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O principal assessor econômico de Donald Trump, Stephen Miran, revelou que a estratégia de Washington é usar tarifas para sustentar o seu império financeiro
O principal assessor econômico do presidente Donald Trump revelou que Washington está usando tarifas como alavancas para forçar países a pagarem aos Estados Unidos e ajudar a manter seu império global.
Stephen Miran, presidente do Conselho de Assessores Econômicos dos EUA, fez um discurso em 7 de abril no qual detalhou a estratégia de tarifas do governo Trump. Uma transcrição oficial de suas declarações foi publicada pela Casa Branca.
Miran afirmou que os Estados Unidos fornecem dois principais “bens públicos globais”: primeiro, um “guarda-chuva de segurança” supervisionado pelo exército americano; e segundo, o dólar e os títulos do Tesouro, usados como principal ativo de reserva no sistema financeiro internacional.
“Ambos são custosos para nós”, reclamou. “O presidente Trump deixou claro que não tolerará mais que outras nações se aproveitem gratuitamente”.
Falando em nome do governo Trump, Miran insistiu que “é necessário um compartilhamento de custos mais justo em nível global”, acrescentando: “Se outras nações querem se beneficiar do guarda-chuva geopolítico e financeiro dos EUA, então precisam fazer a sua parte e pagar a sua parcela justa”.
Resumindo, o governo Trump argumenta que países estrangeiros devem ajudar a “arcar com os custos” de manter o império estadunidense. Washington ameaça impor tarifas altíssimas a nações que não aceitarem fazer concessões significativas em benefício da economia dos EUA, mesmo que isso prejudique as suas próprias economias – parte de um hipotético “Acordo de Mar-a-Lago”.
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Governo Trump busca “preservar” a “dominância militar e financeira” global dos EUA
O governo Trump não está tentando desmontar o império estadunidense; pelo contrário, quer fortalecê-lo. Stephen Miran, como principal assessor econômico de Trump, enfatizou isso.
“Nossa dominância militar e financeira não pode ser dada como certa, e o governo Trump está determinado a preservá-las”, disse.
“O presidente deixou claro que os EUA estão comprometidos em permanecer como o provedor da moeda de reserva, mas o sistema precisa se tornar mais justo”, acrescentou Miran.
Trump ameaçou impor tarifas de 100% a membros dos BRICS e a qualquer país que tentar desafiar a hegemonia do dólar no sistema financeiro internacional.
Na sessão de perguntas e respostas após o seu discurso em 7 de abril, Miran destacou:
“Não penso que a dominância do dólar seja um problema. Penso que é uma coisa ótima. Tem alguns efeitos colaterais, que podem ser problemáticos, e eu gostaria de encontrar maneiras de amenizá-los, para que a dominância do dólar possa continuar por décadas, perpetuamente. Penso que seria fabuloso.”
Quais são esses efeitos colaterais negativos? Miran destacou que o fato de o dólar ser a moeda de reserva global obriga os EUA a manter déficits comerciais crônicos e “insustentáveis” e lamentou que esse sistema tenha “dizimado o nosso setor manufatureiro”.
Isso é um reconhecimento implícito do dilema de Triffin, identificado pelo economista Robert Triffin em 1960. Ele alertou que há uma contradição fundamental na política monetária doméstica do país que emite a moeda de reserva global.
Os EUA precisam ter déficits em conta corrente (déficits comerciais com o resto do mundo) para fornecer liquidez a outros países, que precisam de dólares para o comércio internacional e reservas cambiais.
No entanto, Trump quer usar tarifas para forçar países com superávits comerciais a comprarem mais dos EUA, eliminando esses déficits necessários para sustentar o sistema do dólar – algo que, paradoxalmente, Trump também quer preservar.
Trump apresenta 5 exigências para que países paguem aos EUA
Ou seja, o governo Trump quer “ter o bolo e comê-lo também”: busca se beneficiar do sistema imperial, mas de minimizar os seus efeitos colaterais negativos.
Em seu discurso, Miran listou cinco maneiras pelas quais o governo Trump quer que nações estrangeiras “paguem a sua parte justa” ao império estadunidense:
- Aceitar tarifas sobre as suas exportações para os EUA sem retaliar, gerando receita para o Tesouro dos EUA financiar “bens públicos globais”.
- Parar com as práticas comerciais “injustas”, abrindo os seus mercados e comprando mais dos EUA.
- Aumentar gastos com defesa e comprar produtos estadunidenses, aliviando a pressão sobre as forças armadas dos EUA e criando empregos no país.
- Investir e instalar fábricas nos EUA – assim, não enfrentarão tarifas.
- Simplesmente “escrever cheques” para o Tesouro dos EUA, ajudando a financiar os “bens públicos globais”.
Quando Miran sugeriu que países “escrevam cheques”, ele se referia à compra de títulos do Tesouro de longo prazo (como títulos de 100 anos) com juros baixos, que perderiam valor com a inflação, subsidiando indiretamente Washington.
Miran já havia feito recomendações semelhantes em um relatório de novembro de 2024 – mês em que Trump venceu a eleição presidencial. O documento, intitulado “Um Guia para Reestruturar o Sistema Comercial Global”, afirmava: “Podemos estar à beira de uma mudança geracional nos sistemas financeiro e comercial internacionais”.
Governo Trump acredita que EUA podem vencer a guerra comercial com a China
O governo Trump planeja travar uma guerra comercial e impor tarifas altas a qualquer país que recusar as suas exigências.
A China é o principal alvo. Trump já impôs tarifas de 125% a produtos chineses. Em seu discurso, Miran chamou Pequim de “nosso maior adversário” e defendeu a “desvinculação econômica”, criando cadeias de suprimento que excluam a China.
O governo chinês respondeu, denunciando o “unilateralismo e bullying” dos EUA e afirmando: “Não há vencedores em uma guerra comercial. Se os EUA insistirem nesse caminho, a China lutará até o fim.”
No entanto, Miran argumentou que os EUA podem vencer uma guerra comercial:
“Países com superávits comerciais são inflexíveis – não conseguem substituir a demanda estadunidense. Já os EUA têm opções: produzir em casa ou comprar de aliados. Essa diferença faz com que outros países acabem arcando com os custos das tarifas.”
Ou seja, os EUA estão apostando que a China recuará primeiro. Enquanto isso, economistas alertam que a classe trabalhadora estadunidense sofrerá com a inflação gerada pelas tarifas.
Um “Acordo de Mar-a-Lago” pode remodelar a ordem financeira global?
O governo Trump quer reformular o império global construído após a Segunda Guerra, quando os EUA emergiram como a potência dominante.
Na conferência de Bretton Woods (1944), os EUA estabeleceram o dólar como moeda de reserva global, concedendo a si mesmos o “privilégio exorbitante” de imprimir a moeda mundial.
Wall Street foi a grande beneficiária desse sistema. Mas Trump agora reclama que é “custoso” mantê-lo – os EUA gastam trilhões sustentando 800 bases militares no exterior.
Em vez de um sistema mais equilibrado, Trump quer concentrar ainda mais poder nos EUA, exigindo tributos do resto do mundo.
Seu plano é comparado ao “Plaza Accord” de 1985, quando o governo Reagan forçou aliados como Japão e Alemanha a valorizarem as suas moedas, ajudando indústrias estadunidenses. O acordo arruinou a economia japonesa, criando uma bolha que estourou nos anos 1990.
Trump espera impor um “Acordo de Mar-a-Lago” semelhante, mas a China – hoje a maior economia (em PPC [poder de compra]) – já sinalizou que não cederá.
Hudson Institute: O think tank neoconservador por trás da estratégia
Stephen Miran fez o seu discurso em um evento fechado do Hudson Institute, um think tank neoconservador financiado por bilionários como Harlan Crow, Rupert Murdoch e Charles Schwab, além de corporações como Chevron, Meta e Walmart e contratados do Pentágono como Lockheed Martin e Boeing.
O escritório de Taiwan nos EUA também financia o Hudson Institute, conhecido por sua retórica anti-China. Durante o discurso de Miran, quatro bandeiras foram exibidas: EUA, Israel, Ucrânia e Taiwan.
BEN NORTON BLOG GEOPOLITICAL ECONOMY REPORT” ( REINO UNIDO) / ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)
Jornalista independente e editor do Geopolitical Economy Report