CRISTINA, SOBRENOME SINCERIDADE

Foi assim:

No finalzinho do século passado (1996 – 2000), eu editava uma revista alternativa e segmentada, dedicada à música brasileira – especialmente aos cantores e compositores desprezados ou esquecidos pela grande mídia, aos talentos jovens e a grupos musicais que despontavam na Lapa, nas rodas de samba que já se espalhavam pela cidade e, especialmente, ao samba.

Graças a essa publicação mensal, Revista Música Brasileira, eu conheci pessoalmente uma intérprete de quem já era fá desde que a vi cantando no Restaurante Barbas, em Botafogo, juntamente com Mauro Duarte, o Bolacha, em mini show que tinha roteiro de Lefê Almeida. Logo depois os três se juntaram em parceria para compor o samba do Bloco do Barbas, num Carnaval que passou (que, agora reunidos no astral, os três estejam perpetrando novas aventuras!).

Uma das edições da revista foi lançada na casa de show Arcos da Velha, sob os arcos da Lapa, durante roda de samba que reunia, entre outros artistas novos e experientes, o grupo Dobrando a Esquina (Marcelo Menezes, Luciane Menezes, Lenildo e Paulino Dias) e Cristina Buarque. Naquela noite fomos apresentados, descobrimos um monte de afinidades na música brasileira (eu desenvolvia umas pesquisas que acabaram virando livros, com os perfis dos compositores Geraldo Pereira e Wilson Batista; e ela era fã e intérprete contumaz de ambos) e nos encharcamos de Brahma, sua cerveja preferida, juntamente com os queridos “meninos” do Dobrando e o dono da casa, o amigo Jair Martins.

Vida que segue, encontrei com Cristina Buarque em inúmeras rodas de samba no Bip Bip, dividimos incontáveis mesas com Alfredinho e outros amigos, viramos cumádi e cumpádi por afinidade. Fiz uma entrevista com ela no pequeno apartamento que morava em rua de Botafogo (Tenho dúvidas se Assunção ou Bambina), antes da mudança de mala, cuia e seus gatos para Paquetá). Quando nossa conversa foi publicada na revista, publicamos também um texto sobre ela assinado por Luciane, acompanhado de foto maravilhosa de seu acervo pessoal, ela com Mauro Duarte, provavelmente no buteco Cantinho da Fofoca, em Botafogo.

Ainda no século passado ou no comecinho deste, passamos juntos uma noite inesquecível de bate-garrafas e cantoria em casa dos queridos Mary e Aldir Blanc, na Muda. Aldir comemorava as bodas de ouro de seus pais (Ceceu Rico e Dona Helena) e convidou meio mundo do povo dos bares (Bip, Arco, Carioca da Gema, Bar da Maria etc) para as comemorações. Dia quase raiando, saímos ao mesmo tempo eu, o produtor cultural e cantor Didu Nogueira, o superviolonista Jorge Simas e Cristina. Na Conde de Bonfim resolvemos tomar uma saideira num pé sujo que ainda não fechara ou acabara de abrir as portas. Lá pras tantas, dei a mão para um táxi e disse:

– Vamos todos juntos! Afinal, vai todo mundo para a Zona Sul.

E Cristina, surpreendendo:

– Tô fora! Vão vocês. Vou pegar um ônibus que passa em Botafogo.

Perguntamos, em coro:

– Ué! Por que isso, mulher?

Resposta:

– Porque vocês são chatos pra c…!

Quando concuía o livro “Alfredinho, sobrenome Bip Bip”, lançado um ano depois da partida do nosso querido amigo, pedi que escrevesse um depoimento sobre ele. Não o fez. O motivo:

– Não escrevo porque sobre Alfredo eu só posso falar bem. E isso vai parecer falso ou cabotino.

Ela era assim.

LUIS PIMENTEL ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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