AS TARIFAS VÃO PARAR A EXPANSÃO DA CHINA ?

CHARGE DE LATUFF ” BLOG BRASIL 247″

A economia da China cresceu 1,2% no 1º trimestre, com alta de 5,4% frente ao mesmo período de 2024. Antes da escalada até 145% nas tarifas alfandegárias do governo Trump, o desempenho já foi pior que a taxa anual de 6,6% prevista pelo JP Morgan. O banco reduziu a projeção para o PIB chinês de 2025 de 4,6% para 4,4% – no 2º trimestre caiu de 3,0% para 1,6%, se manteve em 1,8% no 3º e aumentou de 2,0% para 3,0% no 4º trimestre. A queda maior seria em 2026, para 3,1%. O banco analisa os impactos na economia chinesa e mundial.

“Como as tensões comerciais impactarão a economia da China? Qual é a perspectiva de crescimento da China, como ela será impactada pelas tensões comerciais entre EUA e China e quais são algumas das possíveis respostas políticas?”. Segundo o JP Morgan, “a China está intensificando seus esforços para impulsionar o crescimento e traçando planos para aumentar o estímulo monetário e fiscal enquanto se prepara para um ano de incertezas com as últimas tarifas lideradas pelos EUA entrando em vigor”.

“Após uma forte recuperação no final do ano passado, a China atingiu seu patamar de crescimento de 5%, impulsionado em grande parte pelas exportações. Mas isso será possível novamente após a escalada substancial nas tensões comerciais? Como as tarifas dos EUA sobre a China impactarão o crescimento econômico?”

A economia da China teve um início de ano sólido, já que políticas governamentais de apoio ajudaram a impulsionar a demanda interna e a atividade manufatureira se expandiu no ritmo mais rápido em um ano em março. A forte emissão de títulos do governo, programas de troca e atualização tecnológica, combinados com a retomada de novos pedidos, mantiveram o crescimento do 1º trimestre estável em cerca de 5,4% em relação ao ano anterior.

Riscos comerciais

Mas os riscos da política comercial dos EUA se intensificaram a níveis inesperados, com o governo Trump anunciando novas e abrangentes taxas sobre a China, ao mesmo tempo em que suspendeu uma série de tarifas globais que entrariam em vigor para outros parceiros comerciais ao redor do mundo. O último aumento de tarifas dos EUA elevou as taxas sobre importações chinesas para 145%, isentando alguns dispositivos e componentes de tecnologia muito utilizados por enquanto, com uma tarifa universal de 10% afetando todos os outros parceiros comerciais. 

Em resposta às tarifas recíprocas do governo Trump, a China anunciou que elevaria a taxa tarifária sobre as importações dos EUA de 34% para 125%.

A China também adicionou 11 empresas americanas à Lista de Entidades Não Confiáveis e 16 empresas americanas à Lista de Controle de Exportação, impôs controles de exportação sobre sete minerais relacionados a terras raras, iniciou uma investigação antimonopólio sobre o Dupont China Group e iniciou investigações antidumping sobre importações de tubos de tomografia computadorizada médicos originários dos EUA e da Índia.

Esta é uma mudança radical em relação à resposta da China às duas rodadas anteriores de aumentos de tarifas de 10% nos EUA, em fevereiro e março, quando a reação foi mais direcionada. As crescentes tensões comerciais devem levar a uma desaceleração no crescimento econômico da China nos próximos trimestres, de acordo com as previsões atuais do JP Morgan Research.

“A tarifa recíproca de 34% nos levou a revisar para baixo a previsão de crescimento do PIB para o ano inteiro. Primeiro, em relação ao canal comercial, o aumento tarifário maior do que o esperado dos EUA implica um declínio maior nas exportações da China para os EUA e uma perspectiva econômica global mais fraca, o que levará a um declínio modesto nas exportações da China para o resto do mundo”, disse Haibin Zhu, economista-chefe para a China e chefe de Pesquisa Econômica da Grande China no JP Morgan.

As tarifas americanas acima do esperado sobre a China e o resto do mundo devem reduzir o crescimento chinês em cerca de 0,7 ponto percentual, de acordo com o JP Morgan Research. Após levar em conta estímulos fiscais adicionais no final deste ano, a previsão do PIB para o ano inteiro é ligeiramente reduzida de 4,6% antes do anúncio da tarifa para 4,4%.

No geral, estimamos um impacto adicional de 0,3% do PIB via canal comercial. Em 2º lugar, impactos indiretos, como o consumo e o investimento mais fracos em setores relacionados à exportação e o sentimento empresarial mais fraco em meio a maiores incertezas externas, tendem a prejudicar o crescimento da China em 0,4 ponto percentual. Em uma análise estática, os dois canais apontam para um impacto de cerca de 0,7 ponto percentual no crescimento do PIB da China”, acrescentou Zhu.

Até o momento, a China é o primeiro país a responder às tarifas recíprocas dos EUA com contramedidas de igual magnitude. A possível retaliação e escalada de outros parceiros comerciais aumentará a possibilidade de uma recessão nos EUA e na economia global, levando a uma demanda e perspectivas de crescimento mais fracas. No geral, estimamos um impacto adicional de 0,3% do PIB via canal comercial. Em segundo lugar, impactos indiretos, como o consumo e o investimento mais fracos em setores relacionados à exportação e o sentimento empresarial mais fraco em meio a maiores incertezas externas, tendem a prejudicar o crescimento da China em 0,4 ponto percentual. Em uma análise estática, os dois canais apontam para um impacto de cerca de 0,7 ponto percentual no crescimento do PIB da China”, acrescentou Zhu.

Até agora, a China é o primeiro país a responder às tarifas recíprocas dos EUA com retaliações de igual monta. A possível retaliação e escalada de outros parceiros comerciais aumentará a possibilidade de uma recessão nos EUA e na economia global, levando a uma demanda e perspectivas de crescimento mais fracas. Há a possibilidade de outros parceiros comerciais elevarem tarifas sobre produtos chineses para proteger suas indústrias ou como estratégia de negociação com os EUA (em troca de redução de tarifas americanas).

Cresce o risco de recessão

“Embora a demanda mais fraca dos EUA tenha um impacto marginal na previsão de crescimento da China, a demanda mais fraca do resto do mundo comprometerá os esforços da China para expandir as exportações para o mercado não americano como uma medida compensatória”, disse Zhu.

As chances de uma recessão nos EUA e no mundo giram em torno de 60%, de acordo com as previsões do JP Morgan Research, com a previsão básica de uma recessão nos EUA.

Impactos no Brasil
A sorte do Brasil é que, com exceção do minério de ferro e do petróleo, que são commodities cuja demanda está condicionada ao vigor econômico, a maior parte das exportações brasileiras para a China é de alimentos (soja, milho, açúcar, e carnes – bovina, suína e de frango), cuja demanda é mais constante e tende a ganhar o espaço com a suspensão do fornecimento dos EUA. E ainda devem surgir espaços em manufaturados ou semielaborados para a China, no caso da Embraer, com a possível redução de encomendas à Boeing, e para celulose de eucalipto.

No Brasil, a LCA Consultoria também revisou o cenário das projeções para os EUA, com a inflação tendo impacto de 0,8 a 1,4 ponto percentual, levando a tara para a faixa entre 3,7% e 4,2% em 2025. Já a projeção para o crescimento do PIB dos EUA em 2025 foi revista de 1,6% para 0,8%; e a projeção para 2026 foi reduzida de 1,8% também para 0,8%, o que elevará o desemprego para cima. Por isso, a LCA prevê baixa dos juros no 2º semestre deste ano e na primeira metade de 2026, com reflexos na baixa da Selic no Brasil, no começo de 2026, depois de fechar a 15% este ano.

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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