Em março deste ano eu recebi uma mensagem do poeta, músico e artista plástico Marcos Quinan, na qual me pedia para escrever algo sobre o livro que ele estava lançando. Sim, claro! Para tanto, dei-me à leitura. As palavras soavam como música aos meus ouvidos.
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Ei-las: a alegoria do livro Anabel, Brás Teodoro e o Povo do Belo Monte, do Quinan, me pegou pela mão e sumiu comigo. Me perdeu. Me levou e me deixou. Fiquei! Nada ali é de soslaio, tudo é de frente, forte. Por vezes, a leitura me remetia a Guimarães Rosa e João Cabral. Tão uno, tão indivisível, Quinan revelava-se plural.
E não é que ele e seus personagens, em pleno arrebatamento de serem alter-ego do autor de carne e osso, mostraram-se apaixonados entre si e pela história de Antonio Conselheiro, em sua epopeia em Belo Monte?
Movido a personagens vívidos, feito os vaqueiros Beleléu e Mariano, mais Bendengó, Pajeú, Zé do Tucano, Caluta, Da Luz, Pichim, Dalfredo, Cabeção, os soldados da Guarda Católica, Carmela, a irmã de Sinício, Simeão de Caieira e a jovem Dolores (a que se deitava, sem sentir prazer, com escravos libertos, vaqueiros, meeiros, tropeiros e todos que vinham em busca de seu corpo). A essa altura, me via como Quinan, delirante.
E ele se atirou à minha frente, instigante, misterioso, a me puxar para dentro de um mundo que é dele, mas agora é meu, é do Brasil de todas as gentes, de todos os credos, de todas as raças, cores e gêneros. Do Brasil que temos em mente, igualitário, generoso, mestiço e que haverá de, enfim, nos redimir.
Ao final do livro, talvez para não dar chance a mal-entendidos, Quinan imprimiu várias de suas telas e inúmeros outros poemas seus. E assim, pintando e poetando, deu cara ao que pensou e nos evidenciou, transpondo as fronteiras da literatura.
Fatos existidos, revividos, postos a prumo. Deles Marcos Quinan se valeu em sua ida ao passado que conhece há tempos e ansiava trazer a lume, para o futuro que carrega entranhado em si, como a poeira do sertão que o agasalha até os ossos.
Amor pela história, em meio a pesadelos e sonhos extraordinários, eis um cantador historiador brasileiro, lídimo restaurador de fragmentos que traz grudados à memória, mantendo-os íntegros.
PS. Conversando com o compositor Celso Viáfora, ele disse que musicou uma das poesias do livro e gentilmente me autorizou a incluir aqui o link da gravação caseira de “Salguem os Punhais”* (Viáfora e Marcos Quinan). E outras duas músicas que constam da obra: “Relógio da Saudade” (Marcos Quinan e Antonio Vicente Mendes Maciel) e “Vaza-Barris”** (Marcos Quinan).
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Voz e violão: Celso Viáfora.
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Voz: Nilson Chaves; arranjo e violão: Eudes Fraga; sanfona: Severo; moringa/ovinho: Marcos Zamma.
AQUILES REIS ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)