O ÚLTIMO BAILE DA ILHA FISCAL

O Estado brasileiro foi definitivamente capturado por organizações predatórias instaladas em todos os poderes.

Três escândalos superpostos – dos descontos nas aposentadorias, do crédito consignado de aposentados e do Banco Master -, todos ligados à corrupção do INSS, mostram a realidade terrível: o Estado brasileiro foi definitivamente capturado por organizações predatórias instaladas em todos os poderes. 

É um escândalo multipartidário. Depois de se apossar das estatais, das licitações, o crime politicamente organizado avançou sobre a última cidadela da cidadania: a poupança popular, de aposentados, beneficiários do Bolsa Família e do BPC (Benefício de Prestação Continuada) e, agora, de empregados de empresas privadas, sufocados pelas dívidas para compensar o vício das bets.

Vamos a uma cronologia, com o auxilio da IA:

 2023 – Início das denúncias isoladas

  • Janeiro–Abril:
    • Reclamações aumentam no Consumidor.gov e Procon de diversos estados (SP, PE, MA, PI).
    • Idosos relatam descontos misteriosos em seus benefícios.
    • Bancos e entidades terceirizadas começam a ser notificados.
  • Julho:
    • O governo Lula anuncia intenção de reduzir a taxa de juros do consignado e revisar convênios com associações.
    • Bancos reagem com lobby e ameaças de sair do mercado de consignado do INSS.

📅 2024 – Alerta vermelho e auditorias

  • Fevereiro:
    • CGU inicia auditoria interna no INSS e na Dataprev, após denúncias de servidores sobre autorizações falsas.
  • Abril:
    • Governo proíbe temporariamente novos contratos de consignado para beneficiários do BPC e do Auxílio Brasil.
    • Descobre-se que mais de 1 milhão de segurados têm contratos ativos sem consentimento confirmado.
  • Agosto:
    • Associações como ANAPB e ABPP são apontadas em relatório da CGU por cobranças indevidas e convênios “não supervisionados”.
    • Banco Master e outras instituições são citadas indiretamente por operar carteiras originadas via essas entidades.
  • Dezembro:
    • Denúncias indicam que funcionários da Caixa Econômica foram afastados após barrar ou questionar operações com a carteira do Banco Master.
    • Aparece o nome de assessores políticos ligados ao centrão, especialmente de estados do Norte e Nordeste.

📅 2025 – A crise explode

  • Março:
    • INSS e CGU finalizam levantamento mostrando que R$ 6,3 bilhões foram desviados em fraudes com consignado via associações.
  • 4 de Abril – OPERAÇÃO SEM DESCONTO (PF + CGU + INSS):
    • Deflagrada em DF, SP, MG, PI e BA.
    • Mandados de busca e apreensão contra associações como ANAPB, ABPP e ASPBRASIL.
    • Servidores da Dataprev e intermediários financeiros são alvos de medidas cautelares.
    • Descobertas contas bancárias com movimentações milionárias ligadas a entidades fantasmas.
  • Abril – Maio:
    • Governo suspende todos os descontos em folha para associações.
    • Bancos são notificados a comprovar legalidade de carteiras adquiridas.
    • Banco BRB é questionado sobre intenção de comprar carteira do Master — operação congelada.
    • TCU inicia apuração sobre omissões de controle por parte de seus próprios auditores.
  • Maio:
    • Governo Lula apresenta proposta de reforma legal do consignado, incluindo:
      • Obrigatoriedade de biometria para novos contratos.
      • Revalidação anual de autorizações.
      • Proibição de desconto por entidades sem vínculo direto comprovado com o segurado.

Por trás dessa esbórnia, surgem bancos, fintechs, apoiadas em políticos de todos os partidos. E, atrás deles, uma miríade de associações apadrinhadas por políticos.

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💸 Como funcionava o esquema (segundo PF e CGU):

  1. Associações firmavam convênios com Dataprev ou INSS para “representar” beneficiários.
  2. Obtinham acesso a dados de segurados e inseriam descontos em folha, muitas vezes sem autorização.
  3. Usavam esses descontos como “porta de entrada” para oferta de crédito consignado com bancos e financeiras.
  4. Repassavam parte da comissão a políticos, lobistas ou servidores que facilitavam os convênios.
  5. Beneficiários descobriam o empréstimo apenas após o desconto começar — muitos sem saber que haviam autorizado.

E, dando retaguarda a tudo, deputados de todos os partidos. Os diretamente ligados ao Centrão – e ao bolsonarismo – atuando sem limites, através de bancos públicos, Caixa Econômica Federal e Banco de Brasilia. Os ligados a partidos de esquerda abrindo espaço para que confederações conseguissem recursos que compensassem o desmonte comandado pelo Supremo Tribunal Federal.

Até agora apareceram apenas os escândalos dos descontos em folha. Pior que isso, é o crédito consignado de aposentados. Fintechs sabiam quem ia se aposentar e, através de representantes espalhados por todo o país, entravam em contato e convenciam as vítimas a pegar o crédito consignado. A vítima aderia, como aderem hoje, todas as vítimas de bets espalhadas pelo país.

A Caixa Econômica Federal foi alvo de um golpe que, fosse outro o responsável, receberia repercussão contínua da mídia.

O presidente – indicado pelo todo poderoso Artur Lira – indicou o responsável pela Asset Caixa, que se dispôs a adquirir carteiras do Banco Master que, por sua vez, é apadrinhado pelo Senador Ciro Nogueira. Dois funcionários honestos recusaram a operação. Foram afastados. E ficou por isso mesmo. Um dos apadrinhados para a Asset é sócio de Lira em negócios em Alagoas. Os dois funcionários que cumpriram seu dever se perderam no anonimato.

O mesmo Ciro Nogueira propôs o aumento do Fundo Garantidor de Crédito para bancar as peripécias do Banco Master. De repente, tornou-se defensor do ajuste fiscal, propondo aumento de tributação dos grandes bancos – mas apenas porque resistiam ao aumento do FGC. Foi também padrinho da compra do Master pelo BRB do Governo do Distrito Federal.

Não sobrou um poder. No Tribunal de Contas da União, as investigações esbarraram no conselheiro Aroldo Cedraz. Na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), os processos do Master estão parados desde o ano passado. No Banco Central, a intervenção do ex-presidente Roberto Campos permitiu mais um ano de esperneio do Master, aumentando exponencialmente o tamanho do rombo.

Veja o mapa abaixo.

O poder das bets completa esse quadro dantesco de apropriação da poupança popular. Hoje em dia, segundo dados do Banco Central, metade da renda do brasileiro é comprometida com endividamento, uma bomba que vai estourar em um ponto qualquer no futuro.

A extensão dos consignados a trabalhadores de empresas privadas completará o ciclo: endividam-se com as bets, pegam o crédito consignado para apagar o incêndio, e por 6, 7 anos, comprometerão sua renda com o consignado.

À medida que esses escândalos vão explodindo, fica claro a falta de defesas do Estado brasileiro. O suicídio institucional da década de 2010, a brincadeira de derrubar presidentes, que teve a participação de todo o sistema de controle – STF, PF, MPF, Lava Jato, imprensa e o escambau – levou a isto: um país capturado na base pelo crime organizado e no topo pelo sistema político.

Estamos em um clima de fim de baile, onde todo o pudor foi recolhido, com Ministros do Supremo indo aos últimos bailes da Ilha Fiscal, em conferências suspeitas, bancadas por patrocinadores suspeitos, para se encontrar com empresários suspeitos em lugares selecionados, sem se dar conta da gravidade do momento.

Esse quadro provocará o crescimento exponencial do sentimento de revolta da população que, em algum ponto do futuro, explodirá em nova onda moralista, que será devidamente apropriada por aventureiros como os da Lava Jato, para também tirar também seu quinhão.

Acordem! Haverá um aventureiro que explodirá em um ponto qualquer do futuro, conduzido pelo clamor popular.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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