O PAPEL DO BRASIL NO CENÁRIO MUNDIAL

CHARGE DE AROEIRA ” BLOG BRASIL 247″

Na visita de Lula ao Japão, o primeiro-ministro saudou seu discurso com palmas prolongadas, mesmo após terem cessado as palmas do auditório. A imprensa proclamou-o como a liderança no Sul Global.

Na China, o Brasil ganhou dimensão geopolítica não apenas perante o governo, mas de setores influentes da população.

O que significa isso? 

Há uma desordem global ampla, precipitada pelo presidente norte-americano Donald Trump, que resultará ou em uma guerra mundial ou em uma nova ordem.

 Tudo que você precisa saber. Todos os dias, no seu e-mail.

Assine nossa newsletter para não perder os principais fatos e análises do dia.

As características desse terremoto são nítidas:

  1. Guerra comercial, na qual alianças históricas estão sendo exterminadas pelo estilo Trump. Hoje em dia, vê-se a aproximação da Rússia e da China. Em março de 2025, os ministros das Relações Exteriores do Japão, China e Coreia do Sul reuniram-se em Tóquio para discutir a ampliação da cooperação trilateral. As conversas abordaram desafios comuns, como o envelhecimento populacional, taxas de natalidade em declínio, desastres naturais e a promoção de uma economia verde. Além disso, enfatizou-se a importância de aumentar o entendimento mútuo e a confiança entre as nações.
  2. A questão ambiental, impactada pelo estilo Trump. No primeiro governo ele retirou os EUA do Acordo de Paris, enfraqueceu o Plano de Energia Limpa do governo Obama e flexibilizou as leis de qualidade da água e do ar. Suas decisões foram marcadas pelo desmonte de regulamentações climáticas, incentivo a combustíveis fósseis e ceticismo em relação às mudanças climáticas.
  3. A tentativa de tomada do poder nacional pelas big techs.

Nesse cenário turbulento, o Brasil entra com enormes trunfos.

Na diplomacia global, a posição histórica do Itamarati, de equidistância e bom senso, e a envergadura internacional de Lula. O trabalho sistemático da mídia, em tentar desconstruí-lo, sequer arranha seu prestígio internacional

Na questão do meio ambiente, o Brasil entra no jogo como o país com maior capacidade de produzir energia limpa.

Finalmente, na questão do comércio, tem o trunfo de ser o maior produtor mundial de alimentos e de dispor de um mercado de consumo potencialmente poderoso.

Como aproveitar

O grande desafio é como se organizar para aproveitar esse desafio.

Até a Segunda Guerra, a Argentina era a grande economia da América Latina. Durante o conflito, apesar da intensa atividade de Raul Prebisch, pró-EUA, a Argentina apostou na Alemanha, além de uma convivência histórica com a Inglaterra.

O Brasil apostou na nova potência, conseguiu contrapartidas – dentre as quais, a fundamental construção da Companhia Siderúrgica Nacional – e ultrapassou a economia argentina.

Agora, vive-se um dilema semelhante – mesmo sem clima de guerra bélica. Tem-se duas potências disputando o mundo: EUA e China. Uma delas, os EUA, começou a praticar uma política imperial, de isolacionismo e demolição do seu grande trunfo, seu soft power: o modelo de democracia ocidental.

A China, por outro lado, funda-se no princípio de desenvolver seus parceiros comerciais, visando conseguir benefícios recíprocos.

Essa mesma política de boa vizinhança foi desenhada na América Latina por Nelson Rockefeller – sem dúvida, o maior estadista do capitalismo americano. Dizia ele que o segundo New Deal ocorreria com o deslanche econômico da América Latina, dentro do modelo proposto por ele.

Manobrando instituições de fomento dos EUA, Rockefeller ajudou a desenvolver a agricultura brasileira, lançou as bases do sistema financeiro, implantou o rodoviarismo – através da Lei do Imposto Único sobre Combustíveis, Lubrificantes, Energia Elétrica e Minerais do País, que foi instituída no Brasil em 1957.

O objetivo era financiar investimentos na infraestrutura de transporte, especialmente a construção de rodovias, como parte do Plano de Metas do governo Kubitschek.

A lei permitiu o direcionamento de verbas para o rodoviarismo, praticamente selando o destino das ferrovias. O autor intelectual da lei foi Assis Figueiredo, o homem colocado por Getúlio Vargas no DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) para ser a contrapartida brasileira no programa de aproximação com os EUA, conduzido justamente por Rockefeller, o herdeiro de companhias de petróleo.

Do mesmo modo, ofereceu ao prefeito de São Paulo, Prestes Maia, um plano urbanístico que acabou com os bondes e transformou a cidade em um amontoado de automóveis.

Finalmente, foi quem acordou o Departamento de Estado para a necessidade de substituir a Teologia da Libertação por religiões que estimulassem o empreendedorismo e os valores do capitalismo norte-americano.

Essa capacidade geopolítica, refinada, com visão de longo prazo, gradativamente foi substituída por bombardeiros e canhoneiras e, agora, chega ao final com Trump.

Relações com a China

Agora, essa sabedoria foi encampada pela China. Estrategicamente, seu parceiro mais relevante é o Brasil. O Itamaraty, cauteloso, mantém uma equidistância entre os dois pólos. O estilo Trump, em breve, exigirá uma definição.

Ponto central: o que o país está exigindo da China (ou, agora, do Japão) como contrapartida para essa aproximação? Nos anos 50, o país teve inteligência estratégica para exigir participação de capital nacional nas montadoras que se instalavam, e uma indústria de autopeças nacional.

No início do pré-sal, antes da destruição perpetrada pela Lava Jato, a Petrobras conseguiu a instalação na Ilha do Fundão de grandes laboratórios de várias multinacionais, trocando informações e experiências com técnicos brasileiros.

O governo Lula deve ao país uma estratégia clara em relação aos negócios com a China.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *