
Passava pouco das 8h00 de 14 de março de 2013, dia seguinte à sua eleição como papa, quando Francisco saiu do Vaticano para ir rezar a Nossa Senhora na basílica de Santa Maria Maior – “a igreja mais antiga e imponente dedicada à Virgem”, em Roma. Transportado num carro dos carabinieri e não no carro oficial, o papa argentino deixou um ramo de flores a Nossa Senhora, visitou a capela de Santo Inácio de Loyola e rezou no túmulo de Pio V. À saída, surpreendeu um grupo de estudantes com uma saudação e seguiu até à Casa Internacional do Clero, onde estivera hospedado antes do Conclave. A imagem de Jorge Mario Bergoglio a pagar a despesa ao balcão deu a volta ao mundo, num símbolo de simplicidade que contrastava com o seu antecessor, Bento XVI. Ou não fosse o papa alemão conhecido pelos sapatos vermelhos e os chapéus – do camauro (boné vermelho parecido com o do Pai Natal) ao Saturno ( chapéu vermelho popular entre o clero no século XVII).
O despojamento de Francisco marcou o seu pontificado do primeiro ao último dia. E o jesuíta tomou todas as medidas para que se perpetuasse depois da sua morte. Em novembro de 2024, mudou os ritos para “mostrar que o funeral do pontífice é o de um pastor e discípulo de Cristo, e não o de um poderoso deste mundo”. Deixou cair a tradição de os chefes da igreja católica serem sepultados em três caixões e permitiu que possam ser sepultados fora do Vaticano – o que não acontecia há mais de um século. Há muito que o papa argentino manifestara o desejo de ser sepultado na igreja de Santa Maria Maior, situada no monte Esquilino, num bairro multicultural de Roma, com uma grande comunidade imigrante, sobretudo da Ásia e do Norte de África. No seu testamento pediu que o seu túmulo “deveria estar no chão; simples, sem ornamentação particular, ostentando apenas a inscrição: Franciscus.”
Antes de ser papa, nos seus tempos de bispo em Buenos Aires, Bergoglio já se destacava pelo trabalho com os mais pobres. Outra fotografia dele que deu a volta ao mundo data de 2008 e mostra o filho de imigrantes italianos numa carruagem do metro da capital argentina. Um apego à austeridade que também lhe inspirou o nome como papa, uma homenagem a São Francisco de Assis – “o homem da pobreza, o homem da paz que ama e protege a criação”, explicou na altura. Numa das suas primeiras audiências, diante de 5000 jornalistas, Francisco garantiu: “como eu gostaria de uma igreja que fosse pobre e para os pobres”.
Neste sábado, os olhos do mundo vão estar postos na praça de São Pedro, onde líderes políticos e religiosos se vão juntar aos milhares fiéis num último adeus ao papa que quis ser “apenas um homem”.
HELENA TERCDEIRO ” DIÁRIO DE NOTÍCIAS” ( PORTUGAL)
Editora-executiva do Diário de Notícias