O SURTO QUE NÃO ASSUSTA O IPCA

CHARGE DE LAERTE

Já se falou muito sobre os efeitos temporários (imediatos) da tragédia climática do Rio Grande do Sul, cuja consequência primeira, junto com as mais de 150 mortes e centenas de milhares de desabrigados e perdas patrimoniais de gigantescas, foi uma especulação nos mercados de produtos alimentícios que tende a dobrar os índices da inflação a curto prazo. O IBGE divulga amanhã o IPCA-15 de maio, com dados até meados do mês, e as projeções são que a taxa vai mais do que dobrar ante os 0,21% de abril. As projeções da LCA Consultores apontam para um IPCA-15 de 0,45%. A mediana do mercado é de 0,47%, mas o Bradesco e o Santander projetam taxa maior: de 0,49%.
Play Video

Advertisement: 0:07

Como reflexo das pressões especulativas de curto prazo (por isso, era crucial a aprovação das importações de estoques de arroz ou outros alimentos alvos de especulação) as projeções do IPCA de 2024 aumentaram de 3,73% na semana passada para 3,80% (3,86% nos últimos 5 dias) e as de 2025 subiram de 3,74% para 3,75% (3,77% nos últimos 5 dias) e as de 2026 de 3,50% para 3,58%. Todas ainda dentro do teto da meta de inflação: 3,00%+1,50%=4,50%.

Entretanto, é importante observar que a onda especulativa não tende a perdurar. Na Pesquisa Focus encerrada 6ª feira pelo Banco Central e divulgada hoje, a mediana do mercado prevê um IPCA cheio de maior em 0,39% ou 0,40% nas respostas dos últimos cinco dias úteis. A taxa de abril foi de 0,38%. O número final, a ser divulgado em 11 de junho, uma semana antes da próxima reunião do Copom, parece não indicar descontrole da inflação.

Outros indicadores, como o IGP-M de maio da FGV a ser divulgado na 4ª feira é estimado pela LCA Consultores em 0,73%. Se a projeção estiver correta, representa um enorme salto frente aos 0,31% de abril. Mas a expectativa da LCA Consultores é que o IGP-DI de maio, que a FGV divulga dia 7 de junho, já indicará uma reversão do surto inflacionário: a taxa esperada é de 0,22%, contra 0,72% do IGP-DI cheio de abril.

As projeções da Focus vão pelo mesmo caminho. Após a alta de 0,39%/0,40% no IPCA de maio, a taxa de junho cairia à metade (0,20%) e a de julho (que há um mês era estimada em 0,15%) foi reduzida a 0,10% na previsão da Focus.

Cenário mais calmo para juros
O refluxo nas especulações sobre a inflação a curto prazo deve ter reflexos a médio prazo e ser devidamente ponderada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), até as reuniões de 18 e 19 de junho. Na visão do mercado, há espaço para mais uma queda de 0,25% na taxa Selic (atualmente em 10,50% ao ano) na próxima reunião do Copom. E, se depender da mediana no mercado, extraída de 145 respostas (que projeta a Selic em 10% no fim do ano), haveria a última queda em 31 de julho.

Entretanto, a mediana de 81 respostas nos últimos cinco dias úteis já aponta como a última redução da Selic para 10,25% nesta próxima reunião do Copom. Para 2025,2026 e 2027 a taxa foi mantida em 9,00%.
O dólar foi mantido em R$ 5,05 para dezembro deste ano e dezembro de 2025. O Santander acredita que os últimos sinais emitidos pelos diretores do Federal Reserve Bank apontam para o início da queda dos juros nos Estados Unidos em novembro.

PIB tem leve recuo
O IBGE divulga na próxima 3ª feira, 4 de junho, o resultado do PIB no 1º trimestre. As estimativas são de alta ao redor de 1%. Mas a Pesquisa Focus deu os primeiros sinais de que o mercado está prevendo mais impacto no PIB do que na inflação pela destruição do parque produtivo gaúcho.

Pela primeira vez este ano a Pesquisa semanal acusa redução nas projeções do PIB deste ano, que caiu de uma expansão de 2,05% para 2,00%, indicando a estimativa de que a retração do PIB gaúcho impactará negativamente o PIB nacional em 0,5%, pelo menos.

Outro dado importante é que apesar das projeções de gastos extraordinários com a reconstrução do Rio Grande do Sul, o déficit primário (receita menos despesas, sem contar os juros da dívida) não vai crescer tanto: o déficit previsto para 2024 aumentou de 0,70% para om80% do PIB (que vai encolher) e o de 2025 foi elevado de 0,63% para 0,70%. O mercado prevê 0,50% em 2026 e 0,35% em 2027.

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL Do BRASIL” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *