso? Um déspota esclarecido ou, pelo histórico brasileiro, outro déspota terraplanista? Um Tarcisio cavalgando as milícias da Polícia Militar paulista, comandadas pelo sanguinário Derrite?

Se não tivesse se queimado com seus atos impensados, diria que o futuro reservaria um lugar para Ciro Gomes e seus arroubos. De qualquer modo, o discurso de Ciro se tornará cada vez mais dominante, sabe-se lá em que boca.

E essa caminhada não será detida com inauguração de obras, com entrevistas para rádios do interior. Enquanto não se conseguir desenhar um futuro, ainda que utópico, a desesperança alimentará a futura tragédia política.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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