
CHARGE DE QUINO ( ARGENTINO)
Os partidos políticos que têm sido os centrais da nossa democracia. PS e PSD, enfrentam dois desafios essenciais e seria bom que os vissem enquanto tal, a tempo de suster uma absoluta anomia e sujeição a manipulações diversas quanto às opções públicas e convicções ideológicas.
O primeiro e mais relevante desafio será o de compreender e ir ao encontro dos eleitores mais jovens. Este aspeto é tão evidente ao ponto de, por exemplo, ter sido o PS o partido com assento na Assembleia da República em que menos eleitores abaixo dos 35 anos confiaram nas últimas eleições legislativas. Metade dos eleitores do PS tem mais de 54 anos, apenas 15% tem menos de 35. Os eleitores mais jovens distanciaram-se e não apenas através da abstenção. Mudar este estado de coisas é decisivo para a continuidade destes partidos e, pelos vistos, especialmente decisivo para assegurar que há em Portugal uma estrutura política no âmbito da esquerda democrática relevante e capaz de assumir responsabilidades, que defende o Estado Social e acredita numa economia de mercado ponderada por imperativos de igualdade e de justiça social – e onde os mais jovens se possam rever.
Lidar com este assunto não se deve esgotar no aumento e qualificação das capacidades de comunicação usando novas ferramentas tecnológicas. É necessário também, por exemplo, repensar seriamente o papel e a função das estruturas das juventudes partidárias e até a sua justificação hoje.
É preciso ir ao encontro dos estudantes, essa base de recrutamento partidário tradicional das juventudes partidárias, mas também dos jovens profissionais, dos jovens imigrantes em Portugal, dos jovens portugueses que estudam ou trabalham fora de Portugal, em moldes novos, afastando o modelo simplista de um partido como mero aparelho partidário organizado para ganhar eleições, internas e gerais, ajustado apenas a gerações de militantes e eleitores que o reconhecem pelo seu histórico.
Como podem os eleitores mais jovens (15-39 anos) ser os mais satisfeitos com o funcionamento da democracia em Portugal, 67% (contrastando com os 55% daqueles com mais de 55 anos), e afastar-se desde logo do PS, o partido que mais tempo assumiu funções governativas? (Eurobarómetro, Socio-Demographic Trends (2007-2023) – Portugal, 2023).
A política democrática, que é estruturalmente uma festa cívica, no sentido de ser um conjunto de momentos e de desempenhos temporários especiais, fora do comum, a favor dos outros e com esse reconhecimento coletivo, precisa que os partidos sejam melhores e estejam disponíveis para além da sua lógica interna e de conquista de poderes.
Os partidos podem e devem ser também pedagogia de cidadania, instrumentos de formação, formas de rotura perante o quotidiano e de questionamento do aparentemente certo e incontornável.
MIGUEL ROMÃO” DIÁRIO DE NOTÌCIAS” ( PORTUGAL)
Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa