O IBGE finalmente resolveu, em parte, sem maiores explicações, o mistério do Censo de 2022. Adiado de 2020, devido à pandemia da Covid, que se estendeu a 2021, foi parcialmente concluído em agosto de 2022, com um gap importante: o relógio populacional do IBGE, que apontava aumento da população (nascimentos – óbitos) a cada 21 segundos – antes da pandemia era de 19 segundos, tinha marcado 216,4 milhões de habitantes em julho de 2022.
Pois no dia último decêndio de agosto de 2022, o IBGE apontou para 203,3 milhões de habitantes e em 22 de dezembro de 2022, na primeira revisão parcial do Censo de 2022, a população caiu ainda mais, para 203,080 milhões. Agora, numa conciliação feita em 1º de julho último, a população brasileira foi recalculada em 210,862 milhões. Um aumento de 7,910 milhões frente ao ajuste da população do Censo de 2022 (em 2ª revisão) que foi apontado em 202.952.784 brasileiros.
Esses números, que encolheram a população brasileira, e podem mexer com os quinhões de cada município na redistribuição dos impostos federais no Fundo de Participação dos Estados e Municípios (FPEM), nos deixam longe na condição de 7ª nação mais populosa do mundo. Já fomos o 5º país mais populoso, título do Paquistão, com 245 milhões segundo projeções da ONU. E mesmo se tivéssemos 216 milhões, teríamos sido superados pelos 229 milhões da Nigéria. Os dois países mais a Indonésia (279 milhões), que são nações com predominância da religião muçulmana, somam 753 milhões de habitantes.
A maior população segue sendo a Índia, com 1.441 milhões, à frente dos 1.425 milhões da China. Os Estados Unidos vêm em 3º, com 345 milhões. Bangladesh, com 174 milhões, Rússia, com 143 milhões e Etiópia, com 129 milhões completam a lista. Entre os dez mais, a população de fé muçulmana soma quase 1 bilhão de habitantes, num universo de 4.647 milhões de seres.
As consequências da demografia afetam todas as economias. A Índia está sendo a economia que mais cresce no mundo. Se melhorar sua infraestrutura de portos, aeroportos, ferrovias e estradas, o salto pode ser ainda maior do que a taxa de 5,5%- 6,5% de seu PIB recente, um ponto e meio à frente do PIB chinês. A Indonésia, maior país tropical do mundo, também cresce acima de 5% ao ano, mas depara com sérios problemas de infraestrutura em suas 17 mil ilhas.Play Video
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Fonte: IBGE
País envelhece e estoura conta do INSS
O dado mais assustador do Censo 2022 e suas projeções é que o Brasil perdeu o boom demográfico do começo deste século (pela primeira vez a massa da população em idade ativa – excluídos idosos acima de 60 anos e crianças até 14 anos, era majoritária). Isso traz um problema estrutural para a Previdência Social. O percentual dos contribuintes sobre a população aposentada ou sem capacidade contributiva será muito baixo, como se vê na tabela abaixo.
O envelhecimento da população, com aumento da expectativa de vida que chega agora aos 76,4 anos para os nascidos em 2023 e a redução da taxa de natalidade do país para 1,58% (metade da do final dos anos 60, quando a expectativa de vida era de pouco mais de 60 anos) fizeram o Brasil envelhecer rápido sem ter desfrutado do bem-estar das sociedades europeias.
Em 2000, a expectativa de vida média dos brasileiros ao nascer era de 71,1 anos (67,3 para os homens e 75,1 para as mulheres); em 2023, o índice aumentou para 76,4 (73,1 para os homens e 79,7 para as mulheres). O crescimento segue até 83,9 anos em média em 1070, sendo que as mulheres poderiam viver, em média, 86,1 anos e os homens 81,7 – há mais mortalidade de causas não naturais – acidentes e mortes por armas entre os homens jovens.
Projeções pedem novas políticas públicas
Mas grave ainda é que os dados sugerem, enquanto os três Poderes da República precisam fazer um pacto para ver quem usa mais os recursos do Orçamento (arrecadados pela população), que é preciso casar as projeções das políticas públicas com as demandas apontadas nas curvas populacionais.
Faz sentido continuarmos destinando 12% dos recursos para Educação concentrados na educação básica, quando a demanda é do ensino médio ou mais qualificado. Na Saúde, que leva 18% do OGU, a prioridade deve ser a prevenção das doenças da velhice ou a pediatria? São discussões que a sociedade brasileira precisa travar.
Os censos (e a profusão de dados do IBGE) exige senso público, qualidade que a maioria da atual representação política não possui.
GILBERTO DE MENEZES CÔRTES” ( JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)
Fonte: IBGE