José Agustín Ferreyra, pioneiro do cinema sonoro argentino, deixou uma marca indelével na história do cinema nacional.
Em 28 de agosto de 1889 nasceu José Agustín Ferreyra , um dos pioneiros do cinema nacional. José foi um artista comprometido com o seu tempo e pioneiro em todas as facetas do seu trabalho. Antes de se tornar diretor de cinema, foi artista visual e um dos primeiros cenógrafos do Teatro Colón. Em sua carreira de cineasta, passou por todos os papéis possíveis, foi diretor, ator, roteirista, produtor e até distribuidor. Como se não bastasse, compôs suas próprias letras de tango que acompanharam vários de seus filmes.
No dia de seu nascimento, entre tantos outros marcos e avanços que este excepcional afro-argentino realizou, em 1931, foi o primeiro diretor na Argentina a lançar um longa-metragem totalmente sonoro: Muñequita porteña . Ele também escreveu o roteiro do filme. Estreou em 7 de agosto de 1931 e foi estrelado por María Turgenova e Floren Delbene. O som foi sincronizado com o sistema Vitaphone, ou seja, os discos da trilha sonora foram sincronizados com o filme projetado.
O filme foi preservado pelo Museu do Cinema “Pablo Ducrós Hicken” entre 2010 e 2017, com a colaboração na digitalização da TV Pública, ArriScan, L’Immagine Ritrovata e Cinain. A versão restaurada estreou no BAFICI 2017 e a apresentação contou com uma recriação da trilha sonora dirigida por Santiago Loza e Ariel Gurevich e interpretada ao vivo por Rosario Bléfari, Javier Drolas, Vanesa Maja e Pato Aramburu nos vocais e Fernando Kabusacki e Matías Mango na música.
Ora, a historiografia cinematográfica nacional estabeleceu, à força da repetição, que o primeiro filme sonoro foi Tango! (Argentina, 1933) musical em preto e branco que estreou em 27 de abril de 1933, dirigido por Luis Moglia Barth, primeira produção da companhia que mais tarde se tornaria Argentina Sono Film. Porém, o referido filme argentino utilizou no mesmo filme o outro sistema de som óptico da época denominado Movietone.
The Jazz Singer (Estados Unidos, 1927) é considerado na história do cinema mundial, o primeiro filme sonoro de nível internacional. Paradoxalmente, para conseguir o som utilizaram o sistema Vitaphone, o mesmo que Ferreyra utilizou. Foi o último sistema analógico de som em disco e o único amplamente utilizado e com sucesso comercial até a mudança para o formato óptico.
Mais uma vez caímos na sombra da invenção, capacidade e produção daquele que foi o pioneiro da nossa cinematografia nacional, o pai do cinema sonoro argentino, que com seus filmes debaixo do braço venceu a corrida contra as grandes produtoras, o professor afro-argentino José Agustín Ferreyra.
FRANCO DE NUZIO ” PÁGINA 12″ ( ARGENTINA)
*Diretor audiovisual da ENERC. Ativista antirracista do DIAFAR