TRAGÉDIA DA NOTRE DAME BRASILEIRA

As notáveis casas de Avis e de Bragança, durante a Idade Moderna (1453 – 1789), deram, sem dúvida, novos mundos ao mundo. Sobretudo, proporcionaram à Europa novas terras e povos – das Áfricas à profunda Ásia. Inclusive, com a descoberta do beirão Pedro Alvares Cabral do futuro Brasil, então, uma estreita faixa litorânea que coube a Portugal, em 1494, no Tratado de Tordesilhas. A  Coroa de Lisboa também deixaria assinalada sua presença nos cinco continentes, indelevelmente, com obras monumentais. Algumas no belíssimo estilo arquitetônico Neo-manuelino, ou seja, o Gótico tardio lusitano, notadamente na costa Mediterrânea e Atlântica do Marrocos, bem como na Índia e na malasiana Malabar.

Mas a maioria das construções, nos estados brasileiros da Bahia e Minas Gerais, possuem a marca do fabuloso Barroco português. Como a preciosa Igreja e Convento de São Francisco, no centro histórico de Salvador, erigido, em 1708, no Terreiro de Jesus, na região do Pelourinho – cujo valiosíssimo teto de ouro desabou atingindo um grupo de turistas que visitava o templo no início da tarde de cinco de fevereiro último, causando a morte de uma viajante paulista de Ribeirão Preto. O convento franciscano, todo filetado em ouro, é considerado, com justiça, a Notre Dame brasileira – conforme avaliação da pesquisadora potiguar Helenita Monte de Hollanda, radicada na capital baiana, em sua publicação “Basílicas e Capelinhas – Um Estudo sobre a História, Arquitetura e Arte das Igrejas de Salvador”. Curiosamente, ou coincidentemente, o teto ruiu dois meses depois da reinauguração da Notre Dame parisiense, ocorrida em sete de dezembro de 2024, cinco anos após o devastador incêndio – registrado, aqui, por mim, na coluna de 25 de abril de 2019.

A Notre Dame brasileira ocupa a sétima posição na lista das Maravilhas Portuguesas no planeta – classificação instituída, em 2007, pelo Ministério da Educação e Cultura de Portugal. A primeira delas é a fortaleza de Diu, erguida entre 1535 e 1536, na Índia, próxima a Goa, capital do Império Português do Oriente. A segunda é outra fortaleza – a de Mazagão, no Marrocos, edificada em 1486, e preservada até hoje, junto com sua impressionante cisterna gótica. Sua população, de origem lusitana ou convertida ao Catolicismo, seria transferida para o Brasil, na segunda metade do século XVII – estabelecendo, no Amapá, uma localidade com o mesmo nome.

A indiana Basílica do Bom Jesus de Goa, consagrada em 1605, é a terceira. Servia de Sé (ou Sede) religiosa ao Império Português do Oriente. A cidade caboverdiana da Ribeira Grande de Santiago, fundada em 1462, na Ilha de Santiago, no arquipélago africano, é a quarta – notabilizada pela extraordinária voz da cantora Cesária Évora (1941 – 2011). A quinta das Maravilhas são as ruínas da Catedral de São Paulo, antiga Igreja Madre de Deus, datada de 1602, na chinesa Macau, fundada pelos jesuítas portugueses. E a sexta é a brasileira São Francisco de Assis, de 1766, em Ouro Preto, em Minas Gerais. Tenho um imenso carinho por todas as grandiosas construções lusas ao redor do globo. Especialmente as da Bahia. Foi na pia batismal da Igreja e Convento de São Francisco que recebi meu primeiro sacramento Católico. Em foto que ilustra esta coluna, apareço, com um ano de idade, nos braços de meu pai, Albino, depois do Batismo, Estão presentes os meus padrinhos, tio Ramiro, o primeiro, da esquerda para a direita, e a minha avó Serafina, ainda de luto fechado pelo meu avô Ramiro. Minha mãe, Nelly, tem no colo meu irmão Orlando. Também está tio Alejandro – que acabara de chegar à Bahia com a minha avó.

Torço para que as autoridades brasileiras consigam reconstituir o teto de nossa Notre Dame  com o rigor e celeridade da francesa.   

ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)      

Albino Castro é jornalista e historiador

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