Assim como se preocupava para que a mãe não ficasse sozinha – quando o casamento se desfez – tinha a mesma preocupação com o pai.
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Vinicius era uma personalidade tão rica, tão inesperada, que é impossível resumir minha experiência com ele em uma crônica.
Anos atrás, sua psicóloga recomendou à Eugênia comprar um cachorro para o Vini. Decidiram ir a um centro de adoção de animais. Chegando, havia um filhote de três meses, assustado, escondido debaixo de uma cadeira. Assim que viu o Vinão, ele saiu do esconderijo e foi se encontrar com ele. Foi o Jack que adotou o Vinão.
Outra cena de Vinão era nas nossas viagens. Recusava-se a conversar por vídeo com a mãe ou comigo. E explicava:
- Eu fico com alergia de saudades.
Assim como se preocupava para que a mãe não ficasse sozinha – quando o casamento se desfez – tinha a mesma preocupação com o pai. Cada sarau que fazíamos, cada rodada mais animada, ele saía um pouco da roda para telefonar ao pai e saber como estava.
Na cama do hospital, na última visita do pai, recomendou:
- Não se esqueça de jantar.
Houve uma cena hilária em um aniversário na casa de um amigo. Vinão segurava um violão. Uma moça chegou até ele e perguntou se ele tocava. E ele, na maior cara de pau:
- Toco, e muito bem.
- E canta?
- Também canto muito bem.
A bem da verdade, foi a pessoa mais desafinada que conheci. Resolvi meter meu bedelho na história:
- Vinão, você conhece tudo de música, mas não canta bem não.
E ele:
- Para mim, eu canto.
Ai expliquei para a moça que o Vinão era muito enrolão.
- Pois sabe que tenho quatro filhas, e sempre que pergunto qual é a mais bonita, ele diz que é aquela que está na sua frente.
A moça vira-se para ele:
- Então diga só para mim: quem é a mais bonita:
E o galanteador:
- É claro que é você!
A moça garantiu que ganhou seu dia.
Era um profundo conhecedor de todo tipo de cozinha, da japonesa à italiana e à mineira. De vez em quando, ia pegá-lo na Escola Panamericana de Artes, onde estudava fotografia. Queria ir a um restaurante onde tivesse um prato “rústico, porém sofisticado”.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)