GRANDE CISMA QUE NOS DIVIDE HÁ 970 ANOS

  • Fruto, a rigor, de um movimento dissidente do Judaísmo, do ponto de vista histórico, o Cristianismo, impulsionado pelos seus apóstolos, todos judeus, como Jesus, adotaria a conversão, contradizendo os preceitos hebraicos, para expandir a nova fé – que se propagaria, rapidamente, entre os povos próximos ao Mediterrâneo e vinculados ao Império Romano. Sobretudo no universo de língua grega que, então, incluía, para além da atual Grécia, a hodierna Turquia – graças à tenacidade de São Paulo, também judeu, mas tardiamente convertido ao Cristianismo.
  • A Igreja passou a ser estruturada, nos albores da Idade Média, sobre cinco patriarcados, cada qual com seu respectivo Patriarca – ou Papa. Surgiram, assim, os patriarcados de Jerusalém, capital do Reino de Israel e um dos berços do Judaísmo e, consequentemente, do Cristianismo, a grega Constantinopla, atual Istambul, sede, à época, do Império Romano do Oriente, a síria Antioquia, anexada, hoje, à Turquia, a egípcia Alexandria, e, em Roma, às margens do Rio Tibre, na Colina do Vaticano – criado por São Pedro e São Paulo.
  • Com o aparecimento do Islã, baseado, igualmente, no Judaísmo, ocorrido no século VII, três dos patriarcados sucumbiram, imediatamente, ao domínio maometano e, embora sobrevivam até nossos dias, perderam sua transcendência: Jerusalém, Antioquia e Alexandria. Restaram, autônomos, o Patriarcado de Constantinopla e o Papado de Roma. Mas estes romperiam relações há exatamente 970 anos, com o Grande Cisma, quando o Patriarca  de Constantinopla, Miguel I Cerulário (1000 – 1059), natural da mesma metrópole, excomungou o Papa Leão X (1002 – 1054), francês da Alsácia, dividindo a Cristandade entre Católicos e Ortodoxos.
  • As excomunhões foram suspensas na noite de cinco de janeiro de 1964, em Jerusalém, no encontro, bastante celebrado, do Papa Paulo VI (1897  – 1978) com o Patriarca de Constantinopla Atenágoras (1886 – 1972). Até hoje persistem, porém, as divergências. Os Católicos acreditam, por exemplo, na natureza humana e divina de Jesus Cristo, enquanto os Ortodoxos, não. Creem apenas no aspecto divino. O Grande Cisma deixaria mais vulnerável o Império Bizantino, cuja capital era Constantinopla, que há séculos era assediada pelos poderosos exércitos islamitas – caindo sob controle do Império Otomano, em 1453. Só Roma permaneceria independente.
  • O esplendor e a magia da Constantinopla bizantina, contudo, jamais se apagaram – ainda que a fabulosa Basílica de Santa Sofia, primeira catedral da humanidade, erguida, no interior das muralhas romanas, diante do Hipódromo e da Cisterna, tenha sido transformada, pelos sultões, originários da Mongólia de Gengis Khan, numa mesquita istambuliota. Justamente no início deste ano de 2024, em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian teve lugar uma extraordinária mostra intitulada “O Tesouro dos Reis – Obras Primas da Terra Santa”, que mereceu uma reportagem especial, com destaque, na prestigiosa revista quinzenal israelense “The Jerusalem Report”.
  • As peças exibidas na capital portuguesa têm a marca indelével da esmeradíssima arte das joias bizantinas – e foi um contraponto na data na qual se completa 970 anos que os cristãos, oficialmente, se separaram.           Nada indica, infelizmente, que os cristãos voltem a conviver em harmonia e sem desconfiança recíproca. Os caminhos seguidos, principalmente, no Pontificado do argentino Francisco, buscando se adaptar à Europa e às Américas, cada vez mais laicas e agnósticas, não nos permite supor que, dentro de 30 anos, Católicos e Ortodoxos estejam novamente juntos. Em Santa Sofia, cujo desenho ilustra a coluna, e em São Pedro.        

ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)

Albino Castro jornalista e historiador

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