VIVA DORI CAYMMI !

Sei não, mas há discos que eu deveria me declarar impedido de comentar, tamanha é a admiração que tenho pelo trabalho de alguns colegas. Que isenção terei, por exemplo, para falar do novo álbum do Dori, o Prosa e Papo (Biscoito Fino), que comemora os seus 80 anos trazendo parcerias com Paulinho Pinheiro (nove) e Roberto Didio (duas)? Difícil, né? Mas fazer o quê… seja o que Deus quiser.

São 11 faixas, oito inéditas. A produção é do contrabaixista Jorge Helder e todos os arranjos são de Dori, que escreveu no release: “Este disco começou influenciado pela cabeça do meu pai, pelas coisas que ele dizia pra gente e que ficaram na minha cabeça”. Beleza! Grande ideia! Melhor, impossível!

Vamos a algumas músicas. “Prosa e Papo” (Dori e Paulo César Pinheiro)* – participação do MPB4: o arranjo do nosso maestro Paulo Malaguti Pauleira nos pôs a cantar basicamente em uníssono. Dori elogiou o arranjo e, como costuma fazer, elogiou também o uníssono. Orgulhosos, dividimos o canto com ele, restando-nos um baita orgulho. Instrumentistas presentes nesta faixa: Dori – violão, Itamar Assiere – piano, Jorge Helder – contrabaixo, Dirceu Leite e José Carlos Bigorna – flautas sol e dó, Jurim Moreira – bateria, e Marcelo Costa – percussão.

“Canto Sedutor” (Dori e Pinheiro) – Dori canta acompanhado por seu violão, pelo piano de Bill Cantos e pelo baixo elétrico de Jorge Helder. A fera reservou para si uma canção que soa à perfeição para sua voz incrivelmente bonita, com graves profusos, diferente de qualquer cantor que já tenhamos ouvido. Aliás, minto, se sua voz não é igual, é bem parecida com a de seu pai Dorival.

“Evoé, Nação!” (Dori e Roberto Didio) – participação especial de Joyce Moreno e Mônica Salmaso. O assovio de Tutty Moreno soa na intro. Joyce e Mônica entregam suas vozes para que Dori sinta-se amparado e brilhe com elas.

“Canto para Mercedes Sosa” (Dori e Didio) – participação especial de Renato Braz. O quarteto de violoncelos (Iura Ranevsky, Flávia Chagas, Claudia Grosso e Marcio Malard) inicia o arranjo. Renato Braz vem com tudo! Junto com os celos, seu canto é ainda mais incisivo. Dori aconchega a sua voz, para logo fazer vocalizes sob o canto de Renato. A homenagem a Mercedes Sosa é comovente.

“Chato” (Dori e Pinheiro) – participação especial de João Cavalcanti: Dori inicia cantando este samba com letra divertida. Capricha nas divisões e dá o protagonismo para Cavalcanti, um ótimo cantor! O intermezzo de trombone (Marlon Sete) dá ao arranjo um clima de baile.

“Canção Partida” (Dori e Pinheiro): um dos maiores atributos de Dori, além das suas composições e voz, é a técnica, a sonoridade de seu violão. E é com ele que a intro conta. O canto vem dolorido. Mas o violão de sete cordas de Julião Pinheiro e o cavaquinho de Ana Rabello dão a Dori o tempo para se comover. Que final de disco mais intenso. Viva Dori Caymmi!

 

AQUILES REIS ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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