JOÃO DO RIO, UM ÍCONE DO JORNALISMO CARIOCA

JOÂO DO RIO / CAPA DA REVISTA CARETA

“Há poucos dias, fiquei sabendo que um dos melhores sebos do Rio – o ‘João do Rio’ – fechou suas portas. Era o melhor de todos”

No Rio, a maioria das livrarias estão fechando as portas. As grandes livrarias e – pasmem – os “sebos”.

Há poucos dias, fiquei sabendo que um dos melhores sebos do Rio – o “João do Rio”- fechou suas portas.

O “João do Rio”, ficava na Rua do Catete, 164, próximo à Silveira Martins, era o melhor de todos. Quem já subiu as escadas do antigo sobrado onde funcionava o sebo, certamente conheceu Sérgio Calvoso. O simpático ‘seu’ Sérgio, era o mais antigo funcionário do sebo. Quando o sebo fechou os proprietários não tinham como pagar-lhe em dinheiro, então, pagaram-lhe em livros. Apaixonado por livros, Calvoso montou o seu próprio sebo.

Foi por sugestão do Calvoso que li o primeiro livro sobre o jornalista João do Rio. “Todo jornalista precisa ler este livro”, disse. Era “João do Rio, uma biografia”, de João Carlos Rodrigues, publicado originalmente em 1996, pela Editora TopBooks. O primeiro de muitos que li.

João do Rio, pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, nasceu no Rio de Janeiro, em 5 de agosto de 1881, onde morreu em 23 de junho de 1921. Foi jornalista, cronista, contista, romancista, tradutor e teatrólogo. Considerado o pioneiro da ‘crônica-reportagem’, no jornalismo carioca.

Negro, gordo, de origem humilde e homossexual, João do Rio enfrentou estereótipos e discriminações. Conquistou, respeito, admiração e ascensão social através de seu trabalho como jornalista. Seus escritos retratam principalmente a sociedade carioca em seus hábitos, costumes e rituais, focando em seus membros mais requintados e nos mais pobres. Publicou, em vida, mais de 20 livros, tendo feito do jornalismo sua principal fonte de renda.

Filho do professor de matemática Alfredo Coelho Barreto e da dona de casa Florência dos Santos Barreto, Paulo Barreto nasceu na Rua do Hospício, 284 (atual Rua Buenos Aires, no Centro do Rio).

Estudou no Colégio São Bento, onde começou a exercer seus dotes literários, e aos 15 anos prestou concurso de admissão ao Ginásio Nacional (hoje, Colégio Pedro II). Em 1899, com 17 anos incompletos, teve o primeiro texto publicado com seu próprio nome em ‘O Tribunal’, jornal de Alcindo Guanabara. Era uma crítica sobre a peça ‘Casa de Bonecas’, de Ibsen, então em cartaz no Teatro Santana (atual Teatro Carlos Gomes).

Entre 1900 e 1903 colaborou sob diversos pseudônimos (11 no total) com vários órgãos da imprensa carioca, como ‘O Paiz’, ‘O Dia’, ‘Correio Mercantil’, ‘O Tagarela’ e ‘O Coió’. Foi diretor da revista ‘Atlântida’ (1915-1920) e contribuiu para a fundação do jornal ‘A Noite’.

Em 1903 foi indicado por Nilo Peçanha para a ‘Gazeta de Notícias’, onde permaneceu até 1913. Foi na Gazeta que, em 26 de novembro de 1903, nasceu João do Rio, seu pseudônimo mais famoso. Até então, o exercício do jornalismo e da literatura por intelectuais era encarado como “bico”.

Eleito em 7 de maio de 1910 para ocupar a cadeira de número 26 da Academia Brasileira de Letras – sua terceira tentativa – Paulo Barreto foi o acadêmico mais jovem a ser eleito para ingressar na instituição e o primeiro a tomar posse usando o hoje famoso “fardão dos imortais”.

Em 1920, Paulo Barreto fundou o jornal ‘A Pátria’ (chamado ironicamente de A Mátria por seus detratores).

Solteiro, sem namorada ou amante conhecidas, a orientação sexual de Paulo Barreto desde cedo já transparecia em muitos de seus textos. As suspeitas praticamente se confirmaram quando ele tornou-se tradutor e divulgador da obra do “maldito” Oscar Wilde, o maior ícone gay da literatura mundial.

Obeso, Paulo Barreto sentiu-se mal dentro de um taxi, no dia 23 de junho de 1921. Ele faleceu, vítima de um enfarte do miocárdio fulminante.

O velório ocorreu na sede do jornal ‘A Pátria’, de onde saiu o cortejo para o cemitério São João Batista, em Botafogo. Estima-se que cerca de 100 mil pessoas tenham comparecido para o último adeus ao escritor.

Por ordem de sua mãe, a biblioteca de João do Rio foi doada ao Real Gabinete Português de Leitura, onde ainda hoje pode ser vista uma placa comemorativa do ato. O túmulo de João do Rio é considerado um dos mais belos trabalhos de arte funerária no Rio de Janeiro e atrai muitos visitantes.

O nome Paulo Barreto batiza uma rua inexpressiva no bairro de Botafogo. Em Portugal, João do Rio também deu o seu nome a uma rua no centro da cidade, junto à Câmara Municipal e, em Lisboa, encontra-se a Praça João do Rio onde se situa um pequeno monumento em sua honra contendo as suas seguintes palavras: “Nada me devem os portugueses por amar e defender portugueses, porque assim amo, venero e quero duas vezes a minha pátria”.

João do Rio, será o homenageado da 22ª edição da FLIP – Feira Literária Internacional de Paraty -, entre os dias 9 e 13 de outubro de 2024.

EDIEL RIBEIRO ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)


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