EM HOMENAGEM AOS 60 ANOS DA GLOBO NA VISÃO DO JORNALISTA FERNANDO MORAES

Fernando Moraes fez um apanhado dos feitos da Globo em seu nascedouro, mas uma pequena contribuição vai bem para homenagear a emissora

CHARGE DE PEDLOSWICK

Fernando Moraes soltou um texto com vários feitos da Globo nos seus 60 anos.

1960-1970 (Gênese da Globo e apoio ao regime militar)

 1.⁠ ⁠Firmou um acordo ilegal com o grupo Time-Life (1962–67)

 2.⁠ ⁠Apoiou o golpe militar de 1964

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 3.⁠ ⁠Silenciou sobre a repressão no regime militar

 4.⁠ ⁠Divulgou propaganda favorável ao AI-5 em 1968

 5.⁠ ⁠Censurou jornalistas e políticos críticos à ditadura

 6.⁠ ⁠Minimizou a importância da Passeata dos Cem Mil (1968)

 7.⁠ ⁠Endossou o slogan “Brasil: Ame-o ou Deixe-o” (1970)

 8.⁠ ⁠Promoveu o Milagre Econômico, ignorando a desigualdade

 9.⁠ ⁠Ocultou mortes causadas por tortura nos anos de chumbo

10.⁠ ⁠Excluiu opositores da cobertura política durante a ditadura

11.⁠ ⁠Omitiu informações sobre corrupção nas grandes obras da ditadura

12.⁠ ⁠Consolidou um controle monopolista sobre o mercado de TV

Darei minha pequena contribuição.

Em 1982, a Rede Globo resolveu fazer uma cobertura nacional das eleições. Montou sistemas de consolidação dos dados de todos os Tribunais Regionais Eleitorais (TRTEs), e soltava boletins diários, lidos se não me engano pelo âncora Carlos Nascimento.

Em São Paulo, ela resolveu fazer um acordo com o Estadão.

Na época, eu trabalhava no Jornal da Tarde, como chefe de reportagem da Economia. Durante o dia, recebíamos vários boletins da Globo, por telex, com os dados consolidados por estado.

O boletim trazia votação de cada partido no estado, dividida por capital e interior.

Para não ficar preso ao boletim, montei um pequeno programa no meu computador Dismac. O computador tinha 16 kb de memória, eu programava em DOS e o programa era armazenado em um gravador National. O programa recebia todos os dados dos estados e estimava a composição da Câmara de Deputados por partido.

Nos primeiros dias, havia uma ampla preponderância da Arena, o partido do governo. Nos dias seguintes, essa preponderância ia caindo.

Estranhei. Tudo bem que minha projeção se valia de uma simples regra de três. Mas porque no começo a Arena era tão maior?

Nos dias seguintes, César Maia soltou o brado no Jornal do Brasil: o sistema estava sendo fraudado pela Globo.

Imediatamente corri ao Departamento de Documentação do jornal, resgatei as edições de O Globo dos dias anteriores para confirmar minhas suspeitas. Em um dia, a informação de que os dados levantados pelo Globo batiam com os dos TREs.

Ué!, pensei, montei um mero programa com umas 500 linhas. Se dois programas apresentam o mesmo resultado, de duas uma: ou ambos estão certos, ou, se errados, um é cópia do outro. Não tem outro caminho.

Fui, então, ao Departamento de Sistemas do Estadão para conversar com o diretor – se não me engano, de nome Pontes. Apresentei as minhas dúvidas. Ele, então, abriu a gaveta de sua escrivaninha e me estendeu um papel, com uma recomendação:

  • Se você divulgar, eu nego.

Era uma carta da Globo, sugerindo a contratação da Proconsult – a empresa suspeita que montou o sistema.

Cauteloso, ele se informou sobre a empresa no mercado, não gostou do que ouviu e resolveu encomendar o sistema para a Gerdau-IBM, de quem o Estadão era cliente. Essa foi a razão de São Paulo ter sido o único estado que não apresentou mudanças significativas na composição da Câmara.

Mas onde estaria o golpe? Liguei para Eurico Andrade, com quem trabalhara na Veja, e que estava organizando a campanha de Marcos Freire em Pernambuco.

Atilado, ele já tinha se dado conta da manipulação.

  • O que eles querem é que desmontemos a fiscalização para poderem roubar na apuração.

As votações eram em cédulas.

Pernambuco foi esperto e não caiu na cilada. No Rio Grande do Sul, no entanto, Pedro Simon desmontou a fiscalização e foi alvo de uma fraude monumental. Havia sessões em votos em branco. E em muitas sessões havia rasuras nos votos pro-Simon, que eram anulados.

Tempos depois, descobri uma entrevista do Major Ludwig – o homem da comunicação do Palácio – em uma revista Playboy. Ele dizia que, nas últimas eleições, a apuração havia sido mais rápida nas capitais – onde a oposição tinha maioria. Assim, as primeiras notícias se espalhavam pelo mundo, passando a falsa impressão de que a oposição era majoritária. Nas próximas eleições, dizia ele, precisamos começar pelo interior, para impedir essa falsa sensação.

Quando começou a abertura, escrevi sobre esse tema em uma revista dedicada à imprensa. Imediatamente veio a resposta de Evandro Carlos de Andrade, chefe do jornalismo da Globo, negando a manobra.

Mas os dados não mentem.

UIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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