LONGA MARCHA DO CAPITÃO PRESTES

O legendário Capitão Luis Carlos Prestes (1898 – 1990), gaúcho de Porto Alegre, foi, sem dúvida, um dos maiores vultos do internacionalismo comunista no século XX. Nascido numa família, provavelmente, de origem portuguesa açoriana, enviada, como tantos milhares de ilhéus, no século XVIII, para povoar o Rio Grande do Sul, onde fundaram a capital do estado, o Capitão Prestes, oficial rebelde do Exército, tornou-se um dos mais notórios expoentes da Internacional Comunista, entre as décadas de 1930 e 1950, período no qual a União Soviética foi comandada com a mão de aço do georgiano Josef Stalin (1878 – 1953).

Só o coimbrão Álvaro Cunhal (1913 – 2005), à frente do Partido Comunista Português, no universo da lusofonia, teve o peso político de Prestes – intitulado, pelo escritor comunista baiano, Jorge Amado (1912 – 2001), como o ‘Cavaleiro da Esperança’, por ter liderado a longa marcha que incendiou o País de 1924 a 1928. Integrante do Partido Comunista Brasileiro, a partir de 1934, o gaúcho, engenheiro militar, gozaria de prestígio, na América Latina, como Rodolfo Ghioldi (1897 – 1985) e José Carlos Mariátegui (1894 – 1930), criadores, respectivamente, dos partidos comunistas na Argentina e no Peru. O dirigente brasileiro desfrutou, nos tempos stalinistas, quase da mesma relevância de Palmiro Togliatti (1893 – 1964), um dos instituidores do arejado PCI (Partido Comunista Italiano), juntamente com Antonio Gramsci (1891 – 1937). Ou do búlgaro Giorgi Dimitrov (1882 – 1949), membro da nomenclatura da Internacional leninista, e de La Pasionaria Dolores Ibarruri (1895 – 1989), natural do País Basco, ícone do PCE (Partido Comunista Espanhol) na dramática guerra civil, de 1936 a 1939, contra as forças nacionalistas do Generalisimo Francisco Franco (1892 – 1975).

Prestes amargou 10 anos nas prisões da ditadura do conterrâneo Getúlio Vargas (1882 – 1954), como Gramsci, na Itália, no cárcere da ilha siciliana de Ústica, durante o regime fascista. Também esteve na clandestinidade e no exílio, em Moscou, como Cunhal e La Pasionaria. Uma valiosa obra chamada “1924 – Tenentes Rebeldes”, de autoria do jornalista Dácio Nitrini, publicada em julho último, lança luz sobre o movimento da jovem oficialidade brasileira, que explodiu em 1922, no Rio de Janeiro, e se propagou, dois anos depois, em São Paulo. A Revolta Paulista serviria de fermento para a extensa marcha conduzida por Prestes, ao lado do major do Exército brasileiro, Miguel Costa (1885 – 1959), nascido na Argentina, filho de pais imigrantes da região espanhola da Catalunha. Costa, sobrenome de diversas famílias catalãs, chefiou o levante em São Paulo.

E, por isso vários pesquisadores, como Nitrini, denominam, corretamente, Coluna Miguel Costa – Prestes – e não somente Coluna Prestes. Estavam presentes, ombro a ombro com ambos, no percurso pelo País afora, a fina flor da juventude militar. Muitos dos quais, como o cearense Juarez Távora (1898 – 1975) e o gaúcho Oswaldo Cordeiro de Farias, se engajariam em apoio a Vargas, em 1930, na tomada do poder. Passados trinta e quatro anos, em 1964, temerosos da ascensão do ‘Partidão’, o PCB de Prestes, eles mergulhariam de cabeça no golpe que despachou para o desterro, além do próprio Cavaleiro da Esperança, outro gaúcho, o Presidente da República João Goulart (1919 – 1976), o “Jango”, ‘afilhado’ político de Vargas.

Prestes só voltaria ao Brasil, em 1979, após a promulgação da Lei da Anistia. Mas já não detinha o controle do ‘Partidão’ e morreria, quase isolado, no Rio de Janeiro, vivendo numa cobertura em Copacabana, na Avenida Atlântica, cedida por seu amigo, o arquiteto comunista Oscar Niemeyer – construtor de Brasília.

ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)

Albino Castro é jornalista e historiador

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