Desde que eu recebi Pode ser a gota d’água (Nova Estação), o álbum de estreia da cantora e atriz Laura Proença, saltou-me aos ouvidos o repertório exemplar escolhido por ela para homenagear Chico Buarque. A seleção das músicas deve ser considerada como referência para quem quiser ter uma bela parte da obra buarqueana reunida num só trabalho.
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Bons instrumentistas dão conta do recado e permitem que Laura sinta-se à vontade para cantar do jeito que sua alma pede. Ei-los: Alexandre Vianna e Tibor Fittel (piano e acordeom); João Benjamin (contrabaixo acústico); Rafael Lourenço (bateria); Norberto Vinhas e Patrick Angello (violões); Franklin Santos (percussão); Eduardo Motta e Fábio Oliva (trombones); Reinaldo Izeppi (trompete); Rafael Clarin (sax tenor); Juan Carlos Rossi e Letícia Carvalho Andrade (violinos); Igor Vinicios Borges (viola); Thiago Faria Soares da Silva (violoncelo).
Hesitante em algumas notas iniciais, logo a voz de Laura se faz íntegra, com afinação e postura teatral a valorizá-la.
“O meu amor” (Chico e Vinicius) tem arranjo com destaque para o trombone e a percussão. Laura se apresenta para conquistar o ouvinte.
“Tatuagem” (Chico e Ruy Guerra), como convém, tem piano e batera em ritmo lento. O violão desenha, a percussão embala e Laura desponta inteira.
“Sob medida” (Chico) tem trombone, trompete e sax tenor no bom arranjo. Laura solta a voz. O piano pontua num intermezzo que traz os sopros com ele. Com o tom modulado para cima, Laura canta, e o faz com talento.
“Eu te amo” (Chico e Tom) se inicia com o piano dedilhando notas, para que, de modo arritmo, nasça o canto. Num bonito intermezzo, surge o cello. Logo Laura retoma a melodia e comove o ouvinte.
O piano toca a intro de “Pedaço de mim” (Chico). Laura dá à letra a intenção primeira do autor. A essa altura, ela já conquistou o ouvinte! Um quarteto de cordas cria a atmosfera adequada ao arranjo.
“Folhetim” (Chico) vem balançando com batera e percussão. Laura vai bem às notas mais agudas. Após o intermezzo do violão, ela declama alguns versos e logo volta à melodia.
Num estalar de dedos, rola “A história de Lily Braun” (Chico e Edu Lobo). Os sopros refazem o clima de cabaré da música. Atriz que é, Laura canta bem como tal.
“Gota d’água” (Chico) tem Laura cantando arritmo, apenas com o piano. A força dos versos arrepia! Um acordeom transforma o samba num tango desesperado, cujo verso final vem contundente.
Laura canta “Gente humilde” (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico) de forma definitiva. Apenas um violão a acolhe e a atriz e cantante a ele se entrega.
Com produção de Márcio Gomes, os arranjos de Alex Vianna (à exceção de “Gota d’água” e “Gente humilde”, que têm arranjos de Tibor Fittel e Patrick Angello, respectivamente) expõem por inteiro as obras de Chico. E, ao interpretá-las, Laura Proença brilha!
AQUILES REIS ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)