
CHARGE DE AROEIRA ( BRASIL)
Estrategista cobra mais crítica do PT ao governo Lula. “Tá faltando abrir as cabeças e os corações para um projeto de emancipação social”
Diante da crise que emerge no terceiro mandato de Lula (PT) à frente do Palácio do Planalto, um dos principais estrategistas políticos do campo progressista, José Genoíno, analisa os desafios e as possíveis alternativas para que a administração possa, enfim, triunfar. As declarações foram dadas durante entrevista ao programa TVGGN 20 Horas, comandado pelo jornalista Luís Nassif, exibido na noite desta quinta-feira (6), no Youtube. [Assista à íntegra ao final da matéria].
Para Genoíno, que é ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) e ex-deputado federal, o presidente Lula está no centro de um verdadeiro jogo de tabuleiro desde a campanha eleitoral e, após dois anos de governo, os problemas em voga são a expansão da extrema-direita; a vista grossa sobre armadilhas que foram postas em grandes projetos; a falta de autocrítica, além de um cenário global conturbado.
“O primeiro problema que se coloca para o governo é uma crise muito grave no plano mundial. Há uma crise sistêmica, o sistema tá em crise, seja no campo econômico, social, da geopolítica, e no campo de um novo fenômeno que é o surgimento de uma extrema-direita de tipo fascista (…) Toda essa crise tem reflexo em um país como o Brasil, e o governo Lula fez algumas escolhas que agora precisa analisar melhor e rever”, diz.

Entre os pontos que necessitam de uma revisão por parte do governo, Genoíno destaca a escolha do arcabouço fiscal. “A armadilha que nós não enfrentamos na elaboração da proposta econômica do Haddad e nós tínhamos que ter enfrentado, é a armadilha da meta (…) Nós temos também um problema no arcabouço, que é esse modelo de concessão ao modelo financista, ao modelo da tirania fiscal. Nós estamos fazendo concessões demais e temos que diminuir essas concessões para poder entregar a pauta do povo e melhorar a vida do povo”, afirma.
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Na visão do ex-deputado, o governo Lula também pecou ao “não ter feito mudanças mais profundas nas Forças Armadas.” O mesmo a respeito das negociações “com o ‘centrão’ no Congresso, sem definir território, marcar posição, e aceitar negociação do que a maioria impõe”.
“O que está em jogo agora: primeiro o governo tem que tratar a pauta do povo, da inflação de alimentos, salário, emprego e a qualidade do emprego, a questão da saúde, da segurança pública. Por outro lado, tem que combinar uma aliança ampla com uma aliança mais definidora, que é o que estão tentando fazer”, declara o ex-deputado.
Alianças
De acordo com Genoíno, outro desafio para a gestão Lula 3 é ampla aliança política. Segundo ele, “você pode fazer aliança ampla pontualmente, mas desde que cuide de uma aliança permanente com aqueles que têm uma visão mais estratégica de transformação e de mudança, senão nós vamos ser administradores da crise. Nós temos que reconstruir o país que foi destruído, mas também temos que transformar para melhorar a vida do povo”.
“À disputa com Congresso Nacional, que envolve as emendas impositivas e que favorece o cabresto, nós temos que apresentar a ideia de uma reforma política institucional, porque com esse novo sistema político eleitoral não vamos nos livrar desse oligarquização da política via emendas, via fundo partidário”, acrescenta o estrategista.
Genoíno também comentou as relações entre os Poderes e chama atenção ao Judiciário. “O Supremo hoje tá cumprindo um papel positivo e nós temos que valorizar essas atitudes porque no mundo inteiro a extrema-direita – para viabilizar o seu projeto – tá fazendo o enfrentamento dos sistemas de Justiça. Mas não podemos ficar dependentes desse o Supremo, que merece apoio, mas não um apoio não pode ser dependente”, ponderou.
Reforma ministerial e o papel do núcleo político
Uma das saídas adotadas pelo governo Lula para mediar a crise atual foi uma pequena reforma ministerial, que vem sendo anunciada nas últimas semanas. O ex-deputado afirmou que esses são movimentos propícios à autocrítica, que é necessária.
“Nós estamos vivendo um quadro muito delicado e que vai exigir muito do PT e do Lula. Eu sempre defendi que o PT fizesse um movimento à esquerda. Dentro do movimento que o Lula faz à direita, ele [partido] tem que fazer um contraponto, tem que ter uma autonomia, tem que ter compromisso com o governo, mas ao mesmo tempo fazer crítica, fazer observação, cobrança. E esse é o dilema que está posto agora nessa reforma ministerial”, aponta.
“O núcleo político do Planalto tem que ser mais ofensivo, mais ativo, mais coeso, para não ficar só apoiando Lula, batendo nas costas, elogiando. Não pode! Tem que ser um núcleo político que discuta, elabore, critique, fiscalize. É isso que tá precisando nessa reestruturação”, destaca Genoíno.
Segundo o estrategista, o caminho mais assertivo seria de um debate institucional mais esclarecedor. “Está faltando uma espécie de consertação popular para discutir uma agenda de reformas democráticas e reformas econômicas sociais nesse quadro da crise. O Lula tem que ser o líder de uma agenda democrática popular para o país e isso não significa romper com o Congresso, mas nós não podemos nos limitar a essa agenda institucional oligárquica e nem ficar dependendo de um protagonismo do Poder Judiciário. Tá faltando ao PT abrir as cabeças e os corações para um projeto de emancipação democrática, econômica, social, cultural e ambiental”, declarou.
“Lula tem que fazer movimento certeiro, porque nós só temos dois anos e as forças da velha direita e da extrema-direita estão se articulando”, completou Genoíno.
Assista a entrevista na íntegra:
ANA GABRIELA SALES ” JORNAL GGN” ( BRASIL)