PIRATA DE NOME BARTOLOMEU PORTUGUÊS

A longa noite da Idade Média começou no ano 476 e se estendeu por quase dez séculos até o início da Idade Moderna – precisamente em 1453. Um ano marcado, tragicamente, pela queda da esplêndida Constantinopla, metrópole cristã bizantina, sob as investidas dos sultões islamitas otomanos, que mudaram o nome da cidade para Istambul e transformaram em mesquita a sagrada Basílica de Santa Sofia – primeira monumental Catedral da humanidade. A Idade Moderna duraria exatamente 336 anos – terminando em 1789, quando, em Paris, explodiu a Revolução Francesa.

Os três séculos da Idade Moderna foram assinalados pelas grandes navegações, conduzidas, sobretudo, por portugueses – das Áfricas e toda Ásia à descoberta da imensa América brasileira. A supremacia lusitana nos mares do planeta ofuscaria a conquista muçulmana de Constantinopla e fortaleceria a Europa para conter, finalmente, o avanço maometano – que chegou às portas da austríaca Viena dos Habsburgo, assediada pelos exércitos otomanos, através do Rio Danúbio, cujo delta, no Mar Negro, estava sob jugo da Sublime Porta istambuliota.

Os oceanos passaram a ser dominados pelas caravelas com a Cruz de Cristo da Coroa de Lisboa. E até mesmo a pirataria, surpreendentemente, teria como protagonista, no século XVII, nas águas do Caribe, um célebre português, aliás, denominado Bartolomeu Português, que, não só se dedicou a atacar os galeões espanhóis, abarrotados de ouro e metais preciosos, mas criou um código de ética dos piratas – o único ainda em vigor e respeitado nos turbulentos mares caribenhos.

Nascido, seguramente, em Portugal, entretanto, sem registro do lugar de origem e nem da data natalícia, Bartolomeu Português teria morrido em 1660, na Jamaica, controlada, então, pelos bucaneiros ingleses – passando, depois, ao poder oficial do Reino Unido. Um dos documentos mais completos sobre os corsários da região do Caribe foi escrito em 1894 pelo jornalista britânico George Powell e aborda o período que definiu como “Idade de Ouro da Pirataria”. Ele cita, inclusive, a rocambolesca fuga de Bartolomeu Português das prisões espanholas, no atual México, escapando, inicialmente, para Maracaibo, na Venezuela, e, antes de voltar à Jamaica, tomando de assalto a querida Portobelo, localizada no Panamá, na Província de Colón, ao Norte do Canal que liga os oceanos Pacífico e Atlântico. Portobelo teria recebido o nome do próprio Cristóvão Colombo e, hoje, é a rua que abriga uma famosa feira de antiguidades, aos sábados, no coração de Londres, capital da Inglaterra.

O código elaborado pelo intrépido lusitano, prevê, naturalmente, disciplina rígida e pena de morte. A primeira ordem, ressalta Powell, determina que todos são obrigados a seguir o código, à bordo ou em terra, porém, permite o voto para decidir questões do dia a dia das pilhagens marítimas, bem como dá direito a uma porção igual de provisões e a liberdade de utilizá-las ao seu modo, a não ser quando a escassez exija o racionamento. É proibido jogar cartas ou dados valendo dinheiro. As velas devem ser apagadas às oito da noite. Após esta hora, somente no convés é possível continuar bebendo. As pistolas, espadas e demais armas precisam estar sempre limpas e prontas para a batalha. Crianças e mulheres não são admitidas nos navios. Quem embarcar pessoas disfarçadas é executado. Também os desertores, durante combates, serão punidos com abandono em uma costa desabitada ou morto.    

A pirataria contemporânea se dá, muitas vezes, no Mar Vermelho, comandada por temíveis sicários muçulmanos da Somália – que, a rigor, obedecem às regras de Bartolomeu Português. Mas, sem o romantismo dos bucaneiros caribenhos, predominantemente, ingleses, franceses e holandeses. Bartolomeu Português foi apenas uma marcante exceção no universo dos piratas.   

ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL) 

Albino Castro é jornalista e historiador

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