
CHARGE DE MIGUEL PAIVA ” BLOG BRASIL 247″
De repente, o paciente que, segundo os médicos de Natal, já estava em processo de melhora, foi submetido a uma cirurgia de 12 horas.
Publicado em 24 de abril de 2025, 8:02
A imprensa em Brasília deve aos seus leitores uma investigação sobre o Hospital DF Star. O que está ocorrendo entre o hospital e Jair Bolsonaro não obedece a normas básicas de medicina.
Vamos a um Xadrez sobre as relações entre as cirurgias de Bolsonaro e as crises políticas que ele enfrenta.
Peça 1 – as cirurgias de Bolsonaro em momentos políticos críticos
A eleição de Bolsonaro foi garantida pela facada e pelas cirurgias a que foi submetido. Depois disso, sofreu outras cirurgias coincidindo com momentos de agravamento de crises políticas. Em todos os episódios, seu primeiro movimento pós-cirúrgico era aparecer de barriga de fora, em foto, expondo de forma quase pornográfica sua situação. Em uma das fotos, há uma simulação óbvia da foto “A Lamentação Sobre Cristo Morto”, do pintor italiano Andrea Mantegna. Até a presença de pessoa ao lado direito dele a foto copia.

25.09.2020 – aumentou a crise política com o Congresso, com as manobras do governo em relação às vacinas,
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03.07.2021 – alta da inflação, perda de emprego, a CPI do Covid em pleno andamento, a omissão do governo para fornecimento de insumo aos estados, as denúncias sobre corrupção na compra de vacinas e declarações de guerra ao sistema eleitoral e ao Supremo Tribunal Federal.
Agora, chegou-se ao ponto mais crítico: o início do julgamento de Bolsonaro. Qual a melhor forma de defender-se, segundo os padrões pouco corajosos de Bolsonaro: fazer-se de vítima.

Peça 2 – a crise em Natal
A equipe médica que o atendeu em Natal deu entrevista coletiva no dia 12 de abril descartando a necessidade de uma cirurgia e sustentando que o tratamento médico já melhorara a situação de Bolsonaro. Bastaria a continuidade do tratamento para normalizar sua situação. A alegação para a transferência para Brasília foi a de que Bolsonaro queria ficar mais perto da família.
Na viagem, esbanjou sorrisos e corações.

Peça 2 – a troca programada do cirurgião
Em Brasília, surpresa! Uma cirurgia já acertada com um novo médico, Cláudio Birolini, apresentado à imprensa como “ próximo da ex-primeira dama Michele Bolsonaro”, descartando o cirurgião-geral Antonio Luiz Macedo, que o operou nas quatro vezes anteriores. Ou seja, um dia depois da ocorrência em Natal, e da melhora de Bolsonaro, já havia sido escolhido o novo cirurgião e marcada a cirurgia. Tudo isso coincidindo com o próximo julgamento de Bolsonaro.
Não se toma uma decisão dessa ordem da noite para o dia. E qual o conhecimento médico de Michelle para dar uma ordem de tamanha responsabilidade – sem uma reclamação sequer dos filhos? Sabendo-se do histórico de conflitos entre filhos e Michelle, é evidente que a troca obedeceu a um consenso familiar prévio.
Peça 3 – a urgência improvisada
De repente, o paciente que, segundo os médicos de Natal, já estava em processo de melhora, foi submetido a uma cirurgia de 12 horas no dia seguinte à sua chegada no hospital.
Na entrevista coletiva, o cardiologista da equipe, Leandro Echenique, deu o tom da suposta gravidade da situação:
“Isso (a resposta do organismo do paciente) pode levar a uma série de intercorrências. Aumenta o risco de algumas infecções, de precisar de medicamentos para controlar a pressão. Há um aumento do risco de trombose, problemas de coagulação do sangue. O pulmão, a gente acaba tendo um cuidado específico […] Todas as medidas preventivas serão tomadas, por isso que ele se encontra na UTI neste momento”.
Peça 4 – a surpreendente recuperação
Segundo o próprio médico, na manhã do dia seguinte, o paciente que corria riscos de trombose, coagulação e o escambau, já fazia “piadinhas” com os médicos. À tarde, Michele entrou no quarto de Bolsonaro e o fotografou fazendo sinal de positivo.
Havia a orientação de repouso e isolamento absoluto. No entanto, o hospital permitiu a livre movimentação de políticos e familiares dentro da UTI, e até a gravação de uma live – repito: dentro da UTI! -para ajudar a vender um capacete de grafeno, da empresa da qual é sócio, e para receber políticos.
O comercial do capacete foi acompanhado por dois filhos e por Nelson Piquet, com autorização do hospital. No início da transmissão, os filhos disseram que Bolsonaro evitaria falar, devido à recuperação da cirurgia. Mas o doente de cirurgia gravíssima fugiu ao enredo e falou por diversas vezes na live. Volte um pouco, leia os alertas do médico no ítem 4 e veja se guarda qualquer lógica com a live em família.
Peça 5 – à guiza de inconclusão
Como foi possível esse livre trânsito de pessoas na UTI, depois de uma cirurgia complexa de 12 horas e de todos os alertas da equipe sobre riscos pós-cirúrgicos?
Tem algo de estranho nessa história, que talvez confirme as avaliações dos sistemas de Inteligência Artificial, em cima das fotos de Bolsonaro.
Há várias hipóteses:
- Bolsonaro precisaria mesmo de uma nova cirurgia e tratou-se de escolher o melhor momento para utilizá-la como atenuante à ação do Supremo.
- Bolsonaro é extremamente sensível a pressões, e sofre efeitos psicossomáticos que se refletem no seus intestino.
- Em qualquer das hipóteses, houve a dramatização da cirurgia pela equipe médica.
Seja qual for a hipótese, os bravos colegas de Brasilia nos devem uma investigação mais apurada e in loco.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)