
CHARGE DE SPACCA
Foi a 4 de julho de 1776 que os Pais Fundadores brindaram com vinho Madeira após a assinatura da Declaração de Independência dos EUA. Mas as celebrações dos 250 anos da separação das antigas colónias britânicas começam já este sábado, com uma parada militar que assinala dois séculos e meio da fundação do Exército norte-americano – e que coincide com o 79.º aniversário do presidente Donald Trump. Pela Constitution Avenue, em Washington DC, vão desfilar 7000 militares, duas dúzias de tanques e centenas de outros veículos de combate, acompanhados por 50 helicópteros.
Esta demonstração de força, que responsáveis militares dos EUA admitiram ter um custo de 45 milhões de dólares – 16 milhões dos quais só para reparar as estradas depois da passagem dos veículos blindados – foi descrita por Trump como “fantástica”. “Vai ser um dia incrível. Temos tanques, temos aviões, temos todo o tipo de coisas. Vai ser ótimo. Vamos celebrar o nosso país, para variar”, afirmou o presidente, lembrando que outros celebram o fim da II Guerra Mundial, enquanto os EUA não o faziam. “E fomos nós quem venceu”, exclamou. E deixou um aviso a quem estiver a preparar-se para protestar contra a parada: “Se algum manifestante quiser aparecer, será recebido com grande força.”
A ideia de fazer uma parada é um velho sonho de Trump. Em 2017, meses depois de assumir o poder pela primeira vez, o presidente americano foi convidado pelo homólogo francês, Emmanuel Macron, para assistir em Paris ao desfile do 14 de Julho. Encantado com a imagem das tropas gaulesas a descer os Champs-Élysées, dos tanques e outros blindados a exibirem todo o seu poderio e dos caças a pintarem os céus da capital com o azul, branco e vermelho da bandeira francesa, Trump manifestou o desejou de recriar algo semelhante nos EUA. Foi preciso esperar oito anos e o regresso à Casa Branca para o presidente ter o seu desfile militar – uma espécie de “vingança”, depois de a sua segunda tomada de posse, em janeiro, ter sido mudada para o interior do Capitólio devido ao frio extremo.
Passados 250 anos sobre o dia em que “um Exército de voluntários (…) a precisar de um banho, conseguiu derrotar uma superpotência global”, como se ouve no musical Hamilton, de Lin-Manuel Miranda, a América tornou-se, ela própria, a única superpotência do mundo, apesar do longo caminho que tem pela frente para remendar as profundas divisões – bem patentes nos protestos dos últimos dias em Los Angeles e outras cidades contras as políticas de imigração de Trump. Um país cujo poderio militar é tal que gasta mais em Defesa do que os nove países seguintes juntos. Mas um colosso também de soft power, de Hollywood à música pop e rock, passando pelas universidades da Ivy League. E que não precisa de paradas militares para se afirmar como tal.
HELENA TECEDEIRO ” DIÁRIO DE NOTÍCIAS” ( PORTUGAL)
Editora-executiva do Diário de Notícias