E Bacha vendendo o ridiculo do tal papelzinho azul que ele rascunhou na mesa de reuniões e convenceu FHC da urgência de implementar o plano.
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Se pudesse eleger a maior transformação negativa da economia, apontaria sem dúvida Edmar Bacha. Em algum momento, no início dos anos 90, tinha alguma credibilidade. Depois, descobriu a teoria dos déficits gêmeos – o déficit externo é função do déficit interno – e ficou faturando em cima da tese por alguns anos.
Não me lembro de outra contribuição de Bacha para a economia. No Plano Real, foi um coadjuvante apagado. Se não me engano, foi diretor do BNDES.
É curioso que o livro sobre o Real tenha como autores ele, Pedro Malan e Gustavo Franco. Malan ainda teve alguma atuação na negociação da dívida externa na gestão FHC. E apenas isso. Gustavo Franco tinha uma tese sobre o Encilhamento e se especializou em estudar a hiperinflação alemã, mas não teve nenhuma participação no Real. Bacha era apenas o boa praça, que passou de forma apagada pelo Cruzado.
Agora, os três se apresentam como criadores do Real. E Bacha vendendo o ridiculo do tal papelzinho azul que ele rascunhou na mesa de reuniões e convenceu FHC da urgência de implementar o plano.
O mais incrível é que vários veículos caíram em sua esparrela.
O Plano Real valeu-se do mais antigo dos expedientes de estabilização, a âncora cambial – disfarçado em URV. Logo após o fracasso do Cruzado, vários economistas, entre eles Yoshiaki Nakano, da FGV, alertavam que o único caminho seria um reforço nas reservas e a âncora cambial.
A URV foi uma criação de Pérsio Arida e André Lara Rezende, que assumiram funções executivas no plano – Pérsio como presidente do Banco Central, André, fora do governo, mas como orientador da política cambial.
Atuei intensamente nesse período. A partir de maior de 1995 tornei-me crítico feroz da política cambial adotada, principalmente depois que Pérsio promoveu uma alta para conter uma corrida contra o Real, e saiu do governo – depois de um mal entendido de uma visita à fazenda da Fernão Bracher. Em seu lugaar assumiu Gustavo Loyolla que manteve o maior período de taxas absurdas do BC, arruinando as contas públicas e as contas externas.
Em nenhum momento vi Bacha atuando. Malan muito menos, mas pelo menos tinha o cargo de Ministro da Fazenda. E Gustavo Franco pegou como bandeira única a defesa da manutenção do câmbio baixo, até explodir com as contas brasileiras em fins de 1998.
Agora, vem Bacha vendendo a história do papelzinho azul. E a brava imprensa brasileira comprando a história, como quem compra armarinhos na 25 de março.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)