CONFLITO ISRAEL-IRÃ E A HEGEMONIA LOGÍSTICA

INSTC é um ambicioso projeto logístico multinacional que conecta a Rússia (e, por extensão, a Europa) à Índia (e ao Oceano Índico)

  1. A Rota Norte – Sul

A rota tem três ramais principais com diferentes níveis de desenvolvimento. O ramal ocidental pelo Azerbaijão é o mais avançado, enquanto o oriental pelo Cazaquistão-Turcomenistão ainda precisa de mais infraestrutura. E claro, não se pode esquecer do corredor marítimo via Irã.

Os benefícios são claros: redução de 40% no tempo e 30% nos custos comparado com a rota tradicional pelo Canal de Suez. Mas os desafios são muitos – desde bitolas ferroviárias diferentes até tensões políticas regionais.

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Cabe mencionar que a Índia tem sido um grande investidor, especialmente no porto de Chabahar no Irã. Isso mostra como o projeto vai além dos interesses russos. E agora com as sanções, o INSTC virou uma alternativa crucial para a Rússia contornar bloqueios ocidentais. O projeto não pertence à Rússia, mas Moscou é um dos principais impulsionadores.

A Rota Internacional de Transporte Norte-Sul (INSTC) é um ambicioso projeto logístico multinacional que conecta a Rússia (e, por extensão, a Europa) à Índia (e ao Oceano Índico), passando pelo Irã e pelo Cáucaso/Central Ásia, com Moscou e Mumbai como pontos simbólicos de origem e destino. Embora a Rússia seja um dos principais impulsores, o corredor envolve vários países e tem três ramos principais. O ramo Ocidental passa pela  Rússia, entrando pelos portos do Mar Báltico, passando por Moscow, indo para o Azerbaijão via ferrovia ou caminhão, daí para o Irã. O transbordo se dará nos portos de Bandar Abbas ou Chabahar. Dali, a mercadoria segue de navio  para Mumbai. O ramo Oriental sai da Rússia, vai para o  Cazaquistão e Turcomenistão, chegando ao Irã via ferrovia e caminhão. De lá segue de navio para Índia. O ramo Trans-Cáspio sai da Rússia, vai para  o Mar Cáspio, onde a carga é transbordada para um navio, descarregada em portos iranianos de Anzali ou Nowshahr, ou no porto azerbaijano de Baku, continua por terra no Irã, finalmente, de Navio para Índia.

Objetivos Principais são encurtar significativamente o tempo de transporte de carga entre a Rússia o norte europeu e a Índia de 40 a 60 dias via Canal de Suez para de 20 a 25 dias com redução de custos estimada em 30%. Oferecer uma alternativa ao Canal de Suez pode reduzir riscos geopolíticos, além de impulsionar a integração Regional em um bloco econômico, facilitando o comércio entre Rússia, Cáucaso, Ásia Central, Irã e Índia.

Na verdade, a rota já existe, mas está subutilizada. É usada para cargas específicas (como grãos, madeira, equipamentos, contêineres), mas está longe de sua capacidade potencial. Os investimentos em infraestrutura e melhoria contínuos são feitos, especialmente no Irã, em ferrovias e portos como Chabahar. No Cáucaso, a ferrovia Rasht-Astara, ligando Irã ao Azerbaijão, é um projeto crucial. A Rússia também investe em seus portos do Báltico e do Mar Negro/Cáspio.

Sanções ocidentais contra Rússia e Irã têm sido grandes obstáculos, dificultando financiamento, seguro de cargas e acesso a tecnologia. A guerra na Ucrânia aumentou a importância estratégica da rota como alternativa de exportação/importação. Países como o Cazaquistão, Turcomenistão, Armênia, Belarus, Omã e até a Ucrânia, antes da guerra, expressaram interesse ou formalizaram participação. Aliás, a perspectiva de adesão da Ucrânia à Rota Norte – Sul aumentou muito a sede da Otan sobre a Ucrânia, sendo uma das causas da guerra hora em curso.

O papel do Irã tornou-se crítico. Ele é o elo central terrestre, e o desenvolvimento de seus portos (especialmente Chabahar, onde a Índia tem grande investimento) e ferrovias é vital.

Os desafios são significativos. Infraestrutura desigual: trechos ferroviários com bitolas diferentes (russa vs. padrão internacional), capacidade portuária limitada em alguns locais, necessidade de mais terminais intermodais são alguns exemplos. Resolver as complexidade burocrática: diferentes regulamentações alfandegárias, fiscais e de trânsito entre tantos países, requerem harmonização, o que pode ser uma oportunidade de solidificação do bloco.

Com as sanções ocidentais e o fechamento das rotas tradicionais, a INSTC tornou-se crucial para a Rússia exportar commodities (energia, grãos, madeira, metais) para mercados asiáticos, especialmente Índia; importar bens críticos como componentes eletrônicos, peças e bens de consumo da Índia, Sudeste Asiático e Oriente Médio, além de reduzir o isolamento econômico e logístico.

Em resumo, a Rota Norte-Sul (INSTC) é um projeto logístico estratégico e complexo, com potencial para transformar o comércio Eurásico, mas enfrenta enormes desafios de infraestrutura, burocracia e geopolítica. A Rússia é um ator central e sua importância para Moscou disparou após a invasão da Ucrânia e as sanções, impulsionando esforços para torná-la mais viável. O envolvimento ativo da Índia (via Irã) e o desenvolvimento contínuo da infraestrutura, especialmente no Irã e no Cáucaso, são fatores-chave para o seu futuro sucesso. Ainda é uma rota complementar, mas com crescente relevância geopolítica e econômica no contexto atual.

Na próxima edição, o foco será a Nova Rota da Seda, sua intersecção com a Rota Norte – Sul e a posição mais que estratégica, vital, do Irã no jogo geopolítico.

LUIZ ALBERTO MERCHERT ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva é economista, estudou o mestrado na PUC, pós graduou-se em Economia Internacional na International Afairs da Columbia University e é doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Depois de aposentado como professor universitário, atua como coordenador do NAPP Economia da Fundação Perseu Abramo, como colaborador em diversas publicações, além de manter-se como consultor em agronegócios. Foi reconhecido como ativista pelos direitos da pessoa com deficiência ao participar do GT de Direitos Humanos no governo de transição.

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