CLÁUDIO LEMBO, EX-GOVERNADOR DE S.PAULO: UM CRÍTICO DA BURGUESIA E CONSERVADOR RESPEITADO PELA ESQUERDA

“Confesso a profunda angústia de ver meu País tão abaixo do nível de civilização. Uma democracia frágil”, disse Lembo em 2018

Cláudio Lembo, jurista, professor e ex-governador de São Paulo, morreu na madrugada desta quarta-feira (19), em São Paulo. A informação foi confirmada pela Secretaria de Comunicação de São Paulo, que emitiu uma nota de pesar em comunicado à imprensa. A causa da morte não foi revelada. O velório ocorrerá na Assembleia Legislativa de São Paulo.

O Governo de São Paulo lamenta o falecimento do ex-governador do Estado, Cláudio Lembo, aos 90 anos de idade. (…) Nossos sentimentos aos familiares e amigos. O governador Tarcísio de Freitas decretou luto oficial de 3 dias“, diz o informe do governo do Estado.

A nota lembra a trajetória de Lembo, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela USP, doutor em Direito pela Mackenzie, onde também foi reitor. Cláudio Lembo assumiu o governo do Estado entre abril de 2006 e 1º de janeiro de 2007 e foi vice-governador de São Paulo de 2003 a 2006. Na Prefeitura da Capital, foi secretário de Negócios Extraordinários, Negócios Jurídicos e Planejamento.

O velório será realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo, no Hall Monumental, entre 10h30 até 15h00 desta quarta-feira (19). O sepultamento ocorrerá no Cemitério do Araçá, às 16h. Batedores da Polícia Militar acompanharão o cortejo até o cemitério.

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Setembro de 2011. Governo do Estado de SP inaugura retrato oficial de Claudio Lembo. Foto: Ciete Silvério

Crítico da burguesia

Em meados de 2006, cerca de um mês de o PCC iniciar uma série de ataques que marcaram a história de São Paulo, Lembo assumiu o governo e a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista com o político. Assinada por Mônica Bergamo, a matéria mostra as críticas de Lembo à burguesia brasileira, a começar pela responsabilização pelo seu papel nefasto na formação história do País.

“A casa grande e a senzala. A casa grande tinha tudo e a senzala não tinha nada. Então é um drama. É um país que quando os escravos foram libertados, quem recebeu indenização foi o senhor, e não os libertos, como aconteceu nos EUA. Então é um país cínico. É disso que nós temos que ter consciência”, disse Lembo ao ser perguntado onde há responsabilidade da burguesia sobre a crise que o Estado vivenciava à época.

Ele também criticou a relação promíscua entre a burguesia e o Estado. “Querem estar sempre nos palácios dos governos porque querem ter benefícios do governo. Isso não vai ter aqui nesses oito meses [prazo que resta para Lembo deixar o governo]. A bolsa da burguesia vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social brasileira no sentido de haver mais empregos, mais educação, mais solidariedade, mais diálogo e reciprocidade de situações.”

Repercussão e homenagens

Em nota pública, a diretoria da Faculdade de Direito da USP lamentou “a perda para comunidade acadêmica e para a sociedade.”

Nas redes sociais, o presidente Lula prestou solidariedade pela morte do ex-governador. “Recebi com tristeza e consternação a notícia do falecimento do professor, jurista, acadêmico e ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo. Meu amigo desde os anos 1970, Lembo foi símbolo de Política escrita assim, com P maiúsculo. Representante do campo conservador, sempre tivemos diferenças e, ao mesmo tempo, uma capacidade de diálogo franco, aberto e generoso. Com suas convicções, teve amplo destaque na política e se consolidou como voz importante no direito, tendo sido reitor da Universidade Mackenzie. Deixa um legado de compromisso com a democracia, com os valores constitucionais e com o amor pelo Brasil. Meus sentimentos à família e aos amigos de Cláudio Lembo”, escreveu Lula.

Em 2018, Lula publicou nas redes sociais um recorte de um vídeo de Lembo criticando a instrumentalização do Poder Judiciário. Lembo foi um dos primeiros homens de influência do centro-liberal a dizer publicamente que Lula vinha sofrendo perseguição na Lava Jato. “Confesso a profunda angústia de ver meu País tão abaixo do nível de civilização como está no momento atual. É uma democracia frágil, de fachada, o que é lamentável. Vivemos uma grande farsa”, disparou o jurista.

O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, publicou a seguinte mensagem: “Se tem alguém que cumpriu sua missão, esse alguém foi Cláudio Lembo. Cidadão exemplar, com excelente formação e um homem público que não deixa uma única observação negativa.”

Deputado federal e presidente nacional do MDB, Baleia Rossi também comentou o falecimento do ex-governador. “Lembo era um homem cordato e inteligente, que sabia como poucos construir boas relações na vida pública.”

O PSDB nacional também emitiu nota. “O PSDB lamenta o falecimento do ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo. Um homem público íntegro e que tanto contribuiu para o desenvolvimento de seu Estado e do Brasil. Nossa solidariedade aos familiares e amigos.”

Trajetória de vida

Cláudio Salvador Lembo nasceu em São Paulo no dia 12 de outubro de 1934, filho de Leonino e Rosa Lembo.

Formou-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, na turma de 1958. Advogado desde 1959, doutorou-se em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, em 1986. Desde 1975, é professor titular de Direito Constitucional e Direito Judiciário Civil nessa mesma instituição educacional, da qual foi coordenador do curso de pós-graduação entre 1973 e 1994 e reitor entre 1997 e 2002.

Entre 1962 e 1997, ocupou no Banco Itaú o cargo de diretor para assuntos legislativos. Na Prefeitura de São Paulo, foi secretário dos Negócios Extraordinários de 1975 a 1979, na administração do prefeito Olavo Setúbal, e secretário dos Negócios Jurídicos de 1986 a 1989, na do prefeito Jânio Quadros. Nesse último período exerceu interinamente o cargo de prefeito em vários períodos. Ainda na Prefeitura de São Paulo, foi secretário do Planejamento em 1993.

No governo do presidente José Sarney, foi chefe de gabinete do ministro da Educação, Marco Maciel, entre 1985 e 1986, tendo ocupado o cargo de ministro interinamente durante viagem do titular. De 1995 a 1997, foi assessor do mesmo Marco Maciel, quando este era vice-presidente do governo Fernando Henrique Cardoso.

Foi candidato ao Senado Federal nas eleições de 1978, candidato a vice-presidente da República no pleito de 1989 e candidato a vice-governador do Estado de São Paulo em 2002, tendo sido eleito para o período 2003-2007 ao lado do governador Geraldo Alckmin.

Autor de inúmeras obras e artigos, notadamente no campo do Direito, é membro efetivo do Instituto dos Advogados de São Paulo desde 1969.

É casado com dona Renéa de Castilho Lembo, com quem teve dois filhos.

Com informações da Alesp

LOURDES NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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