A DELAÇÃO NÃO EXPLICA POR QUE ” VIVENDAS DA BARRA” FOI REFÚGIO DE RONNIE LESSA

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

“Ronnie Lessa não se preocupou em fugir porque no Rio, e no Vivendas da Barra, se sentia mais protegido”, avalia Alex Solnik

A delação de Ronnie Lessa, gravada no ano passado e exibida ontem no “Fantástico”, dá o que pensar, a começar do que ele disse que recebeu pelo assassinato de Marielle Franco, não em dinheiro vivo, como geralmente exigem os matadores de aluguel, mas em forma de uma vaga promessa de ganhar uns lotes de terreno na Zona Oeste do Rio e ter direito a formar uma milícia no local, e que isso somaria R$100 milhões.

Acreditar nisso é difícil, por vários motivos, a começar da soma, muito exagerada, levaria muitos anos até auferir essa fortuna explorando gatonet no território que ia “ganhar”, além do que, continuar atuando na região depois de cometer um assassinato político não seria a melhor ideia, o que geralmente assassinos que cometem crimes desse porte fazem é matar e fugir para longe, geralmente para outro país.

Na delação ele demonstra preocupação com a arma do crime, que deveria desaparecer, com o carro, que deveria desaparecer, mas não se preocupa em ele desaparecer do mapa. Concorda em ser compensado pelo crime na região onde a polícia já o conhece como matador de aluguel, em vez de exigir pagamento em dinheiro vivo e se mandar, logo depois do assassinato, para o Paraguai, ao menos, e depois para mais longe ainda.

É curioso isso, ele se preocupa com que suma a arma do crime, o carro do crime e não o autor do crime, que é ele mesmo, nem o seu comparsa.

Também não explica se, entre o dia do crime e sua prisão, um ano depois, a promessa do mandante foi cumprida e se ele organizou essa nova milícia, e quanto ganhou com os golpes.

Como não era matador de primeira viagem, ele sabia muito bem que matar uma vereadora daquela forma, em plena rua, à queima-roupa, geraria uma imensa repercussão (não é como matar um bandido rival ou um policial anônimo) e haveria uma caça nas comunidades em que ela atuava, qualquer Sherlock começaria por aí e ele ficaria muito exposto.

No entanto, ele continuou morando no Rio de Janeiro, e esse é outro ponto que eu considero fundamental e que permanece obscuro até hoje, que é o seu endereço, como um matador de aluguel e miliciano conhecido da polícia mora num condomínio de luxo chamado Vivendas da Barra, onde ocupa dois imóveis, números 65 e 66, bem ao lado do então deputado federal e candidato a presidente Jair Bolsonaro, dono dos imóveis números 56 e do 36?

Não é comum, ainda mais para quem ainda não era chefe de milícia, morar num endereço tão caro, em dois imóveis enormes, milicianos moram nas áreas onde atuam; é estranho ele ter conseguido morar num endereço tão exclusivo, sem ninguém desconfiar que era um matador.

Desde o início das investigações, o delegado Giniton Lages rejeitou investigar respostas a essas dúvidas, decretou que morar no condomínio de Bolsonaro não tinha nada a ver com o crime, uma atitude muito suspeita, nenhum delegado rejeita a priori uma investigação, sobretudo de fatos como esses.

Minha hipótese é que Ronnie Lessa não se preocupou em fugir porque no Rio, e no Vivendas da Barra, se sentia mais protegido. Só pode ser isso. Nenhum criminoso quer ser preso. Era mais negócio ficar que fugir.

Ele saiu do Vivendas da Barra para matar Marielle, matou e voltou ao Vivendas da Barra.

Ou ele se sentia protegido por morar num condomínio acima de qualquer suspeita ou por ser vizinho de um político poderoso e protetor de milicianos, como já era Bolsonaro.CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Ou ambos.

ALEX SOLNIK ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)

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