” SE AS ELEIÇÕES AMERICANAS FOSSEM AMANHÃ, TRUM ESTAVA ELEITO”, ANALISA O CIENTISTA POLÍTICO PEDRO COSTA JR

CHARGE DE ZÉ DASSILVA

Pesquisador analisa como atentado a Trump se relaciona com imaginário norte-americano de “herói”, “liberdade” e “religião”

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Entrevista realizada por Ana Gabriela Sales

Os efeitos do atentado ao candidato republicano Donald Trump são inegáveis e guardam relação com a construção da narrativa e imaginário dos norte-americanos com as figuras de “herói”, “liberdade” e “religião”. É como analisa o cientista político Pedro Costa Júnior, resumindo: “Se as eleições fossem amanhã, Trump estava eleito.”

Em entrevista ao GGN, o professor de Relações Internacionais, pesquisador da USP e apresentador do Observatório de Geopolítica, da TVGGN, analisou como o atentado, com a icônica fotografia do punho levantado, em meio ao sangue e com a bandeira dos Estados Unidos, guarda relação direta com os motes do eleitorado do país.

“O atentado, neste primeiro momento, favorece Trump, pelo motivo de que os Estados Unidos são uma nação, um povo que precisa de heróis. Ao longo da sua história, eles constroem heróis, fazem essa narrativa, que é muito presente nessa cultura, muito presente em Hollywood, nas suas produções.”

“E, ademais, uma outra construção coletiva muito forte no ideário americano é a figura religiosa, que o Trump tem explorado muito essa figura”, continuou.

Dentro desse apelo religioso, o pesquisador lembra que o republicano chegou a lançar, recentemente, a sua própria bíblia, ainda que, contraditoriamente, ao ser questionado, em um programa de entrevistas, qual era o seu trecho preferido da Bíblia, ele sequer se recordava.

“Essa figura heróica e ao mesmo tempo religiosa, no sentido de que o Trump é a salvação, a última salvação para a América, que vem se construindo em parte do ideário de eleitores norte-americanos, isso tudo o fortalece muito.”

Pedro Costa Júnior ainda fez um paralelo da icônica fotografia de Donald Trump, após ser alvo de balas, registrada pelo fotógrado Evan Vucci, da AP News, com o quadro quadro “A liberdade guiando o povo”, de Eugène Delacroix, que retrata uma mulher empunhando a bandeira francesa em meio à guerra e que se tornou o símbolo da Revolução Francesa.

“A imagem de Trump agora se resume de maneira extraordinária naquela foto. Como diria Leonel Brizola, ‘a imagem é o que fica’, e aquela é uma foto realmente antológica, uma foto histórica, que estará nos livros de História dos Estados Unidos, uma foto epopeica, uma figura heroica e lembra até aquela imagem do Delacroix, da Revolução Francesa [quadro ‘A liberdade guiando o povo’], a Mariana correndo e a bandeira francesa no meio de um conflito, de um embate. É uma foto que, realmente, mexe com o imaginário.”

O pesquisador ainda enxerga o episódio do atentado como o último fator de uma sequência de três momentos decisivos da campanha eleitoral nos Estados Unidos, que já vinham definindo a vantagem de Donald Trump nas eleições ao final do ano.

“Nós temos um tempo mais longo, no qual Trump já vinha liderando as pesquisas nos últimos oito, nove meses, com uma consolidação em relação ao Biden. Principalmente nos chamados ‘Estados membros’, com uma diferença também consolidada, importante que já sinalizavam a vitória do Trump. Esse é um ponto, que estruturalmente, nas tendências de longo prazo são muito importantes de olhar. O Biden [já] não conseguia reverter essa desvantagem que ele tinha. No Michigan, ele mexeu ali, diminuiu um pouco, mas nada considerável para reverter uma eleição que, segundo as pesquisas, já vinha dando [a vitória de] Trump.”

Segundo o pesquisador, o segundo momento determinante foi o primeiro debate da campanha, realizado no dia 27 de junho, no qual o atual presidente que tenta a reeleição pelo Democratas, Joe Biden, apresentou um desempenho ruim. A crise gerada no episódio, segundo Pedro Costa Júnior, não foi apenas para o presidenciável, mas para o partido, que hoje vive o dilema de seguir a campanha “com ou sem Biden”.

O atentado deste sábado aparece, na visão do especialista, como o terceiro momento da consolidação da ampla vantagem de Donald Trump sobre o adversário.

“O terceiro ponto é esse atentado agora. Então o Trump se fortalece, ao longo do tempo, ele ganha muita força depois do debate, não por mérito dele, mas por demérito de Biden, dos Democratas, e agora por esse episódio, ele sai muito forte”, completa.

PATRICIA FAERMANN ” JORNAL GGN ” ( BRASIL)

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