Vejam como o mercado financeiro tem viés político-conservador que acaba utilizando duas medidas para um peso só. No caso, o incremento dos gastos públicos. Quando Lula quer ampliar gastos e investimentos dos programas sociais, a Faria Lima o critica duramente. Quando Donald Trump propõe a redução de impostos para ricos e empresas e maior taxação sobre as importações (sobretudo “made in China”, que incomodam), a Faria Lima apoia.
“O atentado [a Donald Trump] parece ter dado força à campanha… isso tende a colocar um pouco de pressão. Ele é um candidato que tende a defender um crescimento maior, ou seja, (gera) aumento de expectativa de estímulo fiscal”, disse Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
O avanço da moeda norte-americana sobre os emergentes na manhã desta 3ª feira, no entanto, era contido pela expectativa cada vez maior dos investidores de um corte de juros do Fed já em setembro, fomentada por comentários, na véspera, do “chairman” da instituição, Jerome Powell. Ele disse que as três leituras de inflação dos EUA no 2º trimestre deste ano “aumentam um pouco a confiança” de que o ritmo de alta dos preços está voltando para a meta do Fed de forma sustentável.
Operadores passaram a precificar a possibilidade de três cortes de juros este ano, sendo o 1º na reunião de setembro, seguido de cortes adicionais em novembro e dezembro. Na mediana, apostam em 68 pontos-base de cortes em 2024, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME. Três cortes de 0,25% somariam 0,75%, o que reduziria os juros dos atuais 5,25%-5,50% a 4,50%-4,75% ao ano, agradando tanto a Biden, quando a Trump, que vê não só a economia crescendo como a valorização de seu grande patrimônio imobiliário.
Quanto mais o banco central dos EUA cortar os juros, pior para o dólar, que se torna comparativamente menos atrativo quando os rendimentos dos títulos do Tesouro diminuem. O dólar subia hoje 0,22% às 13 horas a R$ 5,46.
LCA vê expansão em junho
Ao analisar o desempenho do IBC-Br de maio, a LCA Consultores adiantou que “as projeções para junho indicam crescimento na produção industrial, no comércio varejista ampliado e no volume de serviços, com expectativas de que o IBC-Br registre um aumento de 2,5% em relação ao ano anterior e 0,5% em relação ao trimestre anterior no 2º trimestre de 2024”.
“Apesar das incertezas sobre os efeitos do desastre climático no Rio Grande do Sul, os dados recentes sugerem um viés positivo para a estimativa do PIB do 2º trimestre, projetado para crescer 1,2% em relação ao ano anterior e 0,4% em relação ao trimestre anterior”, diz a consultoria.
Petrobras pode impulsionar economia
Um dado importante neste 2º semestre é o possível impulso na indústria extrativa mineral com as mudanças que a nova direção da Petrobras pretende fazer no sistema de exploração de petróleo e gás em águas profundas nas Bacias de Campos e Santos. Para reduzir a queima, na atmosfera, do gás que vem associado ao petróleo nos campos de exploração, sobretudo na Bacia de Santos, onde a geologia concentrou gigantescos campos de óleo e gás, a Petrobras reinjetava o gás nos campos.
Agora, para antecipar a operação da Rota 3 de Bacia de Santos que vai abastecer de gás o polo do Comperj e aumentar o fornecimento ao Nordeste, a nova direção da Petrobras decidiu reduzir a reinjeção de gás, o que tende a aumentar a produção de petróleo e gás (equivalente) nos grandes campos da Bacia de Santos. O alvo da primeira experiência será o campo de Búzios, o 2º maior operado pela estatal (90%) em regime de partilha com a PPSA, tendo como parceiras, com 5% cada, as chinesas CNODC e CNOOC.
A área do reservatório de Búzios é maior do que a da baía da Guanabara, com profundidade de 490 metros, entre o Pão de Açúcar e o Corcovado. O campo de Búzios atingiu em abril 1 milhão de barris/dia, mas as projeções são de que atinja 2 milhões de barris/sai até 2026-27. No meio do caminho, com a chegada de quatro novas plataformas FPSO, com capacidade para separar a água do petróleo e processar e estocar 225 mil barris/dia de petróleo e gás, cada, com ênfase na maior produção de gás a ser conduzido até o litoral do RJ por gasodutos subterrâneos, Búzios vai ultrapassar Tupi como o maior campo produtor da Petrobras.
Retrofit no Edise vai começar
Por falar em Petrobras, as obras de reciclagem e modernização do edifício sede, na Avenida Chile, 65, vão finalmente ter um avanço neste 2º semestre. Inaugurado em 1974, após cinco anos de construção pela Odebrecht, que usou a obra para desembarcar no Rio de Janeiro (Sudeste) onde construiu o Galeão 1 e 2, entre inúmeras obras públicas, como o metrô, a reforma do Maracanã e o teleférico do Complexo do Alemão, no bairro da Penha, o Edise está fechado desde 2021, quando os funcionários que já trabalhavam em sistema de “home office”, devido à pandemia da Covid-19, foram transferidos para a nova sede na Avenida Henrique Valadares, 28, a 500 metros do Edise.
Mesmo desativado há três anos, todas as ilustrações sobre Petrobras ainda usam o icônico prédio com o logo da companhia na Avenida Chile, inovador projeto de arquitetura de Roberto Luis Gandolfi e mais três arquitetos associados, que venceu o concurso nacional do IAB entre 200 projetos. Fugindo ao convencional, concebeu para os 21 pavimentos para escritórios, uma estrutura quadrangular, semelhante a um gigantesco H, dividida em quatro setores: subsolo, embasamento, torre e coroamento. Os vazios decorrentes, que servem à ventilação e iluminação natural, receberam tratamento paisagístico e calçamento de Roberto Burle Marx, estendido aos jardins da parte externa.
Em meio século, porém, houve avanços na arquitetura visando a preservação do meio-ambiente. Assim, o “retrofit” vai dar ênfase à economia de água, com reaproveitamento das águas da chuva e estação de tratamento para água de reuso, uso de painéis solares (que só não pode ser maior porque o topo do Edise tem um heliporto). O piso dos andares terá nova textura para facilitar a circulação de deficientes visuais. Os elevadores terão painéis em braile.
‘Smart-office’ aumenta lotação
Mas a maior inovação na revitalização do edifício, virá com a implementação de medidas de sustentabilidade, de design inclusivo, além do modelo de “smart-office”, no qual a ocupação e a gestão dos escritórios é mais eficiente por meio de soluções tecnológicas como agendamento de salas de reunião e estações de trabalho por aplicativo. O efeito prático é de que a capacidade de abrigar funcionários passará de 5,8 mil para mais de 7 mil pessoas.
A propósito, um dos objetivos da nova presidente Magda Chambriard será a intensificação da presença dos funcionários nos escritórios da companhia. O “home-office”, que já era adotado antes da pandemia e se intensificou em 2020-21, exige a presença física apenas dois dias por semana nos escritórios. O aumento, portanto, além de ampliar o entrosamento entre as equipes, vai ajudar a revitalizar o comércio e serviços em geral, sobretudo de bares e restaurantes no Centro da Cidade, próximos às unidades da Petrobras.PauseUnmuteCurrent Time 0:10/Duration 0:30Loaded: 100.00%Fullscreen
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GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)