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ONGs que há tempos atuam em apoio a famílias de renda baixa, de repente, foram apontadas como membros de uma organização criminosa.
A manchete foi impactante. Acusava de fraude um programa rfederal ecém lançado de marmitas para população de baixa renda. ONGs com histórico de atuação junto a famílias de renda baixa, de repente, mal aderiaram ao programa foram apontadas à opinião pública como membros de uma organização criminosa. Algumas sequer tinham sacado o primeiro pagamento – equivalente a 2 reais por marmita – quando foram engolfadas no mar de edcândalos.
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A partir daí foi uma repercussão por todo o país. Culminou com reportagens no Jornal Nacional, no Fantástico, no Jornal da Band, apontando a existência de uma quadrilha roubando dinheiro da marmita. Senhoras que há anos distribuíam alimentos nas comunidades carentes, de repente passaram a ser apontadas como ladras de comida para pobre.
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Pior, poucas das ONGs denunciadas colocaram a mão em um centavo do programa. A primeira liberação foi em fins de janeiro e estava depositada na conta das ONGs.
A denúncia foi reforçada pela informação de que a ONG Movimento Organizacional Vencer, Eduardo e Realizar (Mover Helipa) venceu o edital para coordenar um grupo de ONGs menores. É a chamada unidade gestora, ajudando um grupo de ONGs menores a vencer a burocracia nos contratos públicos e a fiscalizar a entrega do produto.
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A reportagem constatou que seu presidente, Renato Varjão, havia trabalhado no gabinete do deputado federal Nilto Tatto (PT-SP). Se esmerasse um pouco mais na apuração, saberia que a ONG foi beneficiada por emendas parlamentares de alguns deputados. Entre elas, nenhum parlamentar do PT e, muito menos, nenhum centavo da Nilto Natto. Antes disso, recebeu apoio do deputado Robson Tuma para a instalaçãio de cursos profissionalizantes.
Mais que isso. O modelo – de uma unidade gestora coordenando ONGs menores – foi tratado como se fosse uma empresa subcontratando empresas menores para desvio de recursos.
O repórter mediu o trabalho das ONGs como se fosse comércio convencional. Não se deu conta de que não há horário comercial, não há um mesmo sistema de produção e distribuição. As cozinhas são de pessoas que resolveram ajudar os miseráveis. Muitas delas estão nas próprias cozinhas de casas humildes. Também funcionam em horários diferentes, algumas servindo almoço, outras servindo jantar, muitas distribuindo as marmitas durante o dia.
Nada disso foi levado em conta. Todas foram tratadas como se roubassem recursos públicos. A maioria já se habilitou a receber cestas básicas da prefeitura e do próprio estado, sem jamais terem sido acusadas de malversação de recursos.
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Um dos recursos mais potentes do país são os movimentos sociais em comunidades, destinados a suprir a falta de estado, fruto de um sentimento de solidariedade de quem convive com a pobreza extrema. Estado, prefeitura, valem-se dessa estrutura informal para potencializarem seus programas.
A criminalização indistinta – em um país onde o PCC espalhou Organizações Sociais por vários municípios sem ser incomodado – é uma prova cabal de que a ausência de jornalismo é uma das grandes fragilidades da democracia nacional.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)