
Hoje trataremos do álbum Vivo Sonhando (independente, através de campanha de financiamento coletivo), de Gabriel Veras. É seu primeiro trabalho como solista de violão de seis cordas: apesar de fera no violão de sete cordas, ele usa-o apenas quando acompanha cantores e solistas. Com oito faixas, cuja direção musical foi entregue ao violonista e compositor Iuri Bittar, Gabriel se dá ao choro, aos tangos brasileiros, ao afrosamba e a outros gêneros do repertório popular violonístico.
Mas o que impressiona em Vivo Sonhando, muito mais até do que o fato de ser o primeiro de um jovem, é a forma como Gabriel se entrega ao instrumento: com rara coerência melódica. Por mais que outros jovens também se dediquem hoje ao violão (salve eles!), sempre haverá espaço para um se sobressair e despontar como o craque da parada, aquele que, pleno de emoção nas mãos, tem os dedos aptos a burilar os arranjos, ora carregados de sentimento, ora com dedilhados enérgicos.
Particularmente, prefiro o comedimento à intensidade dos violonistas. Mas o que mais admiro mesmo é quando estas duas virtudes se tornam cúmplices do músico, alçando-o ao elenco dos bambas do instrumento.
E a sonoridade do violão do cara? Meu Deus, o que é aquilo? Gabriel Veras toca demonstrando gostar do que brota do seu violão – sem dúvida, um instrumentista com autoestima em alta –, deixando transparecer a alegria de poder oferecer ao ouvinte o que ama fazer com seu ofício. Ofício este que ele ainda irá desenvolver e que, evidentemente, aperfeiçoará para seguir encantando os amantes da boa música instrumental.
“Vivo Sonhando” (Garoto): o violão vem despertando sentimentos. Bela abertura de tampa. “Interrogando” (Joao Pernambuco): os dedos vibram na obra imortal do genial João Pernambuco, acrescentando-lhe vigor. “Amigo Sena” (Canhoto da Paraíba): não poderia faltar, e aí esta o grande Canhoto, pelas mãos de Gabriel. “Enigma” (Garoto): outro grande tema do mestre vem soar nos ouvidos agradecidos do ouvinte. “Odeon” (Ernesto Nazareth): bem-vindo o choro de Nazareth, aqui trazido pela emoção de Gabriel. “Três Colinas” (Iuri Bittar): Bittar diz presente com esta bela peça. “Choro Triste” (Aymore – 1908/1979): tão triste quanto lindo é este choro de Aymoré. “Canto de Xango” (Baden Powell): não sei como vai ser, mas Baden tem que ouvir Gabriel Veras tocar esse canto que, carregando a força das entidades sagradas, abençoa compositores e intérpretes.
Daqui do meu canto, saúdo Gabriel Veras e seu violão!
Ficha técnica:
Gabriel Veras – violao; Iuri Bittar – direção musical e coordenação; Joao Ferraz – mixagem e masterizacao; Roberta Correa – engenheira de áudio e edição; Yuri Reis – arte da capa; Yasmim Loureiro – producao executiva e design; gravado no estúdio Radames Gnatalli, no Rio de Janeiro.
AQUILES REIS ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)