Hoje tratarei de Tributo a Elvin Jones (independente), o novo álbum do batera Dias Gomes, que, como o sobrenome entrega, é filho de Dias Gomes e Janete Clair. Mas olha só, são muitos os atributos que fazem dele um músico diferenciado. Sua técnica, por exemplo, fruto de muita criatividade, provém de sua observação atenta a alguns de seus ídolos. Mas confesso que a mim impressiona a capacidade que ele tem de se mostrar íntegro, seja lá qual gênero musical, ou com quem, escolha tocar.
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Outra aptidão? A disposição de revelar suas referências musicais. Como o batera panamenho Billy Cobham e o percussionista americano Don Alias – que, segundo afirmou, deram-lhe força para mudar sua concepção musical, dizendo coisas tipo assim: “A condução do ritmo jazzístico é no prato e no contratempo. Bumbo e caixa tocam sempre antecipados, mas sem um padrão definido”. Sacaram? Pois é…
Dentre outros, Alfredo gravou JAM (2018), quando, através de estudos e da prática em estúdios, tocando em bandas instrumentais e/ou acompanhando alguns de seus colegas, conseguiu a proeza de traduzir a essência do espírito libertário de Mr. Cobham. Já em Solar (2019), o jazz está envolvido pela brasilidade que Alfredo carrega em seu jeito de compor e tocar. Nele, além da batera, ele tocou teclado e contrabaixo, trazendo uma sonoridade que não perde a característica jazzística ouvida em JAM, muito pelo contrário, intensifica-a.
Dando sequência às homenagens aos mestres, aqui está este Tributo a Elvin Jones. O enlevo pelo estilo desse baterista é tão antigo e tamanho que Alfredo Dias Gomes fez ajustes especiais na batera para obtê-lo: “Eu mudei toda a afinação, soltei a pele do bumbo e afinei no estilo do som do Elvin”.
Para gravá-lo, Alfredo contou com Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn) e David Feldman (piano). Selecionou músicas de Jones, como a icônica “Three Card Molly”*, e além desta, uma composição sua, “Drum Solo&Duo”** (uma enérgica aula de batera), com participação do baixista Jefferson Lescowich.
Mas vamos de “Three Card Molly”, cujo arranjo explicita a essência jazz rock de Alfredo. O trompete vem e atiça as expectativas, e a partir da intro, deixa claro que o trabalho é “profissa” – pois a técnica dos músicos está ali para atestar que o papo é sério. A batera de Alfredo soa febril, certa de estar dando o seu melhor para homenagear mestre Jones. O piano comanda a harmonia, conservando o brilho da composição e a expressividade do trabalho. O trompete inicia novo improviso e o jazz se apresenta em carne e osso. Piano e batera o amparam. O tema é ardente, requerendo dos instrumentistas toda a técnica que nunca lhes faltou. Chega a vez do piano, que improvisa, e a batera lhe dá o apoio necessário para seu brilhar. Volta o trompete, tocando repetidamente frases curtas, e o couro come. Show!
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AQUILES REIS ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)