BOLSONARO DESTILA EM COPACABANA O ” JUST SPERNIANDI” CONTRA O SUPREMO

CHARGE DE MIGUEL PAIVA ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)

Caro leitor, aqui uma explicação preliminar para não ser acusado de plagiar meu prezado colega e amigo Ricardo Noblat, que abriu, sexta-feira, 14 de fevereiro, em seu Blog no site “Metrópoles”, uma nota que começava com o tema do título que tinha já preparado para esta coluna, em rascunho de quinta-feira. Como expliquei a Noblat, temos a mesma sintonia política sobre o ato (desesperado) de Bolsonaro e sua gente este domingo na praia de Copacabana. Os organizadores, primeiro, não falavam em número. No meio da semana, citavam 500 mil como meta. E, na quinta-feira, uma nota do “Broadcast”, site de notícias online do grupo “Estadão”, inflava para 1 milhão. Creio que, com todos os esforços do pastor Silas Malafaia, que arrebanha os fiéis da Assembleia de Deus Vitória em Cristo no Grande Rio, e do PL, vai ficar muito abaixo da multidão que Bolsonaro reuniu na mesma praia de Copacabana no 7 de setembro de 2022. Na época, brigava voto a voto com Lula nas pesquisas nacionais, mas vencia disparado no Rio de Janeiro (na capital, venceu por 52,66% contra 47,34% de Lula nos votos válidos). Novamente, o ato será precedido por uma “motociata”, mas o cenário será bem diferente.

Michelle Bolsonaro, em recuperação de procedimento estético nos feriados do Carnaval, não vai. Bolsonaro não tem mais o poder federal nas mãos e está sob a mira do Supremo Tribunal Federal, contra o qual tanto açulava o povão em seus comícios em Brasília, no Rio ou na Avenida Paulista, em especial contra o ministro Alexandre de Moraes, que acumulava a presidência do Tribunal Superior Eleitoral. No 7 de setembro de 2022, o então chefe do Executivo usou o bicentenário da Independência do Brasil como ato de campanha. Queria atrair o tradicional desfile das Forças Armadas da Avenida Presidente Vargas para as pistas da Avenida Atlântica, com a imagem de que controlava as FFAA. O Exército recusou. Mas, aviões da Esquadrilha da Fumaça sobrevoaram a praia soltando fumaça verde e amarela. E navios da Marinha estavam ao largo. O salto de paraquedistas (kids pretos que desceriam com bandeiras do Brasil nas areias) foi suspenso após três deles serem atingidos, no ensaio da véspera, por forte rajada de vento e caírem longe do alvo. Como estava indo à casa de minha enteada em Copacabana, e depois seguia para minha casa, em Ipanema, vi um deles caído com problemas na perna, na Rua Raul Pompéia, no Posto 6, e outro preso no telhado de um edifício na Rua Antônio Parreiras, sendo retirado por bombeiros.

As voltas que o mundo dá

Como já era o relator dos inquéritos das “fake News”, contra os ataques às urnas eletrônicas e o processo eleitoral – Bolsonaro foi condenado pelo TSE, em 2023, e se tornou inelegível por oito anos -, por “preventa”, coube a Moraes ser o relator dos inquéritos que acumularam as investidas de Jair Messias Bolsonaro contra o Estado Democrático de Direito, que culminaram no 8 de janeiro de 2023, passando pelos preparatórios para os atentados no Brasil (em 12 de dezembro e 20 de dezembro) e a tentativa de sequestro e morte do então presidente do TSE, do presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva, e do vice-presidente eleito, Geraldo Alkimin. Um bem articulado vídeo da deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) que circula nas redes sociais explica, com clareza de detalhes, o passo a passo das atitudes radicais que levaram Bolsonaro e outros 33 cúmplices a serem denunciados pelo Procurador Geral da República, Paulo Gonet, que rejeitou as objeções preliminares dos advogados dos réus. O relator dos processos no STF, Alexandre de Moraes, deu andamento ao caso e agilizou a instauração dos processos. E o presidente da Primeira Turma do STF (cinco juízes), ministro Cristiano Zanin, marcou as datas de 25 e 26 de março para três sessões de início das oitivas de acusados e testemunhas e alegações das defesas.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o pastor Silas Malafaia, organizadores do ato em prol da anistia dos condenados pelo 8 de janeiro em Copacabana, e contra o governo Lula, já lançaram algumas palavras de ordem a serem impressas em faixas e cartazes: “Fora Lula 2026”, “Anistia Já”, liberdade de expressão, segurança e custo de vida”. Estarão presentes os evangélicos e fanáticos de sempre, as eternas “viúvas de Carlos Lacerda”, que aderiram ao ex-capitão. De modo ainda mais ridículo, um grupo de bolsonaristas vai fazer manifestações em frente à Casa Branca, para açular Trump. Querem que os Estados Unidos intervenha na soberania brasileira. Francamente! A verdade é que esse tipo de protesto, para se fazer de vítima menos de dez dias antes do início do julgamento no STF, tem um nome jocoso no “jurisdiquês”, como disse Ricardo Noblat: “Jus esperniandi” é uma expressão muito usada no meio jurídico, mas inexistente no latim. Significa “direito de espernear” ou “direito de reclamar”. Aplica-se, por exemplo, quando o direito de peticionar ou de recorrer é exercido de forma abusiva por qualquer uma das partes, acusação ou defesa. É uma coisa muito comum”.

E Noblat prossegue: “Mas o ‘jus esperniandi’ também é exercido fora dos autos. É ao que assistimos desde que a Polícia Federal indiciou Bolsonaro pelos crimes de tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático, danos ao patrimônio público e organização criminosa; e a Procuradoria-Geral da República o denunciou. O esperneio de Bolsonaro aumentou com o anúncio de que o ministro do Supremo Tribunal Federal Cristiano Zanin marcou para o próximo dia 25 o julgamento na Primeira Turma da Corte da denúncia feita pela Procuradoria. Se ela for aceita, Bolsonaro e outros sete denunciados por golpe tornam-se réus. Serão três sessões: duas no dia 25, de manhã e à tarde, e uma no dia 26. Nelas serão ouvidas a Procuradoria, as defesas dos acusados e a leitura do voto dos cinco ministros que integram a Primeira Turma – além de Zanin, Alexandre de Moraes, o relator do caso, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux”.

Noblat manifesta a convicção de que Bolsonaro, condenado a ser preso, tentará fugir, abrigado em asilo diplomático numa embaixada (Argentina, EUA ou Hungria, onde ensaiou uma estada de uma noite em 2023). E tentará, ainda assim, atuar como cabo eleitoral nas eleições de 2026. Preso ou asilado. A conferir.

Citando Chico Buarque

A situação bem distinta de Jair Messias Bolsonaro em relação a setembro de 2022 – quando era o chefe do Poder Executivo, controlava a Câmara e o Senado com o uso farto das verbas do Orçamento Secreto e julgava que tinha as Forças Armadas nas mãos e a preferência do eleitor – me faz lembrar, que mesmo com a última pesquisa Ipsos/Ipec, divulgada quinta-feira, na qual o governo Lula é avaliado por 41% como “Ruim/Péssimo” e só 27% como “Ótimo/Bom”, a avaliação (feita no pior momento da inflação) não chega a divergir do resultado eleitoral, quando se computam os 30% que consideraram o governo como “Regular”.

Lula venceu Bolsonaro não só com os votos do PT e partidos de esquerda (que representariam os 27% de aprovação), mas com um enorme contingente que não aceitava a continuação de Bolsonaro (assim, mesmo com a inflação dos alimentos, os 30% julgam o governo “Regular”). Os dois somam 57%. A desaprovação reflete o suposto cacife de Bolsonaro e o desencanto da hora.

Mas aí cabe uma pequena variação nos versos de Chico Buarque para “Quem te viu, quem te vê” para avaliar a guinada, para baixo, de Jair Bolsonaro, às voltas com a Lei.

“Quem te viu, quem te vê; Quem não o conhece não pode mais ver pra crer; Quem jamais o esquece não pode reconhecer”.

Paciência para esperar

A inflação ainda não cedeu com o dólar, que vem caindo com os juros mais altos do Banco Central, que deve ter mais uma alta de 1% nesta quarta-feira, 19, mas com alguma definição de próximos passos, apesar do terreno minado na economia mundial pelas tarifas de Donald Trump. Mas ela cairá em dois a três meses com a nova supersafra agrícola (a carne vem ficando estável, os ovos e o café continuam em alta no mundo, mas as medidas tomadas podem estancar a disparada da inflação de alimentos).

E, na aposta do cessar fogo entre Rússia e Ucrânia, e a futura normalização dos mercados de combustíveis, os contratos futuros do petróleo tipo Brent estão em queda para todos os meses deste ano. Se o dólar continuar comportado, haverá espaço para a Petrobras baixar os preços do diesel (importante na movimentação das safras e do transporte público) e da gasolina, o produto de maior peso entre os 377 itens pesquisados pelo IBGE no IPCA. Ou seja, em dois três meses o cenário daqui será melhor.

O desencanto com Trump

Não me surpreende que os planos arrojados de Donald Trump para relançar a economia americana a partir de pesadas barreiras comerciais aos produtos importados da China, dos vizinhos Canadá e México, da União Europeia e do Brasil, caso do aço e do alumínio, na suposição de que, com as barreiras comerciais, a manufatura dos Estados Unidos voltaria a rodar, esteja falhando na largada. Foi um erro achar que a globalização (tecida ao longo de três décadas, quando matrizes americanas, europeias, japonesas e coreanas transferiram o grosso da produção industrial para a China) pudesse ser desfeita rapidamente com a recriação da indústria siderúrgica e de metais (ambas exigem muita energia) e o relançamento da indústria naval de Tio Sam, aposentada há três décadas e assumida pelos estaleiros japoneses, coreanos, chineses e de Cingapura.

O efeito primeiro tem sido um aumento de preços que gerou desaprovação, antes de dois meses, do governo que tomou posse em 20 de janeiro. Para comprovar, transcrevo algumas manchetes desta semana do “Wall Street Journal”, o principal jornal econômico dos EUA. Uma dela diz: “O sentimento do consumidor cai enquanto os americanos esperam mais sofrimento no futuro”. Outra diz que, ao contrário do Brasil, onde os preços do café e dos ovos assustam os consumidores [lá subiram até mais, porque tudo é importado e uma gripe aviária abateu milhões de poedeiras, as “Tarifas provocam disputa no corredor de produtos do supermercado”. Mas adiante o WSJ explica que “Fornecedores de frutas e vegetais cancelam pedidos para evitar a batalha comercial de Trump, enquanto os supermercados tentam manter os preços estáveis”. [Os EUA estão importando ovos daqui também. Lula fala em “pilantras” que estão puxando os preços dos ovos para cima: além do calor que faz as poedeiras diminuírem a produção, o grupo Faria, o rei do ovo no Brasil, e os irmãos Batista do JBS-Friboi, há muito com frigoríficos nos EUA, depois de comprarem a Ovos Mantiqueira, também estão aproveitando os bons preços para exportar ovos para o Tio Sam. É o chamado aproveitamento das “janelas de oportunidades”].

De fato, não está fácil para ninguém e não é possível que Trump não tivesse pensado nas consequências [um vídeo antigo de Ronald Reagan, que circulou esta semana na rede, condena o protecionismo comercial com a elevação de tarifas]. E o ambiente de Wall Street não é nada animador, segundo outra chamada de capa: “A incerteza em torno da economia, ações e empregos está cobrando seu preço. Um economista rotulou a última leitura do índice da Universidade de Michigan como horrível”. E outra reportagem indaga “Como Wall Street e outros negócios erraram com Trump?”; “Eles achavam que seu segundo mandato seria como o primeiro, dando prioridade ao crescimento econômico e ao mercado de ações. Trump tinha outras ideias”.

E, antes que se ponha em dúvida a posição do WSJ, lembro que o jornal pertence ao império de Rupert Murdoch, apoiador de primeira hora do magnata imobiliário.

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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