O TOMBO DO GOVERNO LULA

Lula precisa sair da redoma de seus equívocos e dos equívocos de um Ministério que mal funciona

17 de fevereiro de 20

O tombo do governo Lula nas pesquisas foi grande, mas não foi surpreendente. Não foi surpreendente ao menos para aqueles que vinham acompanhando o seu desempenho com senso crítico, com a percepção de que se trata de um governo sem rumo e sem comando político, de que se trata de um governo passivo que não enfrenta os embates políticos, de que é um governo sem marcas, que se comunica mal, que Lula se tornou um foco de desgaste do governo, da equipe econômica e dele mesmo. A tudo isso se somam os problemas econômicos como a inflação e os juros altos.

Desta forma, a queda de 11 pontos na avaliação positiva do governo em dois meses na pesquisa Datafolha, passando de 35% para 24%, tem causas políticas e econômicas. As causas econômicas são potencializadas pelos erros políticos e pela falta de rumo do governo.

É verdade que a inflação, principalmente dos alimentos, está alta, que os juros estão altos, que o número de brasileiros endividados passou de 76,5% em 2023 para 77% em 2024 e que o endividamento dos mais pobres subiu 4% no ano passado. É verdade também que o emprego subiu mais de 16% em 2024, que o consumo dos lares subiu 3,72%, que houve um aumento de consumo em todos os outros setores, inclusive de proteína animal e que a renda real das famílias cresceu algo em torno de 7%.

Quer dizer: se o governo tivesse comando político, tivesse rumo e boa comunicação, os dados econômicos negativos poderiam ser mitigados e até contrabalançados pelos dados positivos. O governo está perdendo a batalha política por falta de capacidade persuasiva e de explicações convincentes. Recentemente, o presidente Lula insistiu em culpar o Banco Central pela inflação. Com esse discurso perde credibilidade e não há Sidônio Palmeira que consiga melhorar essa situação.

A mensagem de Lula é negativa. Um presidente, mesmo quando trata de temas negativos, precisa apontar perspectivas positivas, cultivar esperança. Se explicasse a inflação pelos desdobramentos da pandemia – algo que afetou todos os países – pela guerra na Ucrânia, pelos fatores climáticos e pelos fatores sazonais, e se manifestasse a crença de que a inflação irá cair, faria um discurso convincente, compreensível para a maioria da população. Prefere minar a sua própria credibilidade atacando um inimigo fantasma e fazendo apelos errados para a conduta da população nas compras. Afirma que Campos Neto era inimigo do Brasil e não consegue explicar por que Galípolo e os outros diretores indicados por ele votam no aumento da taxa de juros. 

É preciso lembrar, sempre, que em política não deveria haver atos espontâneos, nem nas falas e nem nas ações. Agir espontaneamente, sem medir as consequências e os ricos das palavras e das ações, representa municiar os inimigos para o ataque. Os Nicolas Ferreira sempre estarão de prontidão para garimpar erros e atacar. Com a comunicação digital instantânea colocar-se em posições defensivas nos confrontos políticos representa pedir para ser derrotado, como ocorreu no caso do Pix e em crises fabricadas dentro do governo. 

Não são apenas as falas de Lula que vêm minando sua autoridade e sua credibilidade. A primeira-dama Janja acentua esse desgaste. Segundo pesquisa Atlasintel, a avaliação negativa dela passou de 40 para 58 pontos. Mas o problema é maior: se criou, queira-se ou não, em setores da opinião pública, a percepção de que Lula cede às opiniões e exigências de Janja. A participação dela em reuniões ministeriais reforça essa percepção. A decretação de sigilo de 100 anos sobre gastos seus e do cartão corporativo produz uma névoa de suspeitas. Há melindres em abordar esse assunto. Alguns temem que a abordagem pode suscitar acusação de machismo. Não se trata disso. Se trata da autoridade do primeiro mandatário do país investido pelo voto do povo.

 Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, nunca permitiu que o Major Sir Denis Thatcher, seu marido, aparecesse como alguém que tivesse ascendência sobre ela em assuntos de governo. Esse problema é clássico e já foi resolvido desde 1513: o Príncipe prudente ouve quem ele quer e quem ele deve ouvir, mas decide por ele. Os bons conselhos devem brotar da prudência do príncipe, mas a prudência do príncipe não deve brotar dos bons conselhos. Lula passa a impressão de que inverteu essa equação em relação a Janja e isto o enfraquece.

É sabido que o governo enfrenta um quadro adverso em termos de relação de forças com o Congresso e com os partidos do centrão. Mas também é verdade que o governo abdicou de liderar a coalizão que montou no Ministério e a base no Congresso. Sua passividade e sua apatia política fazem com que não as dirija, mas que seja dirigido por elas. 

O tombo do governo nas pesquisas não é um sinal de alerta. Está na categoria de situação dramática. Mesmo que os dados de inflação melhorem, não será fácil recuperar a popularidade e apoio. Ocorre que o governo Lula 3 não encantou, não empolgou. Boa parte da população parece desencantada com o próprio Lula. Os motivos são variados. Mais de 60% aconselham que ele não deveria concorrer à reeleição. 

Esta situação encaminha um cenário delicado e altamente perigoso para 2026. Inúmeros dilemas precisam ser resolvidos com urgência: o desencanto, a baixa popularidade, o fator idade, o aumento do pedágio que será cobrado por partidos de centro para apoiar pautas do governo no Congresso, o deslocamento da força de atratividade para a oposição – provavelmente para o governador Tarcísio. O inconfiável Kassab já sinalizou o caminho que pretende trilhar.

A fantasia do governo Lula e da esquerda que o apoia está no passado. Esquecem-se de que ocorreram rupturas e descontinuidades entre os governos petistas passados e hoje. Esquecem-se que as transformações digitais e a crise ambiental fizeram emergir um mundo com dramas e desafios diferentes daqueles de 10 ou 15 anos passados. 

Esquecem-se, ainda, que cada geração tem seu senso ou metro de bem-estar e de progresso. Com isso, aquilo que foi alcançado no passado faz pouco sentido para os que enfrentam as novas e diferentes necessidades do presente. O que foi conquistado no passado não supre o mal-estar do presente e não indica um caminho para o futuro. Então, a questão a ser respondida não é acerco do que fizemos e de quem fomos. A questão a ser respondida é acerca do como enfrentamos os problemas do presente e o que queremos ser no futuro. Só essa perspectiva pode conferir um sentido de esperança ao povo.

Os sinais de dilmização do governo Lula surgiram há tempo. Tudo se agrava quando se tem um Ministério fragmentado, isolado e sem direção. Lula precisa sair da redoma de seus equívocos e dos equívocos de um Ministério que mal funciona. A reforma ministerial perece ter se tornado a bala de prata para tentar salvar o governo. Não basta mudar nomes. Ela precisa adquirir o sentido de dar uma virada no governo. Se não for isso, o governo se arrastará numa longa e lenta agonia de perda de apoio popular. 

A vitória de Trump nos Estados Unidos representa uma tragédia para toda a humanidade. Ele está mostrando a que veio: radicalização do extremismo de direita no sentido de um neofascismo, redução do Estado a patrimônio, macartismo social e desconstrução de direitos. A vitória da extrema-direita no Brasil em 2026 agravaria ainda mais essa tragédia. Diante dessa possibilidade, ser derrotado pelos próprios equívocos é algo imperdoável.

ALDO FORNAZIERI ” JORNAL GGN” / “BLOG BRASIL 247” ( BRASIL)

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