BOLSONÁRIO: DA ARROGÂNCIA E VALENTIA À SOBREVIVÊNCIA E PUSILANIMIDADE

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“Não há nada tão estúpido como a inteligência orgulhosa de si mesma.” – Bakunin

Por mais que o país inteiro esteja cansado, torça e espere o fim do 1º processo penal –do grupo chamado “crucial”– das denúncias apresentadas pelo dr. Paulo Gonet em relação à tentativa de golpe de Estado, é impossível não fazer algumas considerações sobre os interrogatórios dos 8 acusados, inclusive o do ex-presidente Bolsonaro.

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Em 1º lugar, é fundamental ressaltar a natural dificuldade dos advogados de réus submetidos a provas cabais de responsabilidade em conseguir uma linha razoável de defesa. As críticas ao trabalho deles são injustas. Alguns dos denunciados conseguiram, pelo menos, manter certa dignidade. Penso que mais do que isso seria impossível.

Os interrogatórios tiveram momentos memoráveis: discussão pública entre advogado e cliente, réu negando mensagens encontradas no seu celular e negativas de questões óbvias. Mas isso é o dia a dia do processo penal. O acusado não é obrigado a falar a verdade, pode se calar e pode até mentir. Esse é o rito constitucional. Logo, é natural que o réu, submetido ao estresse de um processo criminal gravíssimo e com uma instrução 100% contrária às teses de defesa, entre em certo pânico que o desestabilize.

Tenho dito, desde fevereiro, quando foi apresentada a denúncia, que esse processo deverá ser julgado em setembro. E todos sabem que a condenação é inexorável. E as penas devem ser fixadas de 28 a 30 anos de cadeia. É humanamente impossível não entrar em desespero.

O interrogatório do Bolsonaro não surpreendeu ninguém. Sem maiores atributos intelectuais, ele se desnudou. Foi evasivo, foi inseguro, foi pusilânime, menosprezou os seus apoiadores mais fanáticos, desdenhou de muitos fatos comprovados e tentou fazer graça de maneira infantil e desrespeitosa. Referiu-se ao ministro relator que o interrogava, em claro desespero, de uma maneira subserviente e covarde. Chegou a dizer que o queria na chapa como vice numa impossível eleição presidencial em 2026. Ele está inelegível e estará preso em 2026.

para matá-lo e que, ao alterar o decreto do golpe, manteve uma absurda e inconstitucional hipótese de prisão do ministro Alexandre, rebaixou-se, humilhou-se e rastejou durante o embate cara a cara. Não deu pena, deu asco da falta de atitude minimamente digna de um homem que já foi presidente da República. É difícil não fazer um cotejo com os interrogatórios a que foi submetido o presidente Lula na farsa promovida por Moro e seu bando de Curitiba.

Enquanto Bolsonaro rastejou e se humilhou, certamente massacrado pelo peso da certeza dos seus atos criminosos, o presidente Lula se portou com a altivez e a dignidade de quem sabia ser honesto e inocente. Essa comparação dá a exata dimensão de quem são esses 2 homens públicos.

A posição distinta, e até indignada, com que Lula se apresentou durante os interrogatórios, fazendo um enfrentamento de quem demonstrava estar se sentindo injustiçado, contrasta com a fraqueza de Bolsonaro. Creditou a sua agressividade verbal –ao atacar ministros, instituições e a própria Democracia– a um “temperamento” que sempre o caracterizou. Chegou a afirmar que foi esse jeito tosco, ignorante, vulgar e bruto que o levou a ser vereador, deputado federal por 28 anos e presidente da República.

Ou seja, para que mudar, evoluir e ser educado se eu tenho milhões de eleitores que gostam do fato de ele ser misógino, racista, fascista, agressivo, dado a palavrões e a agressões diversas? Essa defesa pessoal desnudou quem é Bolsonaro.

Demonstrou que, ao mesmo tempo em que hoje despreza quem o apoiou, quando falou dos seus seguidores que ficavam na porta dos quartéis e que contribuíram financeiramente e como massa de manobra, também usou e abusou da ignorância e desinformação das pessoas para alimentar seus intentos golpistas.

Esse talvez seja o ponto que mais impressionou no interrogatório. Ele confessou o crime em diversas afirmações, talvez sem perceber que estava confessando. Ele se colocou na coordenação da organização criminosa durante os atos golpistas. Tudo isso servirá para sustentar uma condenação vigorosa e técnica.

Porém, isso não é surpresa para quem acompanha o processo. O que o Bolsonaro confessou extrapola a autoria dos fatos criminosos. Ele expôs, de maneira cruel e que provocou certo asco, quem realmente ele é. A punição o levará à cadeia. A exposição da personalidade dele, que ele próprio fez, vai levá-lo ao lixo da história.

Impossível não lembrar das agressões durante a pandemia: imitava pessoas sem ar que estavam morrendo desesperadas na crise de Manaus, ridicularizava quem chorava seus mortos e desdenhava da ciência. Parecia um monstro.

O interrogatório demonstrou o orgulho que ele tem de ser essa figura escatológica. E, ao que parece, ainda acredita que pode se escudar em seu temperamento, no seu eu mais íntimo, para continuar a desprezar as pessoas, as instituições e a democracia. Deplorável ver esse orgulho de ser banal e vulgar.

A democracia sai fortalecida com esse julgamento. Triste ver que o país ainda precisa dar tanta importância a um processo criminal. Esperemos que o fim desse caso pacifique o Brasil para que possamos voltar a discutir o que realmente interessa e a viver ares democráticos.

Vamos nos lembrar de Mário Quintana: “Se as coisas são inatingíveis… ora! Não é motivo para não querê-las… Que triste os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas!”.

ANTONIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO ” BLOG PODER 360″ ( BRASIL)

Kakay

Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido pela alcunha de Kakay, é um dos maiores advogados criminalistas brasileiros. É também poeta e escritor

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