UM NOVO MUNDO JÁ NASCEU E A DECLARAÇÃO DE PEQUIM SUBSTITUIRÁ O CONSENSO DE WASHINGTON

Lula e a relação Brasil-China
Lula e a relação Brasil-China (Foto: Ricardo Stuckert / Ilustração)

A história abre uma janela para que o futuro da América Latina seja construído a partir da equidade e do respeito – e não mais da dominação

Anotem aí, para ler no futuro: a Declaração de Pequim, que será anunciada nesta terça-feira, 13 de maio, logo após o histórico Fórum China-CELAC, entrará para a história como símbolo do nascimento de um novo novo mundo. Um mundo que surge no exato momento em que colapsa a velha ordem imperialista, fundada na imposição e na força, e que abre espaço para relações internacionais baseadas na equidade, no respeito e na autodeterminação dos povos.

Esse documento, construído coletivamente entre a China e os 33 países da América Latina e do Caribe, representa o sepultamento simbólico do Consenso de Washington, que por décadas impôs à América Latina uma cartilha econômica excludente, subordinada aos interesses do império.

O Consenso de Washington surgiu em 1989, no fim da Guerra Fria, quando economistas ligados ao FMI, ao Banco Mundial e ao Tesouro dos Estados Unidos desenharam uma lista de dez mandamentos econômicos para os países em desenvolvimento. Privatizações, abertura comercial irrestrita, desregulamentação financeira, austeridade fiscal e desmonte do Estado foram os pilares desse projeto.

Apresentado como uma fórmula mágica de estabilidade e crescimento, o consenso se revelou, na prática, uma estratégia para transformar as economias latino-americanas em plataformas de extração de valor, aprofundando a desigualdade, a desindustrialização e a dependência externa. O que se vendeu como solução foi, de fato, uma camisa de força neoliberal que asfixiou a soberania econômica dos povos da região.

Agora, com a Declaração de Pequim, abre-se uma janela histórica para que a América Latina vislumbre um novo caminho. E não é apenas uma questão de reorientação geopolítica. É uma mudança de paradigma. A China – segunda maior economia do planeta, locomotiva do crescimento global e liderança do Sul Global – não impõe, não ameaça, não sanciona, não invade. Propõe parcerias. Constrói pontes. Abre mercados. Respeita culturas.

No discurso do vice-ministro das Relações Exteriores da China, Miao Deyu, ficou claro que a época da Doutrina Monroe acabou. “O que os povos da América Latina e do Caribe desejam é independência e autodeterminação, não a chamada ‘nova Doutrina Monroe’”, disse Miao, em crítica explícita à tradição intervencionista dos Estados Unidos, que continua viva sob o segundo mandato do presidente Donald Trump, ainda que o Império esteja enfraquecido e combalido.

Em apenas uma década, mais de 20 países da América Latina aderiram à Iniciativa do Cinturão e Rota. Foram mais de 200 grandes projetos de infraestrutura, com impacto direto na geração de empregos — mais de 1 milhão de postos de trabalho. Em 2024, o comércio entre a China e a região ultrapassou US$ 500 bilhões, número 40 vezes maior do que o registrado no ano 2000. O Brasil, de forma cautelosa e segura, aposta nas sinergias entre os grandes projetos do Programa de Aceleração do Crescimento e a Iniciativa do Cinturão e Rota.

Além disso, com a presidenta Dilma Rousseff à frente do Novo Banco de Desenvolvimento, sediado em Xangai, há uma avenida gigantesca para o financiamento de grandes projetos voltados para a energia limpa, a sustentabilidade e a infraestrutura – quem sabe para que, finalmente, o Brasil entre na era dos trens de alta velocidade.

E, ao contrário do que pregava o velho consenso neoliberal, a China não exige reformas, nem cortes de direitos, nem privatizações em troca de investimentos. Apenas cooperação. Apenas respeito. Apenas parceria. É por isso que a Declaração de Pequim poderá ser o novo marco de orientação econômica e diplomática da América Latina no século XXI.

O Consenso de Washington foi construído num mundo unipolar, no auge da hegemonia norte-americana. A Declaração de Pequim nasce num mundo multipolar, em transição, onde o Sul Global se articula para construir seu futuro com base na soberania e na justiça.

Essa virada histórica não é apenas um rearranjo de alianças: é o fim de uma era de dominação e o início de um tempo em que a América Latina poderá, finalmente, escrever sua própria narrativa de desenvolvimento.

Anotem aí: o mundo que já nasceu e que tenta se consolidar em eventos decisivos como a cúpula China-Celac não aceitará mais imposições. A Declaração de Pequim substituirá o Consenso de Washington – e com ela, virá a refundação da América Latina como protagonista de seu próprio destino.

LEONARDO ATTUCH ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)

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