A ENTREVISTA DO MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES À REVISTA NEW YORKER

CHARGE DE AROEIRA ” BLOG BRASIL 247″

Em declarações inéditas, ministro do STF detalha tentativa de golpe e não poupa críticas à falta de regulação das mídias sociais; confira

Em entrevista exclusiva à revista norte-americana The New Yorker, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes teceu duras críticas ao que classificou como o “novo populismo digital extremista“. Na reportagem, assinada pelo jornalista Jon Lee Anderson, conhecido por seus perfis de líderes políticos, o magistrado expôs sua visão sobre a ascensão da extrema-direita e os desafios que as mídias sociais impõem à estabilidade democrática.

De acordo com o texto de Anderson, Moraes iniciou sua análise traçando um paralelo histórico, remetendo à Primavera Árabe para ilustrar o momento em que a extrema-direita percebeu o poder de mobilização direta das mídias sociais, “sem intermediários“. Ele lamentou que algoritmos inicialmente pensados para fins econômicos tenham sido facilmente “redirecionados para o poder político“, elevando as mídias sociais ao patamar de “força definidora do nosso tempo“. 

A comparação estabelecida com Joseph Goebbels, o infame ministro da propaganda nazista, é impactante: “Se Goebbels estivesse vivo e tivesse acesso a X, estaríamos condenados. Os nazistas teriam conquistado o mundo.”

Moraes também comentou a estratégia da extrema-direita, que almeja o poder “não dizendo que se opõe à democracia, porque isso não obteria apoio público, mas alegando que as instituições democráticas são manipuladas”. Para o ministro, essa tática configura um “populismo altamente estruturado e altamente inteligente”, que “infelizmente, no Brasil e nos EUA, ainda não aprendemos a reagir”.

 Tudo que você precisa saber. Todos os dias, no seu e-mail.

Assine nossa newsletter para não perder os principais fatos e análises do dia.

Segundo ele, essa manipulação de discursos pela extrema-direita é um “feito impressionante de lavagem cerebral” em um “nível inimaginável”.

A tentativa de Golpe de Estado

Conforme o relato de Anderson, Moraes lhe concedeu mais de uma entrevista, sendo uma delas feita no fim do ano passado e outra mais recente. Em uma dessas conversas, ao refletir sobre os eventos recentes no Brasil, particularmente a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, Moraes expressou surpresa sobre os riscos que corria o Estado Democrático de Direito: “Nem meus colegas nem eu poderíamos ter previsto que a democracia brasileira estaria em risco”, confidenciou.

O ministro do STF detalhou a tensão dos momentos cruciais após a invasão da sede dos Três Poderes, em Brasília, orquestrada por apoiadores do então ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inconformados com sua derrota eleitoral para o presidente Lula (PT). As investigações posteriores revelaram que a ação representou um dos últimos atos de uma tentativa de golpe de Estado, supostamente arquitetada pelo governo Bolsonaro e seus aliados.

“O maior risco era a possibilidade de um efeito dominó. As forças policiais militares de outros estados — algumas das quais apoiavam Bolsonaro — também se rebelariam? Certos governadores apoiariam a tentativa de golpe?”, questionou Moraes. Diante da iminente ameaça, o ministro descreveu sua ação imediata: “Eu tive que agir imediatamente, no meio da noite.” A resposta, segundo ele, enviou uma mensagem clara: “Não toleraremos o caos no Brasil“.

Já ao ser questionado pelo repórter sobre a real dimensão do perigo, Moraes foi categórico: “Definitivamente havia um risco. E ainda há”.

O ministro também abordou o plano, parte da trama golpista, que visava sua “neutralização”. “Eu brinco com a minha equipe de segurança que eu não poderia morrer. O herói do filme tem que continuar“, afirmou.

Bolsonaro no poder?

Ao discorrer sobre as investigações em andamento acerca da tentativa de golpe, Moraes desconstruiu a narrativa bolsonarista de perseguição política, enfatizando que a recente acusação contra Bolsonaro e seus aliados não partiu apenas da Polícia Federal (PF), mas também da própria Procuradoria-Geral da República (PGR).

Sobre o futuro político de Bolsonaro, o ministro reconheceu a possibilidade de absolvição na esfera penal, mas foi categórico quanto à sua inelegibilidade: “Ele tem duas condenações do Tribunal Superior Eleitoral por inelegibilidade. Então, não há possibilidade de seu retorno — porque ambos os casos já foram apelados e agora estão no Supremo Tribunal Federal. Somente o Supremo Tribunal Federal poderia revertê-los, e não vejo a menor possibilidade de isso acontecer“.

O ministro ainda minimizou a influência da família Bolsonaro sem a liderança do ex-presidente: “nenhum deles — sejam seus filhos ou sua esposa — tem a mesma relação com as Forças Armadas que ele tinha“.

EUA só fará efeito se “porta-aviões chegar até o Lago Paranoá”

Ao longo da entrevista, Moraes reafirmou diversas vezes sua preocupação para o poder avassalador das mídias sociais, que se tornaram “agora o maior poder de todos”, influenciando eleições com sua vasta receita de publicidade. 

Ao comentar o enfrentamento digital que incluiu o bloqueio de redes sociais como Telegram, X e, mais recentemente, Rumble, ele criticou a postura das plataformas que “não querem respeitar a jurisdição de nenhum país, porque, na realidade, eles buscam ser imunes às nações“.

Apesar de ser alvo de ações nos EUA movidas pela empresa de mídia de Trump, a Trump Media, e o Rumble, o ministro demonstrou despreocupação com a pressão internacional, especialmente dos Estados Unidos: “Eles podem entrar com ações judiciais, podem fazer Trump falar. Se mandarem um porta-aviões, aí veremos. Se o porta-aviões não chegar ao Lago Paranoá, não vai influenciar na decisão aqui no Brasil“.

A reportagem ainda contou com entrevistas do presidente Lula, deputada Tabata Amaral (PSB-SP), do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), além de relatos da jornalista Patrícia Campos Mello. O perfil também será publicado na edição impressa da revista da próxima segunda-feira (14) da revista, com o título “Homens Fortes”.

ANA GABRIELA SALES ” JORNAL GGN” ( NOVA YORK / BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *