Desembargador diz ao CNJ que parceria do próprio filho com casal Moro é uma “sociedade de direito, não de fato”
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O desembargador Marcelo Malucelli, que atua na Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, disse em depoimento ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que “não sabia” que seu filho, o advogado João Malucelli, além de genro, é sócio do escritório de advocacia da deputada federal Rosângela Moro e do senador e ex-juiz Sergio Moro.
O depoimento de Malucelli ainda colocou em xeque o tipo de sociedade constituída pelo próprio filho com os Moro. Segundo o desembargador, seria uma “sociedade de direito, não de fato”, ou seja, que só existe no papel, pois João Malucelli teria afirmado ao pai que não trabalhou nem “recebeu um centavo” por ter cedido seu nome para a empresa do casal.
Em trecho do depoimento gravado e disponibilizado pelo CNJ [assista abaixo], Malucelli disse que a sociedade surgiu porque “pediram o nome dele, porque precisavam, queriam manter a pessoa jurídica”, mas que a “formalização” da parceria não teria sido sequer comentada por João Malucelli com seus pais antes do caso vir a público. “Tenho [contato próximo com o filho], mas não sabia da sociedade dele. Mesmo porque me disse ele que nunca recebeu um centavo desse escritório, dessas ações.”
À época em que a sociedade foi revelada na imprensa, a assessoria de Moro afirmou que ele e Rosângela Moro estavam “afastados das atividades do escritório desde o início do mandato parlamentar, permanecendo no quadro social somente como associados”.
Malucelli confirmou que o filho hoje trabalha em cargo comissionado na Assembleia Legislativa do Paraná, no gabinete do deputado estadual Luiz Guerra – irmão de um dos suplentes de Sergio Moro. Quando questionado como Guerra teria conhecido João Malucelli, o desembargador respondeu que teria sido através do “ex-juiz”, mas que ele próprio não conhecia os parlamentares.
Da suspeição de Malucelli ao afastamento de Appio
A relação entre as famílias Moro e Malucelli está na origem do imbróglio que acabou deslocando o juiz Eduardo Appio da 13ª Vara Federal de Curitiba para uma vara previdenciária.
Appio denunciou Malucelli por suposto abuso de autoridade por ter afrontado decisões do Supremo Tribunal Federal em processo envolvendo Rodrigo Tacla Duran, um desafeto de Moro. Malucelli determinou a prisão de Tacla Duran e impediu que ele viesse ao Brasil para depor contra Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol em Brasília.
Em contrapartida, numa jogada que tem as digitais de Sergio Moro, Appio foi afastado da Lava Jato sob acusação de ter feito uma suposta ligação “intimidadora” para João Malucelli. O diálogo, no entanto, revelava uma tentativa de confirmar o parentesco entre o genro e sócio de Moro com o desembargador Malucelli, que acabou pedindo afastamento da Lava Jato.
Ao CNJ, Malucelli também afirmou não teve convívio social com Moro. Ele pediu para falar que o fato de João Malucelli ser genro e sócio do casal Moro “não interferiria em seus julgamentos” no TRF-4. Por fim, ainda argumentou que tampouco seria motivo para “suspeição”. “Eu não preciso dizer para os senhores que isso não gera suspeição“, disse aos juízes do CNJ.
“Dessa história da sociedade, o que sei é isso. Fui pego de surpresa. Achei engraçado, porque minha esposa, nervosa, disse: ‘inclusive, estão falando que você é sócio do Moro, não sei o quê. Que absurdo!’, e ele [João] disse assim: ‘é, mas eu sou. Eu faço parte. Meu nome tá lá’. Aí foi aquela surpresa geral em casa. Mas tudo bem, eu não sabia. Isso daí também jamais interferiria nos meus julgamentos.”
Assista ao depoimento abaixo, veiculado pela Conjur.
CINTIA ALVES ” JORNAL GGN” ( BRASIL)
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.