Há 160 anos, em 1864, explodia a Guerra do Paraguai e um dos heróis do conflito, Gastón de Orléans (1842 – 1922), o célebre Conde D’Eu, tinha muito savoir-faire – uma das expressões mais frequentes no idioma francês, que significa, perícia, em tradução literal, mas, a rigor, é a habilidade de obter êxito, graças a um comportamento, maleável, enérgico e inteligente. Com notável savoir-faire,foi o grande vitorioso no confronto.
Um dos herdeiros do núcleo dinástico francês da Maison d’Orléans, ramo da Casa de Bourbon, casado com a Princesa Isabel de Bragança (1846 – 1921), A Redentora, e genro do Imperador do Brasil, Dom Pedro II (1825 – 1891), O Magnânimo, o Conde D’Eu foi extremamente hábil e estrategista, como Comandante-Chefe da Forças Imperiais do Brasil, contra o ditador paraguaio, Francisco Solano López (1827 – 1870).
O conflito que conhecemos como Guerra do Paraguai, teve início com o aprisionamento do vapor imperial Marquês de Olinda seguido da invasão à então Província do Mato Grosso, pelas tropas guaranis. O Brasil aliou-se, imediatamente, à Argentina e ao Uruguai, compondo a Tríplice Aliança, que perduraria até o final do enfrentamento, seis anos mais tarde, com a morte de Solano López, na localidade de Cerro Corá.
Foi o maior conflito bélico entre países americanos. O embate é denominado de Grande Guerra, pelo paraguaios, e de Guerra da Tríplice Aliança, por argentinos e uruguaios. As batalhas decisivas foram conduzidas justamente pelo Conde D’Eu, um Príncipe com formação militar, que, como Capitão da Cavalaria Espanhola, tornou-se herói na Primeira Guerra Hispano-Marroquina, travada de 1859 a 1860, ao Norte da nação africana, pelo controle da querida cidade de Tetuán, capital do Protetorado Espanhol no Marrocos de 1912 a 1956 – quando passou ao domínio da Coroa de Rabat.
A presença do Conde D’Eu na Península Ibérica deveu-se ao exílio da família após nova derrota da Corte Francesa, em 1848, para os republicanos parisienses. Conclui, lá, o curso de artilharia, integrando-se à Cavalaria Espanhola. Esposaria pouco depois a Princesa Isabel e terminaria por ter influência relevante sobre o Imperador. Foto do Conde D’Eu ilustra a coluna.
Ele emerge, na Guerra do Paraguai, juntamente com outros dois próceres nacionais – o Duque de Caxias, título de Luis Alves de Lima e Silva (1893 – 1880), natural da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, denominado o Marechal de Ferro, e o Almirante Tamandaré, título, por sua vez, do gaúcho Joaquim Marques Lisboa (1807 – 1897), O Velho Marinheiro, Comandante da Armada Imperial.
Esses três nomes marcaram indelevelmente o confronto contra o déspota de Assunção e, com o apoio de argentinos e uruguaios, conseguiram conter o expansionismo da antiga nação jesuítica formada por inúmeras tribos dos indígenas guaranis, que habitavam, igualmente, várias regiões brasileiras. Talvez pelas origens comuns dos povos primitivos, a imagem do ditador Solano López não é das piores em nenhum desses países. Ele é visto muitas vezes, sobretudo por seus compatriotas, como uma espécie de Dom Quixote sul-americano que teria se batido, em vão, pela criação da Pátria Grande – idealizada pelo venezuelano Simon Bolivar (1783 – 1830) e o argentino José de San Martín (1778 – 1850).
Como no poema “Don Quijote en el Paraguay”, do escritor assunceno Juan Emiliano O’Leary (1879 – 1969), jornalista e historiador, no qual imagina o personagem de Cervantes sendo morto na Guerra Grande, lutando ao lado dos paraguaios. Solano López é chamado também por O’Leary, para além de Quixote guarani, do Napoleão Bonaparte de Assunção.
Mas os principais heróis continuam sendo os líderes brasileiros que, como o inglês Wellington, vencedor do chefe corso, na belga Waterloo, triunfaram, em Cerro Corá, sobre o Napoleão guarani.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador