CARLOS MALTA, TRIBUTO À ELIS REGINA

A decisão do flautista e saxofonista Carlos Malta de homenagear Elis Regina (17 de março de 1945 – 19 de janeiro de 1982) teve início em 2000 com o lançamento do álbum Pimenta, relançado em janeiro de 2024. Como se deve concluir que Elis merece não apenas um, mas múltiplos tributos à sua arte e à sua vida, cá está Carlos Malta, novamente entregando seu ofício de genialidade reconhecida aos quatro cantos à memória de Elis. Salve a homenageada e quem a homenageia!
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Para este recente Pimentinha Sessions (Mills Records), Malta criou arranjos fora de qualquer curva imaginada nos anais das instrumentações modernas. Tocam com ele: Antonio Fischer-Band (piano), Giordano Gasperin (contrabaixo), Haroldo Eiras (guitarra) Matu Miranda (vocalizes), Antonio Sechin (saxofone e flauta) e Fofo Black (batera). Chama a atenção o fato de Malta convidar outro saxofonista e flautista para dividir o brilho dos sopros com ele.

Curiosidade logo dissipada em “O Trem Azul” (Lô Borges): a flauta de Malta inicia o arranjo. Logo vem o piano – que duo! Malta, agora valendo-se da flauta baixo, soa em uníssono com o sax soprano de Sechin – taí o porquê da presença de outro companheiro de instrumento na gig – dobrar pra quê, né?! A levada é cadenciada. O bongô apura para que o piano brilhe. As flautas se ajuntam e, ora uma ora outra, assumem o protagonismo do arranjo. O piano vem com a batera a guiá-lo num improviso. O arranjo dá um respiro e logo retornam o som uníssono das flautas, tendo a voz de Matu Miranda a terçar forças com elas. A batera se dá às peças com vigor. A flauta baixo leva ao final.

“Alô, Alô, Marciano”* (Rita Lee e Ronaldo de Carvalho) tem a minha preferência. Encantei-me com o carisma do arranjo. O sax soprano de Malta protagoniza, enquanto piano, baixo e batera se encarregam de impulsionar a genialidade do sopro ao topo da sonoridade orquestral. A guitarra improvisa. O couro come. A pegada agita. O sax se entrega ao solo do refrão. Esplêndido! E novamente soa a voz de Matu em meio à deliciosa balbúrdia do arranjo.

“Aprendendo a Jogar” (Guilherme Arantes) tem a força pop que Elis buscava reencontrar ao decidir gravá-la. A sonoridade incomparável do sopro que Malta tira de seu instrumento a distingue. Improvisos alucinantes de guitarra, malabarismos vocais e uma pegada marcada pelo piano e pelo baixo deixam o ouvinte pasmado. A música brasileira está toda lá: criativa, profunda, irresistível – a cara da corajosa e renovada Elis Regina Carvalho Costa.

“Se Eu Quiser Falar Com Deus” tem a carga intimista/religiosa que Gilberto Gil sonhou ao compor. O clarinete de Malta sussurra a melodia. Quase em contrição, as vassourinhas “varrem” a caixa. O piano improvisa. A batera segue nas vassourinhas. A guitarra dialoga com o clarinete, logo ela improvisa e ele sola. A melodia desponta bonita! A tampa fecha! A alma se abre! A música floresce!

AQUILES REIS ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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